Júlia Fernandes

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Repórter

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Júlia Fernandes Repórter

Conheça startup gaúcha que fará a gestão de resíduos na COP30

A Igapó, residente do Tecnopuc, usa uma composteira automatizada para auxiliar empresas em metas de sustentabilidade
Conforme a pesquisa publicada pela Amcham Brasil em abril, 71% das empresas brasileiras adotam práticas ESG - sigla para Environmental, Social e Governance, ou Ambiental, Social e Governança. O termo, que surgiu em 2004, trata-se de uma iniciativa do Pacto Global da ONU e do Banco Mundial com a ideia de aplicar práticas voltadas a soluções ambientais, sociais e de governança nas grandes corporações ao redor do mundo. 
Conforme a pesquisa publicada pela Amcham Brasil em abril, 71% das empresas brasileiras adotam práticas ESG sigla para Environmental, Social e Governance, ou Ambiental, Social e Governança. O termo, que surgiu em 2004, trata-se de uma iniciativa do Pacto Global da ONU e do Banco Mundial com a ideia de aplicar práticas voltadas a soluções ambientais, sociais e de governança nas grandes corporações ao redor do mundo. 
Mais de 20 anos após o surgimento da sigla, pequenos, médios e grandes empreendimentos passaram a entender que não há mais a possibilidade de se desenvolver sem olhar para essas práticas. O cenário é confirmado com a pesquisa que contou com 687 respondentes. De acordo com a Amcham, os dados indicaram um crescimento de 24 pontos percentuais na curva de adoção de práticas de ESG em relação ao levantamento realizado em 2023.
O olhar para a adoção dessas práticas oportunizou o surgimento de novos negócios com foco na sustentabilidade. Entre eles, está a Igapó, startup residente do Tecnopuc, em Porto Alegre, que se coloca como uma agente de práticas ESG.
A principal proposta da Igapó é auxiliar grandes empresas a se tornarem mais sustentáveis, alcançando metas ambientais por meio de uma composteira automatizada para tratar resíduos orgânicos de forma eficiente, otimizada e econômica
A ideia da Igapó surgiu há três anos durante o mestrado de Artur Ferrari, um dos sócios da startup, que estava desenvolvendo uma solução para hidroponia - técnica de cultivo de plantas sem o uso de terra. O empreendedor procurava uma maneira de tratar resíduos para gerar biofertilizante e, como não encontrou nada no mercado, construiu uma composteira automatizada.
A composteira automatizada tem como objetivo auxiliar empresas em metas de sustentabilidade | TÂNIA MEINERZ/JC
A composteira automatizada tem como objetivo auxiliar empresas em metas de sustentabilidade TÂNIA MEINERZ/JC
“O Artur foi meu colega na escola. Ele saiu da empresa em que trabalhava e deu início à Igapó. Trabalhei muito tempo em startup, no mundo corporativo, e ficávamos trocando figurinha, ele com um olhar mais técnico, e eu dando algumas ideias mercadológicas”, comenta Andreas Buchholz, sócio do negócio. Após algum tempo, Artur entendeu que a composteira tinha um cunho mais abrangente do que a hidroponia. “Hoje, as pessoas ainda têm dificuldade de separar a casca de banana da latinha de refrigerante, quem dirá operar um sistema de hidroponia supercomplexo”, observa Andreas. 
Os empreendedores entenderam que, para ser algo aplicável em empresas, a tecnologia deveria ser acessível, para que qualquer um conseguisse operar a composteira. O equipamento idealizado pela Igapó permite a compostagem no próprio local de geração. Isso elimina a cadeia logística de descarte, que é outra poluente na indústria de descarte de resíduos, considerada quarta maior emissora de gás de efeito estufa. 
“A composteira não deixa cheiro e não faz barulho. Então, todos esses atributos permitem que consigamos estar no próprio local de geração, o que vai beneficiar financeiramente as discussões, além do meio ambiente”, explica o empreendedor. 
O equipamento foi desenvolvido para tratar qualquer tipo de resíduo orgânico de origem vegetal ou animal. Segundo Andreas, a compostagem é vista como uma equação que requer o equilíbrio entre matéria orgânica seca, como podas e folhas, e matéria orgânica úmida, formada por resto de alimentos. 
A capacidade específica de tratamento de resíduos depende do tamanho da composteira, que é construída a partir da necessidade de cada empresa que contrata os serviços da Igapó. A composteira localizada na central de resíduos da Pucrs pode tratar até 30 toneladas de resíduos úmidos por mês, totalizando até 36 toneladas de resíduos quando somados aos secos. A maior máquina já produzida pela Igapó está sendo concluída e tem como destino a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém em novembro
A composteira enviada para o evento terá capacidade para até 180 toneladas por mês. Para a Igapó, receber essa contratação é um reconhecimento significativo do trabalho que a empresa vem desenvolvendo há três anos. “É muito gratificante. Tanto eu, quanto o Artur nos dedicamos full time para isso. Acreditamos muito, não só no negócio, mas no que estamos contribuindo com o planeta a partir do nosso negócio. O evento também irá gerar uma visibilidade muito boa, e é bom estar envolvido nessas ações que debatem assuntos importantes”, declara Andreas, afirmando que, após o evento, o equipamento será doado para a cidade de Belém para manter o tratamento responsável dos resíduos orgânicos. 
Serviços como o oferecido pela Igapó destacam-se nesse momento em que empresas buscam novas tecnologias que oferecem desde soluções básicas a ações mais revolucionárias. O estudo da Amcham aponta que, das empresas praticantes, 45% estão em estágio inicial, enquanto 26% estão no estágio avançado na implementação de práticas ESG.  
Andreas ressalta que, para além das práticas de sustentabilidade, a composteira beneficia financeiramente as instituições ao eliminar a logística de descarte. Na Pucrs, por exemplo, a economia alcançada foi de quase 20%. “Governos, instituições em geral de diferentes segmentos que têm uma alta geração de volume, conseguem tratar o resíduo in loco resolvendo uma dor financeira, porque elas pagam caro para mandar isso longe”, reflete. 
O resíduo tratado pela Igapó é transformado em adubo, que pode ser reutilizado pelo próprio cliente, configurando a economia circular, ou pode virar uma nova receita. Clientes como a Pucrs, que possuem grandes áreas verdes, podem gerar uma economia direta e significativa ao produzir internamente o adubo que seria comprado para manutenção. 
Além de estar presente em instituições privadas, a startup firmou recentemente uma parceria com a prefeitura de Porto Alegre. Esta será a primeira instalação em um espaço público não controlado. De acordo com Andreas, o projeto servirá como uma prova de conceito para testar a operação em ambiente público. 
A Igapó está buscando empresas parceiras e patrocínios para viabilizar essas ações de sustentabilidade na Redenção. “Isso vai totalmente ao encontro do nosso objetivo, que é da destinação correta e ambientalmente responsável dos resíduos.”
A startup gaúcha fará a gestão de resíduos na COP30 | TÂNIA MEINERZ/JC
A startup gaúcha fará a gestão de resíduos na COP30 TÂNIA MEINERZ/JC