A popularização da Inteligência Artificial (IA) trouxe muitos questionamentos, dúvidas, receios, além de dividir opiniões. Há aqueles que aprovam o uso dessa tecnologia, cada vez mais presente na rotina da população, e os que a desaprovam. Mas o fato é que as IAs já são uma realidade, inseridas em diferentes espaços, tanto da vida profissional quanto da vida social. Na área da saúde e bem-estar, as novas tecnologias possibilitaram a criação de ferramentas que prestam suporte, tanto para profissionais da área quanto para pacientes, tornando os processos mais simples e organizados. Entre muitos exemplos, destaca-se a EdukaLuz, uma startup que oferece um ecossistema com soluções integradas para o cuidado com idosos, conectando tecnologia, educação e serviços especializados.
Criada em 2023 pelo casal de sócios Luciana Copetti e Marcelo Luz, a plataforma tem como objetivo principal melhorar a comunicação entre cuidadores de idosos e seus familiares. Formada pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da Pucrs, graduanda em Tecnólogo em Gerontologia e pós-graduanda em Saúde do Idoso, Luciana é cuidadora de idosos há 14 anos. Já seu marido e sócio, Marcelo, é formado em Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Governança e Estratégia em TI pela Pucrs, com mais de 20 anos de carreira na área da tecnologia.
O casal de empreendedores resolveu unir talentos distintos em um único negócio e, há dois anos, lançou o primeiro produto da EdukaLuz, o e-book para cuidadores e familiares em busca de mais conhecimento sobre os cuidados com idosos. "Esse e-book, para a nossa surpresa, ficou famoso. Vendemos bastante, cerca de 1,5 mil vendas, e percebemos que havia muita demanda. Em março de 2024, o Marcelo me encorajou a gravar um curso para o mesmo público", conta Luciana.
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Além da experiência do casal, Luciana vivenciou, como familiar, dificuldades que inspiraram a criação de novas soluções. "Minha mãe passou por três clínicas geriátricas, e eu observava algumas falhas. Como filha, já cuidadora há anos, percebia essa falha na comunicação entre familiares, cuidadores, clínicas e residências geriátricas. Como tinha tempo, ia todos os dias na clínica ver minha mãe, só que tem pessoas que não têm essa disponibilidade", explica.
Dessa vivência nasceu o Sistema TLC - Diário Digital da Pessoa Idosa, uma solução com Inteligência Artificial voltada para instituições de longa permanência para idosos (ILPI), oferecendo registro seguro de atividades, medicações e promovendo transparência para as famílias. Segundo Marcelo, responsável pelo desenvolvimento, o objetivo é substituir o tradicional "caderninho". "Geralmente, idosos têm em casa ou nos próprios residenciais um caderninho onde o cuidador anota a rotina dele. A hora em que acordou, tomou banho, café, almoçou, tomou os remédios, questões comportamentais, enfim, tudo que aconteceu com ele", detalha.
O sistema permite anotações soltas ao longo do dia, que são organizadas em um relatório com observações enviado aos familiares.
"Através da IA, compilamos informações e as entregamos de forma organizada e humanizada. A partir dessa tecnologia, conseguimos manter todo o histórico da pessoa. Além disso, o sistema permite que cuidadores e clínicas solicitem itens, como fraldas e medicamentos, de forma antecipada", afirma Marcelo. O TLC é oferecido em modelo SaaS (Software as a Service), hospedado na nuvem, com assinatura mensal ou anual. "A ILPI nos paga e a gente faz toda a instalação e setup. É simples, prático", acrescenta. Outra frente de inovação da startup é a criação da assistente virtual de IA Fabiana, desenvolvida para o WhatsApp. "Escolhemos a plataforma do WhatsApp, pois é a ferramenta preferida do brasileiro, presente em 99% dos smartphones do País", diz Luciana. A Fabiana é uma assistente multimodal, treinada para reconhecer voz, texto, imagens e documentos, respondendo a dúvidas sobre saúde e bem-estar dos idosos. "Por exemplo, pode mandar uma imagem de uma caixa de remédio e a agente irá explicar para que serve, os efeitos colaterais, mas sempre ressaltando que é uma assistente virtual e não uma profissional da saúde. Ela tem uma base de dados e uma supermemória alimentada por nós", contextualiza Marcelo.
A Fabiana já está em fase de testes com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, e os sócios têm planos de expansão.
"Tudo que estamos desenvolvendo agrega muito valor. Principalmente naquela situação de emergência, quando surge um sintoma inesperado, como tontura, queda, pressão alta ou dúvida sobre interação medicamentosa", diz Luciana. Para Marcelo, a assistente também tem grande potencial no sistema público de saúde. "Imagina uma pessoa que mora no meio rural, afastada do sistema de saúde, que não vai ligar para um médico às três da manhã. Então, ela manda um áudio, e o agente interpreta. Se mandar uma receita manuscrita, ele reconhece. Isso entrega o poder da IA na mão dessas pessoas", pontua.
Luciana acrescenta que a assistente pode contribuir com a descentralização do cuidado, movimento que, segundo ela, vem se tornando comum. "Às vezes, a pessoa vai até o postinho pra tirar uma dúvida que não precisaria. E tem gente que nem tem como ir. A Fabiana pode ajudar a desafogar as UPAs, UBSs. Hoje, 80% das pessoas na emergência nem precisavam estar ali e a Fabiana pode tirar essa dúvida antes." Entre os serviços oferecidos pela startup, destaca-se ainda o Filha de Aluguel, voltado para idosos independentes que precisam de companhia para consultas médicas, sessões de fisioterapia ou mesmo para tomar um café. "É um serviço diferente do cuidador. Promove socialização, que é um dos pilares do envelhecimento saudável. A pessoa contrata por algumas horas e a gente acompanha o idoso na atividade que ele quiser", explica Marcelo.
Em reconhecimento ao impacto social e tecnológico, a EdukaLuz foi selecionada para o programa Startup Garage, do Tecnopuc, e participou de uma premiação importante na área. "Nós conquistamos o terceiro lugar, ganhamos três prêmios, sendo um deles o terceiro lugar geral, destaque em saúde e ainda fomos contemplados como a melhor startup de saúde, com um prêmio de R$ 5 mil", conta Luciana com entusiasmo.
A startup atua tanto no modelo B2B quanto B2C, oferecendo seus serviços a clínicas e também diretamente a familiares. Os planos de expansão incluem levar o agente virtual ao sistema público de saúde, ampliando o acesso à informação para populações vulneráveis.
"O poder da informação é fundamental. Com isso, as pessoas podem conversar melhor com os profissionais de saúde. A gente quer entregar valor real, especialmente para quem mais precisa", observa a empreendedora.
Os sócios já olham para o futuro, mas se alegram das conquistas dos últimos anos. "Temos a primeira agente de IA focada em cuidados com idosos. Fico até orgulhosa de dizer isso, porque, como sempre digo, é um público muitas vezes esquecido", completa.

