Foi em 1975 que Adão Pereira da Silva abriu as portas de uma pequena loja de relógios em Campo Bom. Em 2025, a Tri-Joia segue de portas abertas e é comandada por William Silva, neto de Adão e atual CEO da ótica que, no ano passado, registrou faturamento de R$ 17 milhões. Hoje, a rede conta com seis lojas físicas no Vale do Sinos e Paranhana, além de uma operação digital que atende todo País. O mercado nacional, aliás, está no norte do negócio familiar, que, através da parceria com a XR Advisor - holding de investimentos focada em governança - pretende ampliar as fronteiras de atuação.
Terceira geração à frente do negócio, William conta com orgulho a trajetória do avô e as transformações do negócio ao longo dos últimos 50 anos. "Meu avô chamava-se Adão Pereira da Silva, mas todo mundo conhecia ele como Adão Tri-Joia de tanto que ele vinculava a marca a ele. As pessoas falam de personal branding hoje em dia, e talvez meu avô tenha sido o primeiro cara a trazer isso lá nos anos 1970", acredita William. Adão começou o negócio vendendo relógios nas portas das fábricas da região. "Em 1975, foi quando se configurou a nossa inauguração. Ele conseguiu um cubículo de 2mx2m e começou a vender relógios nessa loja", relata o CEO. Na década seguinte, a Tri-Joia incorporou a venda de joias, e, nos anos 1990, tornou-se também ótica.
O nome do negócio, que para os gaúchos parece tão familiar, não faz referência às tradicionais gírias do Estado. "O nome Tri-Joia, por incrível que pareça, não tem ligação com ‘tri legal’, como muitos clientes de fora do Rio Grande do Sul acreditam. E também não tem ligação com joia. Meu avô era um cara muito carismático e engraçado. Na época, tinha empresa chamada Bi Joia, e ele falou ‘vou ser melhor que a Bi Joia, vou ser Tri-Joia’", conta William, que entrou no negócio em 2006 e se tornou sócio da operação em 2010. "Estou completando 18 anos entre intraempreender e empreender; sou empresário desde 2010, quando comprei a loja do meu avô. Desde então, comecei a ir para outro lado. Percebi que tínhamos muito fluxo, mas não faturávamos. O nosso ticket era muito baixo. Em 2010, começamos a ter uma percepção de que o crédito ficou muito mais fácil no Brasil. Percebi que o meu cliente comprava os óculos na parcela de acordo com o que ele podia pagar por mês. Então, pensei que se vendesse óculos em 10 vezes de R$ 50,00, será que não poderia aumentar o ticket de venda ao invés de fazer quatro vezes de R$ 50,00? Foi algo que testei e validei, trouxe outras marcas e outros produtos", lembra o CEO sobre as mudanças que trouxe para o negócio.
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Desafios da expansão em negócios familiares
Outra estratégia para aumentar o ticket médio das vendas foi agregar marcas diferentes e pouco difundidas na região. "Começamos a usar o marketing para trazer um desejo de consumo reprimido na região. Por aqui, não tinha nada de marca. Nosso cliente tinha que ir a Porto Alegre para comprar. Trouxe isso na época e foi bastante disruptivo para a minha família", afirma William que, no mesmo período, enfrentou as críticas de seu pai e seu avô. "Fui na minha primeira feira como empresário e meu pai e meu avô me acompanharam. Comecei a olhar essas marcas legais, queria colocar produtos de ticket diferente. E o meu avô falou que se eu continuasse com um delírio de grandeza, ia quebrar tudo que eles tinham construído. Até brinco nas minhas palestras que quebrei aquele negócio para fazer algo diferente. De lá para cá, foi o combustível que precisava para implementar o que acreditava. Desde então, crescemos 25 vezes o nosso negócio e chegamos onde estamos hoje: preparando o nosso modelo para uma expansão nacional", orgulha-se.
O empreendedor avalia que mudar a lógica de uma empresa familiar é um movimento desafiador. Por isso, buscou ajuda externa para conseguir ampliar as metas do negócio. "Foi uma decisão tomada errando muito e entendendo que, sozinho, não chegaria nos próximos níveis. O negócio tem um nível de complexidade que se você não trouxer parceiros, sócios, pessoas para te complementar, é muito desafiador para crescer, mas ao mesmo tempo você não pode voltar. Começamos a falar sobre ter um nível mínimo de governança. Eu nem conhecia essas palavras, mas na nossa cabeça precisávamos deixar de ser um comércio para ser uma empresa", pondera. Foi nesta perspectiva que a Tri-Joia tornou-se uma das 24 empresas do País que receberam investimento da XR Advisor. "O Will tem um perfil visionário. E, na maioria das empresas de middle-market, existe um desconhecimento de que precisa de uma estrutura de governança para que você consiga efetivamente crescer", pontua Lucas Costa, sócio da XR Advisor.
Um dos maiores desafios apontados por William no projeto de crescimento da Tri-Joia é o formato que o mercado ótico tem operado a nível mundial. Hoje, conforme afirma o CEO da Tri-Joia, grandes bandeiras têm levado a extinção de operações menores. "Hoje, o mercado ótico é monopolizado. Existem duas ou três gigantes que monopolizam 70% do mercado mundial, e essas grandes fabricantes estão comprando grandes redes. O que vai acontecer com a ótica do bairro, de família: ela vai sumir", alerta o CEO. "Existe essa prática expansionista de monopolização do mercado. E acreditamos muito que, especialmente essas empresas familiares, quando tem um líder que é disruptivo à frente, conseguimos dar uma roupagem de governança equivalente a essas grandes do mercado e, com a visão de quem está ali, potencializamos ainda mais esse crescimento", completa Lucas.
Ainda em fase de elaboração, o projeto de crescimento da Tri-Joia acontecerá por meio de franquias, mas de uma forma diferente, garante William. "Franquear algo que todo mundo já conhece é fácil, não é um diferencial. O nosso modelo de expansão está ligado a ‘atualizar o software’ das óticas. Fazer dos nossos, hoje, concorrentes, parceiros de negócio para nos unirmos contra um mal comum. O mercado ótico está indo para isso: ou você vai ser engolido pelas grandes franqueadoras ou você tende a não ter mais competividade. Se você quer continuar competitivo, vai ter que fazer algo. E a nossa proposta de expansão é essa: nós sermos essa bandeira, sermos esse ecossistema fazendo com que a gente consiga fazer frente às grandes redes, mas mantendo a essência de um negócio familiar", revela William.

William Silva é CEO da Tri-Joia
Rafa Pires/Divulgação/JC
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Hoje, a Tri-Joia conta com seis operações físicas em Campo Bom, Novo Hamburgo, Sapiranga, Nova Hartz, Parobé e Igrejinha, além de um braço digital com foco nacional. O faturamento de R$ 17 milhões em 2024 é, para o William, motivo de orgulho. "No mercado ótico, a imensa maioria fatura perto de R$ 100 mil ao mês, buscando chegar em R$ 1,2 milhão ao ano. E a nossa operação de inside sales, que vende basicamente pelo WhastApp, fatura R$ 1,5 milhão. Só essa operação fatura mais que 90% do mercado tradicional. Fechamos 2024 na casa dos R$ 17 milhões de faturamento, que é um número bastante considerável para a nossa área de atuação. Nova Hartz, por exemplo, tem 19 mil habitantes, são cidades pequenas", considera o CEO.
Apesar dos números positivos, para 2025, a meta está em outra ponta. "O nosso foco nesse ano não está tão em cima de números no que tange faturamento, e sim em estruturação de governança. A gente deve ter um faturamento na casa de 18 milhões no modelo atual, que são as loja Tri-Joia, e vamos avançar com um novo modelo de negócio", projeta.