* Vinícius é professor e Arquivista e apresennta uma série sobre os bairros de Porto Alegre no @cartaotri e no seu Instagram @bahguri.rs
Há 34 anos na Restinga, Armarinho Gaúcho tem mais de 45 mil itens
O negócio acompanhou o crescimento do bairro e prepara novidades para o futuro
Atuando desde muito cedo no setor comercial, Ronaldo descobriu uma aptidão para a venda enquanto trabalhava em um pequeno bazar no bairro Cavalhada em Porto Alegre. Sempre interessado pelo empreendedorismo e sabendo da aptidão que tinha, Ronaldo decidiu sair do antigo emprego para abrir um pequeno depósito na garagem de casa. Ele comprava produtos de São Paulo e revendia para botecos e mercadinhos de bairro. "Meu pai começou assim, ele pegava essas coisas mais simples, que têm em qualquer mercadinho, para servir de suprimento para esses bares. Só que o negócio cresceu e ele recebeu a proposta de alugar um prédio na Restinga, que, na época, era um bairro bem desvalorizado, não tinha nem poste de luz direito, e aí ele e minha mãe foram e apostaram tudo nisso", explica Jhonata.
O Armarinho Gaúcho vende cerca de 45 mil itens e aceita sugestões dos clientes, tanto de produtos quanto de novidades para as redes sociais. "Desde o início, temos um caderninho das novidades, e aí o pessoal chega e nos fala as coisas que estão bombando no Instagram, no TikTok, e a gente vai fazendo. É legal porque a comunidade continua ajudando no crescimento da loja", comenta Jhonatan, que começou a trabalhar no negócio aos 16 anos, e passou por todas as funções. "Meu pai me botou no estoque no início, ele sempre me disse que se eu quero assumir uma posição de líder, preciso passar por todas as funções", diz.
Atualmente, o Armarinho Gaúcho possui duas unidades, uma na Restinga e outra na Hípica, e ambas são tocadas por Jhonata e sua mãe. O empreendedor afirma que a loja no bairro Restinga está passando por mudanças, e que algumas novidades estão sendo desenvolvidas por ele.
"Apesar de não morar mais lá, faço questão de dizer de onde eu vim. Fico feliz de ver o crescimento do bairro. Ainda tem muita coisa para melhorar, mas os moradores ajudam muito nisso e é bom ver que muitos negócios conseguem vingar e se sustentar apenas com o público do bairro, que, acredito, vai crescer ainda mais", afirma.
Escola de futebol da Restinga já formou talentos da dupla Grenal
O negócio surgiu em 2012 e busca impactar crianças e adolescentes através do esporte
O negócio surgiu em 2012, quando Flávio foi convidado pelo proprietário das quadras para dar aulas de futebol no local. "Comecei com três crianças. Hoje já temos mais de 150 crianças e adolescentes aqui", destaca o empreendedor, que agora comanda o espaço ao lado da esposa Darlane Teixeira, também educadora física.
A escola, de acordo com o casal, foi uma das primeiras em Porto Alegre a oferecer aulas de futebol para crianças de três anos, modalidade chamada de baby foot. "Recebemos muitas crianças pequenas aqui, até de um ano e meio, eles têm muita energia para gastar, mal começam a andar e os pais já querem trazer aqui", conta Flávio, com um sorriso no rosto. Além dos pequenos, que tem hora marcada no sábado de manhã, crianças de 7 a 9 anos enchem as quadras nas quintas-feiras e nos sábados, e jovens de nove a 17, nas terças e quintas.
Um dos diferenciais do negócio, de acordo com os sócios, é a preocupação que a escola tem com os estudos dos alunos e alunas. "Fazemos acompanhamento com a escola, os professores recebem os boletins duas vezes por ano e, se as notas estão muito ruins, conversamos com os pais, damos a opção de afastar por um tempo para focar nos estudos, que é o que a maioria acaba fazendo, porque o futebol é a diversão deles, então saem por um tempo mas sempre voltam", afirma Flávio.
A GB conta com quatro professores formados em Educação Física em sua equipe, além de três estagiários e dois ex-atletas que, por terem interesse na área esportiva, ajudam no dia a dia do negócio. "Temos convênio com o Grêmio, e vários alunos vão fazendo os testes dos 8 aos 17 anos, mas aqueles que passam dessa idade e têm vontade de continuar atuando na área, que desejam cursar Educação Física, damos a oportunidade de ajudar aqui e ganhar experiência nas aulas", explica Flávio.
Uma das características principais da escola, segundo Darlane, é ser um espaço familiar, o que ela também acredita fazer parte da essência da Restinga. "As mães vêm junto e assistem os treinos, principalmente as dos menores, vira quase um clube de mães aqui, elas trazem chá, bolo, café", expõe a empreendedora.
Participando de vários campeonatos, a escola foi campeã estadual pelo sub 17 na Copa Sortica em 2021, e teve quatro times classificados para a competição deste ano. "O coração está acelerado aqui, torcendo muito para, em breve, ter mais uma estrelinha na nossa bandeira", admite Darlane.
Na Restinga, casal comanda loja de moda plus size com grade de tamanhos do 48 até o 78
O espaço, segundo os empreendedores, oferece a maior grade de tamanhos da Zona Sul
Luiza, que conta com a ajuda do filho Bruno Passuello, 25, no negócio, lembra que o início da operação, que celebra 15 anos de portas abertas, foi no segmento de cama, mesa e banho. Como o ponto era grande, a empreendedora agregou algumas poucas peças de roupa plus size no comércio, mas logo percebeu que esse seria o seu diferencial. "Trazia roupa até o tamanho 50. Sempre uma cliente pedia um tamanho maior, e assim fui aumentando a grade e diminuindo a roupa de cama, porque vi que não tinha tanta saída. Em uma comunidade, primeiro tu tens que investir na roupa para sair, passear, e a roupa de cama é mais secundária, não girava muito", conta.
Segundo ela, a abordagem do comércio mudou com a chegada de Roberto. "Eu era muito tímida. Mas conheci o Roberto e ele tem outra visão de negócio. Eu tinha uma caixa de som guardada, ele pegou, levou para frente e ficou anunciando a loja", diverte-se Luiza, contando que a pandemia foi um ponto de virada para o negócio. "Quando começou, fizemos um curso de marketing digital para vender no Instagram. Eu tinha muita vergonha, mas entendi que precisava chamar atenção. A ideia do Roberto foi fazer vídeos que mexessem com a memória afetiva das pessoas. Então, nos vestimos de Chiquinha e Chaves, Chacrinha e Chacrete. As clientes comentam. Estabelecemos uma relação com elas e isso fez a loja crescer muito na pandemia, triplicamos o faturamento", revela Luiza sobre a estratégia.
Um dos desafios, segundo o casal, está na baixa autoestima dos moradores em relação à região. Eles contam que é comum, aos fins de semana, que os moradores façam compras ou frequentem restaurantes em outros pontos da cidade. "Tudo se dá pela formação da Restinga. A primeira higienização social aconteceu quando trouxeram o pessoal da Ilhota e de vários bairros do Centro, para poder expandir, e largaram as pessoas aqui. Eles não tinham como se locomover, não tinha ônibus para o centro, ainda não existiam esses conjuntos habitacionais. A Restinga se formou já com uma autoestima muito baixa", percebe Luiza, destacando que reverter esse cenário é objetivo presente na rotina de quem empreende por lá. "O grande desafio é trazer gente de fora para a Restinga e, mais ainda, convencer muitos moradores de que não precisam sair do bairro. As pessoas têm baixa autoestima, e nós estamos tentando mudar isso para que elas consumam no bairro e para trazer gente de onde for, porque somos muito legais", garante.
Empreendedora comanda ferragem cor-de-rosa na Restinga desde 2017
Objetivo do negócio é seguir mudando a visão que os próprios moradores tinham sobre a região, que era conhecida por ser perigosa
Já com vontade de deixar a área da saúde, a empreendedora percebeu a grande quantidade de prédios sendo construídos perto da sua casa, e a distância que o local tinha das ferragens mais próximas. Pensando nisso, comprou o terreno de 9 m² de seu vizinho, que acabava de se mudar, e abriu o seu negócio. Com uma fachada toda cor-de-rosa, o negócio trabalha para mudar a visão que moradores tinham sobre o ponto, conhecido pela falta de segurança.
"Era chamado de 'cantão', diziam que era perigoso, então não tinha nada. Pensei que poderia aproveitar para abrir uma ferragem, já que não tinha nenhuma por aqui, e também mudar essa visão", conta Vanessa. Desde então, a empreendedora se empenhou para melhorar a rua, e contou com o apoio dos vizinhos para isso. "Na esquina era um ponto de lixão, nos reunimos e tiramos tudo de lá. Comecei a plantar ali e acabei com o lixo, que foi para o meio do campinho, até que a prefeitura colocou um tonel, ajudou muito", conta a empreendedora, que também doou tinta para a pintura das calçadas. "Mudamos o 'cantão', como era chamado. Hoje, as pessoas não têm mais medo de vir aqui", percebe.
A empreendedora também produz vídeos educativos para o Instagram (@ferragem_outono), com dicas de instalação e manutenção de produtos, e ressalta que aprendeu tudo na prática. "Os fornecedores vinham aqui me oferecer os produtos e eu dizia que até comprava, mas eles precisavam me explicar para que servia, e fui aprendendo assim", compartilha.
Vanessa conta com a ajuda do sobrinho, que também trabalha na loja, mas, para o ano que vem, pretende contratar mais uma pessoa. "Quero dar oportunidade para um adolescente, de preferência uma mulher, ganhar experiência no mercado de trabalho, sem exigência de já ter trabalhado antes", diz. A ferragem opera de segunda-feira a sábado, das 9h ao meio-dia e das 14h às 19h, e aos domingos das 9h30min às 13h.
Empreendedor aposta em bar com boliche em novo shopping da Restinga
A proposta é trazer um ambiente de entretenimento para a região
A ideia de abrir um restaurante no bairro surgiu depois de uma análise comercial e conversas com os moradores. "Notei essa necessidade, de ter um local para as pessoas se encontrarem, não só pela questão do almoço, que do ponto de vista de negócios é mais complicado, mas também pelo entretenimento, que acaba dando um retorno melhor, consequentemente", explica o empreendedor. Outro ponto que facilitou a escolha do negócio foi a localização e a segurança do Center Kan. "Tomei a decisão de fazer algo realmente diferenciado, tomando cuidado para que as pessoas não vejam como algo inacessível do ponto de vista do preço e do local", diz Francinei, que espera que o negócio ajude a trazer público para a região.
Com a proposta de ser um ambiente de encontro e entretenimento, o restaurante, que opera no horário de almoço, funcionará como bar à noite, tendo uma pista de boliche e um cardápio com petiscos e drinks. "A Restinga é bem parecida com Viamão. Tem um reconhecimento por parte dos moradores que acessam, muitas pessoas nos falam que faltava um lugar desse tipo, o próprio boliche, até por isso que optei por colocar a pista aqui", comenta o empreendedor, garantindo que a maioria dos clientes são moradores do bairro.
"Quando eu comecei a tratar sobre abrir o negócio nesse ponto, fui conhecer um pessoal de Alvorada que tem boliche por lá. Um dia, fui até lá de noite para conhecer a operação. Na hora de ir embora, eu estava comentando com a minha noiva que o negócio poderia dar certo, mas que eu não tinha dinheiro para investir. Na mesma noite, um ônibus bateu na minha camionete, e aí eu vi que meu problema estava resolvido, porque se desse perda total, eu usava o dinheiro para fazer o negócio, e foi o que aconteceu", explica o empreendedor, que agora leva essa situação como uma lição de que a operação estava realmente destinada a acontecer.
O investimento no negócio foi de R$ 300 mil e a previsão de retorno é de dois anos. Atualmente, o restaurante funciona de segunda a sexta-feira, das 11h30min às 14h30min e nos fins de semana das 11h30min às 15h. Francinei tem boas expectativas para a Restinga. Para ele, o lugar tende a crescer ainda mais com os novos investimentos em infraestrutura na região.
Pai e filha consolidam floricultura presente na Restinga há 30 anos
Além das plantas, a Dois Irmãos vende os acessórios e insumos necessários para o plantio das plantas
Formada em administração, a empreendedora aprendeu a arte de cuidar das plantas com o pai desde criança. "Meu pai trabalhou na floricultura até 2009, quando decidiu se mudar para um sítio em Viamão, porque não queria mais trabalhar com o público. Então o espaço ficou fechado, porque na época eu trabalhava e estudava fora do bairro, mas sempre tive aquela vontade de empreender. Um dia, parei e olhei esse espaço fechado, se deteriorando, e decidi reabrir", conta.
Trabalhando sozinha, Kelly sabe de cor todas as etapas do negócio. "As pessoas até querem cuidar de plantas, mas não querem estar suadas, sujas de terra. Nessa área, nunca fiz cursos. Tudo que eu sei, foi vendo meus pais fazendo e ajudando. Hoje, procuro bastante informação na internet ou com o meu pai, ele sabe muito sobre plantas", orgulha-se.
Morando do lado da operação, ela conta que estar tão perto do trabalho é um ponto positivo. "Tenho tempo para cuidar dos meus pets, que eu adoto da rua, e é uma delícia, tem sempre muitos passarinhos. Claro que nós temos dificuldades como todo empreendedor. Não existe uma base de dinheiro a receber por mês, tem tempo que é muito ruim. No nosso caso, depende muito do clima, se é muito chuvoso, quem vai comprar planta no frio? Elas não crescem, é mais difícil de cuidar. E nos 40°C em janeiro e fevereiro? Está todo mundo na praia. É um trabalho que precisa se programar, fazer reservas", afirma.
Linomar ainda trabalha com plantas em seu sítio em Viamão e, com ajuda do marido de Kelly, ele cuida das maiores que estão disponíveis na floricultura. "Aqui no bairro, nós, empreendedores, temos uma troca muito grande. Acredito que a renda precisa girar aqui dentro. Estamos num lugar muito distante do centro e não tem por que sair para comprar se nós temos tudo aqui. 95% dos meu clientes são do bairro e a floricultura não é tão conhecida. Pelo menos uma vez por semana vem alguém dizendo que nunca tinha vindo aqui, isso acontece porque muitas pessoas trabalham e vivem fora da Restinga", explica.
De acordo com Kelly, a maior parte dos seus clientes são pessoas da terceira idade, que gostam de ir até lá não só pelas plantas, mas também para conversar. O espaço funciona de segunda a sábado, das 9h às 12h e das 13h30min às 18h.
"Essa troca é muito boa. O que mais compram aqui na Restinga são pés de árvores frutíferas e plantinhas com flores. Os preços delas variam de R$ 2,00 até R$ 850,00", aponta. Estão disponíveis na loja, além de plantinhas de todos os tipos, como palmeiras e suculentas, adubos variados, vasos de polietileno, de plástico, de barro e até autoirrigantes e produtos antipragas. "Sempre explico para os clientes que as plantas são alimentadas com adubo diariamente, elas precisam disso", ensina.
Empreendedora fideliza clientes em salão da Restinga há 15 anos
Há um ano em novo ponto, o espaço oferece diversos serviços relacionados à estética
A trajetória no empreendedorismo surgiu a partir do gosto pela estética. Virgínia, que trabalhava na parte administrativa do Jornal do Comércio no fim dos anos 1990, decidiu, em 2001, dedicar-se a uma antiga paixão. "Sempre gostei muito de mexer com cabelo. Dançava em CTG, então penteava as meninas. Em 2001, fiz um curso no Senac e depois fui trabalhar em um salão, onde fiquei por seis anos e até abrir o meu empreendimento. Comecei na área de cabelo, mas aprendi a fazer pé e mão, fui aprendendo de tudo um pouco para poder ter um lucro melhor", lembra.
A empreendedora encontrou na fidelidade da clientela o norte para seguir operando. "Tem pessoa que me acompanha há quase 20 anos", celebra. Para ela, empreender na Restinga é sinônimo de acolhimento. No entanto, Virginia afirma que não são todos os moradores que pensam desta forma.
"Hoje, não tem necessidade de sair da Restinga, tem tudo que precisa aqui dentro. Nós tentamos conscientizar as pessoas, fazer o melhor para as pessoas saberem que não precisam sair daqui para ter qualidade", diz. Virginia. "Empreender na Restinga é maravilhoso, as pessoas estão sempre nos apoiando, sempre prestigiando", afirma.