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09 de Outubro de 2025 às 00:25
Tecnologia
Dener Pedro, Júlia Fernandes
GE
Tecnologia
Guilherme Gehlen e Cássio Trindade comandam a Hortti, startup que elaborou a plataforma oficial da Ceasa de Porto Alegre Foto: TÂNIA MEINERZ/JC
Dener Pedro Estagiário do GeraçãoE
Dener Pedro
Estagiário do GeraçãoE
Júlia Fernandes Repórter
Júlia Fernandes
Repórter
Startups gaúchas desenvolvem soluções tecnológicas para o setor de alimentos
As iniciativas buscam otimizar processos e gerar economia para empresas do segmento
Nos últimos anos, Porto Alegre recebeu muitos novos empreendimentos no setor de gastronomia. De filiais a marcas próprias, a cidade ganhou opções diferenciadas. Apesar das novidades, muitos desses lugares seguem com processos internos desatualizados, custosos e demorados. Pensando em gerar economia e otimização, startups locais conseguem oferecer soluções através da tecnologia.
Nos últimos anos, Porto Alegre recebeu muitos novos empreendimentos no setor de gastronomia. De filiais a marcas próprias, a cidade ganhou opções diferenciadas. Apesar das novidades, muitos desses lugares seguem com processos internos desatualizados, custosos e demorados. Pensando em gerar economia e otimização, startups locais conseguem oferecer soluções através da tecnologia.
A Hortti, startup que otimiza o processo de compras e distribuição de hortifrútis, nasceu há três anos com o propósito de facilitar a comunicação entre produtores rurais, varejistas e restaurantes, além de minimizar o desperdício, que é consequência da falta de diálogo entre quem produz e quem compra alimentos. No próximo mês, a Hortti inaugura a plataforma digital oficial da Ceasa de Porto Alegre. Guilherme Gehlen é fundador da Hortti e, há 20 anos, está dentro da Ceasa comandando um negócio da família. Reconhecendo as dores de muitos produtores, ele viu uma oportunidade de negócio. Ao lado de seu sócio, Cássio Trindade, os dois empreendedores visam transformar o segmento, buscando soluções através de IA para falta de padrão dos alimentos, para a comunicação e para o desperdício, que chega a 40% no setor.
“A Ceasa tem mais de 50 anos, e vejo as pessoas operando da mesma maneira há 50 anos. Existe uma falta de sucessão familiar, porque muitos filhos não querem seguir com os negócios dos pais, não porque desacreditaram, mas porque não querem para si aquela realidade difícil que os pais passaram”, observa Guilherme. O mercado hortifrúti, segundo ele, é como a bolsa de valores, devido à intensa oferta e demanda, fazendo com que os preços flutuem violentamente ao longo do dia ou da semana. “A caixa de tomate pode custar R$ 50,00 pela manhã e, ao fim da tarde, estar a R$ 180,00”, exemplifica.
Um dos grandes desafios do setor é a falta de padronização dos produtos, que varia devido à condição do tempo e à temperatura, fazendo com que o valor do alimento mude constantemente. A maior parte da perda dos produtos decorre da exigência de um padrão alto imposto pelos supermercados, geralmente focado unicamente na aparência. “Por exemplo, o tomate deve ter entre 66 mm e 70 mm, e as cenouras devem seguir um padrão uniforme para não serem devolvidas”, explica Guilherme. Quando o produto chega no destino e não está conforme as exigências do comprador, essa carga precisa retornar. “Quando um grande comprador devolve a mercadoria por não atender ao padrão, o produtor, muitas vezes, não consegue realocá-la rapidamente, gerando prejuízo”, destaca Guilherme, afirmando que, devido à quantidade e à logística, muitas vezes, os itens não podem nem ser destinados ao banco de alimentos, acarretando muito desperdício.
A plataforma da Hortti busca diminuir o desperdício alocando uma grande entrega rejeitada - que seria um prejuízo total - em 100 pedidos fracionados para restaurantes. De acordo com Guilherme, um dos maiores gargalos do mercado hoje é a logística. Caminhões grandes costumam rodar vazios, pois a otimização de rotas é complexa. No aspecto financeiro, os produtores enfrentam problemas com grandes atacadistas que pagam em longos prazos, como 100 dias, e podem descontar valores expressivos do preço da mercadoria tardiamente, alegando problemas de qualidade, sem comunicar isso no momento do recebimento.
A digitalização da Ceasa é um desafio que outras empresas já tentaram resolver, mas sem êxito, aponta o empreendedor, explicando que o timing é um fator importante para a solução ser efetiva. “No mês passado, fomos anunciados como a plataforma oficial da Ceasa de Porto Alegre. É uma grande conquista, além de nos dar acesso a milhares de produtores e centenas de atacadistas”, afirma Guilherme.
A principal estratégia da Hortti é a digitalização com baixa complexidade. A plataforma oferece uma vitrine digital - uma página padronizada para produtores ou atacadistas em menos de 30 segundos, funcionando como um catálogo digital. “O produtor simplesmente copia e cola a lista de produtos que já usa no WhatsApp”, resume o empreendedor.O sistema é integrado ao WhatsApp do produtor, recebendo pedidos através de links e evitando que ele precise mudar seu hábito ou fazer login na plataforma, facilitando a acessibilidade e o entendimento.
A Hortti garante qualidade e rastreabilidade dos alimentos, através de tecnologias avançadas, como espectrometria e blockchain. “Treinamos um modelo de Inteligência Artificial que conseguimos saber se um abacaxi está bonito por fora, mas podre por dentro. Ou quanto de agrotóxico tem em alface”, contextualiza. A plataforma possibilita uma conexão entre compradores (restaurantes, hospitais, mercados) e produtores. Segundo Guilherme, a Hortti consegue gerar uma economia de, no mínimo, 40% para quem compra. Além disso, a plataforma oferece serviços como antecipação de recebíveis e logística integrada, gerando renda extra através, por exemplo, do aproveitando caminhões que voltariam vazios das entregas.
IFood investe em serviço gaúcho de gestão de restaurantes
Após o aporte de um dos maiores players do mercado, a startup de São Leopoldo dobrou o número de colaboradores
Tecnologia
Bruno Tusset é um dos fundadores da Saipos, startup de São Leopoldo Foto: SAIPOS/DIVULGAÇÃO/JC
Localizada no Parque Tecnológico Tecnosinos, na Unisinos de São Leopoldo, a Saipos (@usesaipos) tem um dos principais sistemas operacionais de restaurantes do Brasil. Criada em 2017, a empresa surgiu da percepção de mercado dos fundadores, que já trabalhavam no ramo, com um marketplace de comida. Notando que vários negócios precisavam de uma ferramenta online que integrasse os pedidos do iFood com a operação, resolveram investir na ideia.
A ligação com o iFood, portanto, está presente desde o embrião da Saipos. “A gente conversava com eles há muito tempo, sempre com um ótimo relacionamento, muito aberto e franco. Nós temos culturas de negócio parecidas, então nunca houve um choque. São negócios éticos, que valorizam o trabalho e voltados para o empreendedor. E nós sempre prezamos pela consistência a longo prazo nesse namoro até fechar o investimento”, conta Bruno Tusset, um dos fundadores da startup, sobre o investimento feito pela maior empresa do mercado de delivery no País.
Num comunicado feito em abril, o iFood justificou o investimento como um movimento que amplia seu portfólio de produtos e serviços, integrando informações de múltiplos canais de pedidos para que os restaurantes entendam melhor seus clientes e possam otimizar a gestão da operação. “Fazia muito sentido juntar forças nesse cenário”, analisa Bruno.
O que muda com o aporte?
O investimento já começou a gerar impactos no dia a dia da Saipos. Com a expansão iminente, a equipe de trabalho dobrou em cinco meses. “Agora começa um processo maluco de aceleração. Saímos de 200 pessoas em março para 400 agora. A projeção é encerrar o ano com 500 pessoas e, para os próximos dois anos, mais de 1 mil. Entramos num ritmo diferente”, comenta Bruno, ratificando o desejo de permanecer em São Leopoldo. “Queremos continuar aqui. Estamos tendo um grande apoio do Tecnosinos, da prefeitura da cidade e vamos precisar de ajustes burocráticos também”, completa.
Um dos focos da expansão da Saipos é melhorar a eficiência do serviço prestado aos empreendedores. “O objetivo é entregar cada vez mais soluções, mais integrações e com mais qualidade, especialmente no nosso atendimento. A Saipos nasceu com o objetivo de dar tempo. Queremos facilitar o dia a dia dos empreendedores de restaurantes, porque sabemos que é caótico. Do balcão para dentro é insano o que essa galera faz. Esses caras são muito bons”, valoriza Bruno.
Mesmo com o investimento, Bruno afirma que o iFood não vai interferir nas decisões da empresa. “Em termos de gestão, direção e visão de negócio a Saipos é independente. Isso faz parte do processo do iFood, eles dão autonomia e espaço. E nosso objetivo é bastante parecido. Eles querem se aproximar do empreendedor e nos disseram: ‘vocês sabem fazer isso melhor do que nós. Vocês que fazem isso no dia a dia’”, relata.
Atendendo mais de 15 mil clientes, a projeção de futuro da Saipos é se firmar em todas as regiões do País como principal nome do setor. “Em pelo menos dois ou três anos não pretendemos internacionalizar, porque o mercado brasileiro é muito grande. Queremos nos consolidar como principal player do mercado. O investimento vai nos possibilitar tirar ideias do papel. Dar mais estabilidade para o sistema, entregar um atendimento de excelência”, projeta.
Como contratar a Saipos
Para saber mais informações sobre o serviço da Saipos e como contratá-la, acesse o site saipos.com/sistema/restaurante. Os valores do sistema partem de R$ 219,00, com funcionalidades que vão desde aplicativo para gestão de garçons até controle de estoque e emissão de cupom fiscal.
Plataforma para otimizar processo de compras
Criada em 2018, a Izza iniciou com a ideia de reduzir os custos e melhorar a gestão de compras
Tecnologia
Cleber Pinheiro, Guilherme Gonçalves e Robson Oliveira são sócios na startup gaúcha Izza Foto: JULIA FERNANDES/ESPECIAL/JC
Se organizar uma lista de compras para casa, buscando as melhores ofertas, já é um desafio, imagine listar as compras e procurar bons fornecedores para atender à demanda de um grande restaurante ou uma escola. Foi pensando nessa dor de grandes instituições e que surgiu a Izza, uma plataforma de gestão e compras inicialmente focada em escolas, lares de idosos e instituições filantrópicas.
A empresa, criada em 2018, iniciou com a ideia de reduzir os custos e melhorar a gestão de compras nas escolas e expandiu após um piloto-bem sucedido para restaurantes. A principal proposta de valor da Izza é atuar como um hub centralizado, facilitando a comparação de preços entre fornecedores e utilizando a ferramenta chamada "Economiza" para gerar inteligência de dados e proporcionar a maior economia possível para o comprador.
“A tecnologia deu vida ao Food Service. Cada vez mais, os restaurantes estão aderindo à inteligência com, por exemplo, sistemas de gestão para fazer o financeiro, para atendimento, cardápio digital. Um processo que é extremamente importante para o restaurante, que é o de compra, ainda é feito da mesma maneira há 100 anos”, observa Guilherme Gonçalves, CEO da startup e um dos sócios do negócio.
O sistema de gestão oferecido pela empresa é uma plataforma capaz de centralizar, otimizar e economizar no processo de compra, especialmente para o setor de Food Service, composto por restaurantes, bares e hotéis. Segundo os fundadores, a startup entrou no mercado com a ideia de ser um sistema de gestão e não apenas mais um vendedor. O objetivo do sistema é levar inteligência de dados para os clientes que atende.
Economia de tempo e dinheiro
A plataforma da Izza permite comprar os itens por quilo ou por unidade. Os produtos, separados por categorias, podem ser selecionados e automaticamente vão para o carrinho de compras. Ao finalizar a escolha dos itens, a plataforma mostra o valor total em diferentes fornecedores, apontando a opção mais econômica. A Izza também consegue cruzar os dados dos fornecedores, diminuindo ainda mais o valor total das compras, contando com mais de um fornecedor para fechar o pedido final.
“Você consegue otimizar, aumentar o potencial de economia, agendar o período em que quer receber a mercadoria, trabalhar com diferentes fornecedores, colocar as observações necessárias e realizar o pagamento, tudo na mesma plataforma. É um processo que, se o empreendedor fosse cotar um por um, levaria uma manhã inteira em uma planilha. Além da economia financeira, é uma economia de tempo, gerando um dinheiro novo de um processo velho”, explica Robson Oliveira, head de negócios comerciais e membro do quadro societário da startup.
Os sócios afirmam que, historicamente, o comprador demanda muito tempo para fazer cotações e, muitas vezes, perde o controle, limitando-se a apenas dois ou três fornecedores, sem saber se está tendo acesso ao melhor preço ou se está fazendo o melhor negócio.
Para além da economia financeira gerada através do cruzamento de informações dos fornecedores, os valores disponíveis na plataforma já são tabelas negociadas, às quais restaurantes pequenos normalmente não teriam acesso. De acordo com os empreendedores, a economia média varia de 10% a 35%, podendo chegar a 50% para restaurantes menores.
O sistema de gestão não apenas facilita a compra, mas também oferece ferramentas de controle e análise. Todas as informações ficam registradas, permitindo que o cliente acesse dashboards para verificar, por exemplo, quanto gastou em um período específico. Isso facilita o ajuste do CMV (Custo de Mercadoria Vendida). “Conseguimos manter a cadeia de fornecedores, caso algum não esteja na plataforma, não seja homologado. Ao mesmo tempo, conseguimos manter o dado de compras dentro do sistema, ficando disponível no dashboard do usuário com as informações”, menciona Guilherme. Dessa forma, rapidamente os clientes conseguem checar seus gastos, produtos mais recorrentes, onde está o maior custo, assim podendo ajustar futuros pedidos.
Outro braço do negócio
Para os fornecedores, a Izza se posiciona como um braço comercial. A plataforma oferece vários incentivos para atrair grandes players e distribuidores, como melhor preço e ausência de comissão. Esses fatores permitem que os fornecedores sejam atraídos para vender dentro da plataforma com o melhor preço possível.
A startup também oferece aos fornecedores uma base de restaurantes para que possam ofertar seus produtos diretamente. Isso garante capilaridade e permite que atendam clientes, mesmo pequenos, aos quais, por vezes, um representante de vendas não daria atenção ou tempo.
“Conseguimos mostrar para o fornecedor que, através do atendimento e mediação realizados por nós, ele vai conseguir alcançar muito mais clientes por meio da plataforma, porque através dela há um time comercial vendendo assinatura o dia todo, coisa que jamais um representante dele vai conseguir”, afirma Cleber Pinheiro, cofundador da empresa.
Futuro do negócio
O próximo passo do sistema é disponibilizar dashboards com informações de inteligência de mercado. O sistema será capaz de informar o comprador sobre a média de aumento de preços ou a queda de preço de um produto que ele utilize bastante. Essa inteligência permite ao comprador tomar decisões estratégicas, como aumentar o preço do prato para evitar prejuízo ou fazer uma promoção.
“Essas previsões permitem que as empresas se programem e realizem algumas ações ‘vou ter que aumentar o preço desse prato, porque senão eu vou ter prejuízo ou meu CMV não vai estar saudável’. Ou, em movimento ao contrário, ele pode perceber uma queda de um preço de um produto que ele utiliza bastante e realizar uma ação de venda em um delivery”, exemplifica Cleber.
De acordo com os sócios, um dos grandes diferenciais da Izza é conseguir atender do pequeno ao grande empreendedor com a mesma qualidade e entrega, já que esses estabelecimentos não entram sozinhos. “Ele não é o pequeno negócio, já que as compras vão estar na mesma lista de pedidos de Chalé da Praça XV, de um 20Barra9”, explica Guilherme.
O modelo de negócios da Izza varia. O serviço é gratuito para instituições filantrópicas e baseado em assinatura para restaurantes. Além disso, a startup tem demonstrado um engajamento significativo com o poder público, atuando em instituições de âmbito social e educacional. Segundo os sócios, a proposta final é democratizar o acesso a preços competitivos e a tecnologia de gestão para todos os tamanhos de estabelecimentos.