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Publicada em 08 de Maio de 2025 às 20:25

Sogipa transforma valores do esporte em ação humanitária durante enchente

Clube recebeu na primeira noite 480 desabrigados e distribuiu mais de 2.000 marmitas

Clube recebeu na primeira noite 480 desabrigados e distribuiu mais de 2.000 marmitas

Vítor Christofoli/Sogipa/JC
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Rudá Neis
Rudá Neis
A magnitude que a enchente de 2024 chegaria era inimaginável. Aqueles que perderam casas, móveis, carros e seus animais de estimação, pela rápida elevação da água, enquanto chegavam aos abrigos voluntários, colocavam um pé no recomeço. É este elo entre quem se disponibilizou para ajudar e quem precisava ser ajudado, que a Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa) se tornou um dos pontos principais de acolhimento durante 35 dias na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.
A magnitude que a enchente de 2024 chegaria era inimaginável. Aqueles que perderam casas, móveis, carros e seus animais de estimação, pela rápida elevação da água, enquanto chegavam aos abrigos voluntários, colocavam um pé no recomeço. É este elo entre quem se disponibilizou para ajudar e quem precisava ser ajudado, que a Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa) se tornou um dos pontos principais de acolhimento durante 35 dias na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.
"Recebi a ligação do prefeito Sebastião Melo no dia 4 de maio, dizendo que precisava dos ginásios para abrigar atingidos. Cedemos prontamente", recorda-se o presidente do clube, Adílio Schneider Finger.
Deste momento em diante, iniciou-se um protocolo rápido para preparar o ginásio principal - que depois se somaria aos outros dois. E com a ideia da prefeitura de assumir o controle do abrigo frustrada pela rápida velocidade que aconteciam os fatos, os próprios funcionários do clube se dividiram nos afazeres.

Estruturas esportivas ficaram à disposição do voluntariado | Vítor Christofoli/Sogipa/JC
Estruturas esportivas ficaram à disposição do voluntariado Vítor Christofoli/Sogipa/JC
"Em decorrência de pessoas que tinham conhecimento em certas áreas que se deu a divisão de tarefas. Os primeiros dias foram de muita tensão", conta o presidente.
Nas primeiras noites, 480 pessoas foram abrigadas. Ao longo dos 35 dias de funcionamento, foram distribuídas mais de 2 mil refeições, aproximadamente 100 animais situavam-se em canis e gatis e ocorriam mais adaptações nos espaços.
Foi disponibilizado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), às pessoas que passaram a viver nos abrigadouros, profissionais das áreas da saúde durante o dia. Outra ação tomada foi a de entreter as pessoas com peças de teatro para crianças e rodas de pagode.
A Sogipa é uma sociedade esportiva na qual milhares de atletas profissionais de alto rendimento, alunos e associados desfrutam das dependências do clube. No período, no entanto, os ginásios, academia, vestiários e até mesmo a pista de atletismo, ficaram à disposição do voluntariado, cessando a possibilidade dos sócios usufruírem do local e restringindo a preparação dos atletas.
Dentre estes, está o ginasta de salto em distância, Samory Uiki. Natural de Porto Alegre, ele herda o nome de Samori Turé, guerreiro de Guiné que enfrentou a colonização francesa entre 1882 e 1898, e assim como o xará, o gaúcho foi um guerreiro. Uiki deixou a preparação de lado e participou durante 25 dias de maneira incessante de voluntariado na Sogipa e em outros locais de acolhimento.
"Para mim foi um movimento natural. Não tinha a menor possibilidade de continuar vivendo minha vida normalmente com a cidade inteira em estado de emergência, com alguns membros da minha própria família, inclusive meu pai, ficando desabrigados", relembra o ginasta.
Com a paralisação dos treinos, a preparação visando competições ficou em segundo plano. Para o ginasta, a interrupção foi prejudicial. "Com certeza meu desempenho foi prejudicado pela falta de treinos. Viajei para São Paulo visando retomar minha rotina de treinos e competir para tentar fazer o índice para as Olimpíadas, mas não obtive sucesso", relembra.

Clube também foi ponto de distrubuição de doações | Vítor Christofoli/Sogipa/JC
Clube também foi ponto de distrubuição de doações Vítor Christofoli/Sogipa/JC
Com a utilização dos espaços do clube restringida, os mais de 11 mil sócios não tiveram suas mensalidades cobradas no período. Houve, também, uma perda de 12% no número de associados. Os funcionários tiveram o 13º salário adiantado e, quem foi atingido diretamente, recebeu auxílio monetário e ajuda psicológica paga pela Sogipa durante um ano.
Com a amenização do cenário, o retorno à normalidade foi acontecendo gradativamente. Nos últimos dias de abrigo, a prefeitura tomou conta da administração para fornecer um local digno para as pessoas e animais permanecerem. Enquanto a própria Sogipa, juntamente, retomava o funcionamento dos treinos, aulas e espaços de lazer.
"Os ensinamentos do esporte nos ajudaram a sair mais fortes. Essa força levou a Sogipa até essa grandeza de doar espontaneamente sem pensar em retorno nenhum", resume o residente do clube.

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