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Publicada em 24 de Julho de 2025 às 18:57

Pianista Alberto do Canto fez do cotidiano de Porto Alegre uma constante inspiração

Compositor escreveu mais de 200 músicas, a maior parte delas dedicada aos lugares, fatos e personagens da Capital

Compositor escreveu mais de 200 músicas, a maior parte delas dedicada aos lugares, fatos e personagens da Capital

ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
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Marcello Campos
"Rua da Praia, que não tem praia, que não tem rio. Onde as sereias andam de saia e não de maiô. Rua da Praia, do jornaleiro, do camelô, do estudante que a aula da tarde gazeou. Rua da Praia, da garotinha que quer casar, do malandrinho que passa a dia jogando bilhar. Se as pedras do teu leito algum dia pudessem falar, quantas cenas de dor e alegria haveriam de contar... Rua da Praia, de alegres tardes domingueiras, quando as calçadas se enfeitam de gauchinhas faceiras. Rua da Praia, da sede do Grêmio e Internacional, que se embandeiram e soltam foguetes no jogo Grenal".
"Rua da Praia, que não tem praia, que não tem rio. Onde as sereias andam de saia e não de maiô. Rua da Praia, do jornaleiro, do camelô, do estudante que a aula da tarde gazeou. Rua da Praia, da garotinha que quer casar, do malandrinho que passa a dia jogando bilhar. Se as pedras do teu leito algum dia pudessem falar, quantas cenas de dor e alegria haveriam de contar... Rua da Praia, de alegres tardes domingueiras, quando as calçadas se enfeitam de gauchinhas faceiras. Rua da Praia, da sede do Grêmio e Internacional, que se embandeiram e soltam foguetes no jogo Grenal".
Muita gente cantarolou em Porto Alegre esse samba-canção, Rua da Praia, composto no início da década de 1950 pelo autor que mais dedicou letra e música à cidade: Alberto do Canto (1923-2004). De uma lista superior a 200 peças com sua assinatura, muitas das quais hoje esquecidas ou mesmo perdidas, dezenas tiveram a capital gaúcha como tema. Férias em Porto Alegre. Festa dos Navegantes. Paulo Coelho. No Tempo de Otávio Dutra. Praça da Harmonia. Adeus, Porto Alegre. Rio Guaíba. Cidade Baixa. Praça 15. Usinas de São João. Parque da Redenção. Miniaturas de Porto Alegre. Voluntários da Pátria. Alto da Bronze. Praça da Matriz. Cidade-Sorriso.
Na origem, a infância com os cinco irmãos mais novos no bairro Glória, em um lar repleto de sonoridades. A mãe tocava piano. O pai, violino. Sem contar diversos músicos entre tios e primos. "Pequeno ainda, o menino sonhava ao ouvir nos serões familiares as melodias que saíam da vitrola de casa", destacou a Revista do Globo em maio de 1961. O estalo ocorrera em 1935, quando o terreno do atual Parque da Redenção sediou a antológica Exposição do Centenário Farroupilha, cujos "cartazes" incluíam um espaço com música ao vivo, executada por alguns dos melhores nomes do ramo.
Enquanto a gurizada se divertia no parquinho e outros atrativos, para Alberto a verdadeira roda-gigante eram as performances do rechonchudo pianista Paulo Coelho (1910-1941), um dos ícones da Porto Alegre daquele tempo. "Foi ele quem me inspirou a começar", contou na mesma reportagem. O primeiro passo foi pegar carona nas aulas de piano das irmãs mais velhas, compensando o dedilhado de habilidades medianas com um talento precoce para composição e harmonia. Um pé no popular, outro no erudito.
Primeiro foram valsas românticas no estilo dos cantores cariocas Sílvio Caldas e Carlos Galhardo, tão em voga na época na segunda metade da década de 1930. Depois, o interesse por cenários urbanos nos quais já transitava com maior frequência, desde a troca do Colégio Anchieta (onde integrava a banda marcial) pelo Júlio de Castilhos. Essa verve de exaltação a "cartões postais" foi inaugurada por volta dos 15 anos, com um samba-canção alusivo à Redenção, e logo abraçaria também fatos e personagens da cidade, além de bem-humoradas paródias em forma de hino escolar e que divertiam colegas como o futuro prefeito e governador Leonel Brizola.
O passo seguinte foi a matrícula em curso de piano no Instituto de Belas Artes, experiência interrompida dois anos depois pelo ingresso na Faculdade de Direito de Porto Alegre (então ainda não anexada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Durante o curso, fez parte o Centro Acadêmico e foi contemporâneo de futuras personalidades gaúchas como o jornalista Flávio Alcaraz Gomes (1927-2011) e o senador Paulo Brossard (1924-2015), além ter entre seus incentivadores musicais Lupicínio Rodrigues (1914-1974), então funcionário do prédio na avenida João Pessoa. O anel de "doutor", porém, não desviaria Alberto da música.
 

Homenagens em forma de canção

Além de cantar sua Porto Alegre natal, Alberto do Canto deteve-se sobre temas regionalistas e existencialistas

Além de cantar sua Porto Alegre natal, Alberto do Canto deteve-se sobre temas regionalistas e existencialistas

ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
Definido certa vez por um jornalista como "o mais genuíno compositor porto-alegrense", Alberto Bastos do Canto construiu sua reputação musical em torno do cancioneiro de exaltação à sua cidade natal, embora voltasse eventualmente sua atenção ao regionalismo - Fantasia Riograndense, Chimarrão, Falso Gaúcho, Alma de Bravo, Maricá, Changueiro, Rio Grande Sentinela do Mar. Dedicou especial carinho, ainda, a temas existenciais ou românticos como O Céu Na Terra, Quarto de Estudante, Chuva de Verão, Aquela Noite, Meu Cigarro, Eu e o Mar, Contraste, Estrelas e Prece ao Meu Filho, além de temas instrumentais de gêneros variados, do fox ao choro.
A intensa produção autoral (quase sempre sem parceiros) e o talento de arranjador foram compartilhados com o público pela primeira vez na trilha sonora da peça Coquetel Musical, sucesso no Theatro São Pedro em 1942.
No ano seguinte, nova prova de valor: sua composição Vendaval - inspirada em um dia de mau tempo testemunhado no bairro Belém Novo - foi incluída no repertório da Banda Municipal de Porto Alegre pelo maestro húngaro Pablo Komlós, embevecido com a mescla de clássico e popular naquele trabalho, entregue em mãos pelo próprio Alberto uma semana antes.
"Apesar de escrever basicamente sambas-canção, ele tinha o 'Complexo de Pestana' [do conto Um Homem Célebre, de Machado de Assis]: sempre sonhou em ser compositor erudito", confirma o músico e pesquisador Arthur de Faria. Essa faceta seria relembrada por Alberto à Folha da Tarde, em 1972, citando uma de suas criações jamais gravadas. "Minha menina-dos-olhos nessa área é a suíte Miniaturas Porto-Alegrenses, sobre a chegada de um forasteiro e seu passeio pela cidade. Começa com o tema Vista Aérea, traça um roteiro topográfico, descreve a vista das ilhas e o rio, bem como o contraste da vegetação com os edifícios de concreto. Cada trecho tem expressão própria, podendo ser tocado isoladamente".
Tal envolvimento rendeu um espetáculo de grande porte no Theatro São Pedro, até então pouco ou nada afeito a manifestações musicais menos ortodoxas: o 1º Concerto de Música Popular do RS, exibido em 1955 e reprisado em 1959. No palco, várias de suas canções nas vozes de cantores locais e com regência orquestral por maestros como Roberto Eggers e Salvador Campanella. A ideia seria reprisada em 1974 e 1977 pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) no Auditório da Assembleia Legislativa (hoje Teatro Dante Barone), com sucesso de público e elogios da imprensa. Em 1990, a Ospa apresentaria em seu teatro um espetáculo com dez peças de Alberto do Canto alternadas a dez de ninguém menos que o argentino Astor Piazzolla (1921-1992).
 

Muito gravado, pouco lançado

Detalhe da capa do compacto 'Rua da Praia', de 1954

Detalhe da capa do compacto 'Rua da Praia', de 1954

ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
"Eu não acho que falar de Porto Alegre prejudique a projeção de minha música fora do Estado, assim como Dorival Caymmi não é afetado por fazer da Bahia um tema universal", avaliou Alberto do Canto em bate-papo de 1974, na Rádio Guaíba, com o apresentador e ex-colega de Direito Flávio Alcaraz Gomes. A tese havia sido corroborada em 1964 pelo lançamento nacional do compacto duplo Férias em Porto Alegre pela gravadora paulista RGE (hoje disponível nas plataformas digitais) e, dez anos antes, com Rua da Praia em disco de 78 rotações da carioca Odeon (1954) que chegou a mais de 5 mil cópias vendidas, um desempenho acima do esperado.
Coincidência ou escolha estratégica, os respectivos cantores eram gaúchos então radicados no Rio Janeiro: Alcides Gerardi (1918-1978) de Rio Grande e Marcos Miranda (1936-1988) de Bagé - este um bem-sucedido dublador televisivo de filmes e desenhos nos anos seguintes. Isso sem contar a participação do pianista porto-alegrense Manfredo Fest (1936-1999) nos arranjos da segunda bolacha. Mais adiante, a produção e impressão de um LP com 12 faixas compostas por Alberto do Canto chegou a ter patrocínio autorizado pela Câmara de Vereadores em 1974, mas o projeto sequer saiu do papel, por restrições orçamentárias.
1964 - 'Férias em Porto Alegre' foi o segundo compacto duplo com canções de Alberto do Canto | ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
1964 - 'Férias em Porto Alegre' foi o segundo compacto duplo com canções de Alberto do Canto ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
Menos mal que o compositor prolífico era também devotado à preservação de sua própria obra por meio de dezenas de fitas e discos de acetato. São registros de espetáculos, ensaios domésticos, playbacks e até faixas com orientações a intérpretes ("Meu negócio é o piano, de canto só tenho o sobrenome", costumava brincar). Tudo rigorosamente catalogado junto a fotos, documentos, recortes, anotações e outros materiais que, cuidadosamente guardados pela família, permitiriam no futuro uma compreensão mais abrangente desse percurso artístico.
É uma pena que esse acervo não contenha, por exemplo, os dois filmes de curta-metragem produzidos na década de 1950 pela empresa cinematográfica Leopoldis-Som. Como se fossem "videoclipes" para as canções Rio Guaíba e Parque da Redenção, esses audiovisuais exibidos em cinemas da cidade acabaram perdidos em 1965 no incêndio que destruiu, no bairro Menino Deus, parte das instalações do empreendimento fundado em Porto Alegre pelo imigrante napolitano Ítalo 'Leopoldis' Majeroni (1888-1974).
 

Pioneirismo na propaganda

Logomarca da STAR Propaganda, empresa pioneira do ramo e fortemente associada à família Do Canto

Logomarca da STAR Propaganda, empresa pioneira do ramo e fortemente associada à família Do Canto

ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Na preservação do acervo de Alberto do Canto, foi de imensa utilidade o seu acesso a estúdios de gravação, por conta da profissão do pai, Arthur do Canto, dono da primeira agência de publicidade do Rio Grande do Sul: a Star (1932-1969), misto de nome-de-fantasia e sigla para "Sociedade Técnica de Anúncios e Representações Ltda.". Com escritório em diferentes endereços no Centro de Porto Alegre ao longo do tempo, a firma teve o jovem compositor entre seus colaboradores, na produção de jingles.
Em artigo no livro-coletânea A História da Propaganda no Brasil, de Renato Castelo Branco (Editora Ibraco, 1990), o publicitário gaúcho Antônio Mafuz (1922-2005) fez questão de conceder o devido crédito histórico: "Pioneira no segmento, a pequena Star era inicialmente, na ordem de grandeza das tarefas, mais uma distribuidora do Diário Oficial da União do que propriamente a empresa de propaganda que seria depois reconhecida como tal. E, faça-se justiça, produziu peças publicitárias que se destacavam nas páginas dos jornais".
Alberto ali aplicou seus conhecimentos musicais na criação dos mais variados reclames, até a formatura em Direito. Da experiência na Star sobraram faixas esparsas e um episódio inusitado, nos idos de 1948, ao formar dobradinha inédita com Lupicínio Rodrigues em uma animadíssima marcha para a linha de trajes masculinos do magazine Guaspari. A parceria morreu na casca, após o cliente vetar a letra centrada em um apelo de vendas típico do rei da dor-de-cotovelo:
"A culpa é tua, rapaz. / A culpa é tua, se andas pela rua sem achar uma mulher. / Vai lá no Guaspari fazer tua roupa e verás quanta sopa te vem de colher. / Mulher só gosta de moço afinado. / O Guaspari faz terno alinhado. / Pois vai no Guaspari fazer o teu linho ou acabas maluco vivendo sozinho".
 

Terno e gravata

Em 1970, atuando como jurado em um programa televisivo

Em 1970, atuando como jurado em um programa televisivo

ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
Dedicando-se paralelamente à prática amadora da fotografia, Alberto do Canto foi também cronista e pesquisador ávido em dividir seus conhecimentos sobre a cidade e o Estado, por meio de textos de periódicos como o jornal Hoje, em meados dos anos 1950 (também escreveria a coluna jurídica Acórdãos e Decisões no Jornal do Comércio, duas décadas depois). Tudo isso sem prejuízo à música enquanto necessidade criativa inabalável. Mas tornara-se imperativa a segurança financeira contra as incertezas no sustento de uma prole que chegaria a nove filhos entre 1955 e 1965 - Maria Margarida, Alberto Filho, Stella Maris, Isabel, Lígia, os gêmeos Heloísa e Jorge Arthur, João Inácio e Laura (cada qual homenageado com uma canção), mais a esposa e dona de casa Elvira.
O Direito tornou-se o ganha-pão. Primeiro com banca na rua Doutor Flores, depois como advogado credenciado e procurador federal da Previdência, pela qual se aposentaria na década de 1990. Na entrevista de 1974 à Rádio Guaíba, ele admitiu, aos 50 anos: "Minha situação artística não é das mais cômodas. Em 30 anos de atividade, só consegui ter gravadas quatro composições de um total de mais de 200, então inexiste mercado de trabalho por aqui. Mas reconheço que tenho sido prestigiado pela imprensa falada e escrita, que jamais deixou de divulgar o meu trabalho". O comércio também fez sua parte, no início da década seguinte, ao adaptar o samba-canção Rua da Praia como jingle para um anúncio do banco Sulbrasileiro.
Bibliotecária aposentada (três de suas cinco irmãs escolheram a mesma profissão), a primogênita Maria Margarida do Canto Ilhescas acrescenta: "Enquanto a saúde física e mental permitiu, o pai continuou compondo e tocando piano em casa, no Morro Santa Teresa. Muitas vezes acordamos ao som do piano, principalmente nos fins de semana. O avanço da idade causou problemas como o esquecimento, mas mesmo assim ainda havia lampejos criativos. Durante uma internação no Hospital Divina Providência, por exemplo, ele acordou de um cochilo pedindo lápis e papel para anotar uma marchinha que acabara de criar para meu irmão João Inácio".
Alberto do Canto (em 2004, ao lado da esposa Elvira) seguiu compondo novas canções enquanto a saúde permitiu | ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
Alberto do Canto (em 2004, ao lado da esposa Elvira) seguiu compondo novas canções enquanto a saúde permitiu ACERVO MARGARIDA DO CANTO/REPRODUÇÃO/JC
Alberto virou saudade em 31 de março de 2004, aos 80 anos, devido a complicações relacionadas ao diabetes. No velório, a cantora Maria Helena Andrade, Rainha do Rádio gaúcho de 1957 e estrela de uma das edições do Concerto de Música de Popular, dedicou-lhe uma interpretação emocionada de Porto Alegre Cidade-Sorriso. O artista que tanto celebrara sua terra passou a ser dela também um endereço: com base em proposta do então vereador Carlos Alberto Garcia, em 2008 a Câmara Municipal aprovou mudança de nomenclatura da antiga rua B-2, no bairro Hípica (Zona Sul). A placa ostenta "Rua Alberto do Canto" e o complemento "compositor da cidade".
Sua obra permanece aberta às novas gerações: em 2017, o jovem violonista, professor e produtor porto-alegrense Mathias 7 Cordas, um entusiasta da Velha Guarda, incluiu o samba-canção Cidade Baixa no repertório de seu CD de estreia, Falso Folião. "Tuas casas antigas, parecem doces cantigas de um tempo bom que passou (...). Volto pra casa tristonho, a gente não vive de sonho", diz um trecho da letra saudosista, composta mais de meio século antes.
Outro nome local abraçado à causa é o de Rafa do Canto, neto mais velho de Alberto e único da família a enveredar de forma mais séria pela música - apenas o irmão Felipe, o primo Thiago e o tio materno Jorge Arthur dominam piano ou violão. Ele tem conciliado uma linha autoral de MPB e pop-rock (três faixas já estão nas plataformas digitais) com o aprofundamento do estudo sobre o legado do avô, inclusive como aluno - em segundo semestre - do curso técnico de Instrumento Musical no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Com a palavra, o publicitário, compositor, violonista e cantor:
"Na prova prática de violão para ingresso no curso, toquei Intenção, de minha autoria, e Férias em Porto Alegre, do meu avô. Além disso, nas audições semestrais abertas ao público, escolhi Rua da Praia para minha participação. Pretendo avançar nessa pesquisa, com um roupagem que se aproxime do meu estilo sem desconfigurar o original, ou seja, não fazer igual e nem muito diferente".
 

* Marcello Campos é formado em Jornalismo, Publicidade & Propaganda (ambas pela PUCRS) e Artes Plásticas (UFRGS). Tem seis livros publicados, incluindo as biografias de Lupicínio Rodrigues, do Conjunto Melódico Norberto Baldauf e do garçom-advogado Dinarte Valentini (Bar do Beto). Há quase duas décadas, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses. Contato: portonoitealegre@gmail.com.

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