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Publicada em 08 de Maio de 2025 às 17:42

Luiz Carlos Merten, mestre da crítica cinematográfica brasileira

Completando 80 anos de vida em setembro, Luiz Carlos Merten reflete sobre décadas dedicadas à paixão pelo cinema

Completando 80 anos de vida em setembro, Luiz Carlos Merten reflete sobre décadas dedicadas à paixão pelo cinema

ACERVO PESSOAL LUIZ CARLOS MERTEN/REPRODUÇÃO/JC
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José Weis
Um guri de Porto Alegre, nascido em 12 de setembro de 1945 e criado no bairro Auxiliadora, que tantas vezes ia a pé até os cinemas mais próximos para ver os filmes em cartaz. Uma paixão pelas telas que levou esse menino a, andando sempre em frente, transformar-se em um dos mais respeitados críticos de cinema do Brasil. Completando 80 anos de vida em setembro próximo, Luiz Carlos Merten segue sendo, acima de tudo, um apaixonado pela sétima arte, daqueles que não consegue ficar cinco minutos sem falar sobre o objeto de sua paixão.
Um guri de Porto Alegre, nascido em 12 de setembro de 1945 e criado no bairro Auxiliadora, que tantas vezes ia a pé até os cinemas mais próximos para ver os filmes em cartaz. Uma paixão pelas telas que levou esse menino a, andando sempre em frente, transformar-se em um dos mais respeitados críticos de cinema do Brasil. Completando 80 anos de vida em setembro próximo, Luiz Carlos Merten segue sendo, acima de tudo, um apaixonado pela sétima arte, daqueles que não consegue ficar cinco minutos sem falar sobre o objeto de sua paixão.
Merten escreve desde 1989 para o jornal O Estado de São Paulo. Em outubro de 2024, seu conhecimento sobre a arte e indústria cinematográfica do País e do mundo fez com que batizassem uma sala de cinema com o seu nome no REag Belas Artes, um dos espaços de exibição e agitação cultural mais tradicionais em São Paulo. Está lá, desde então, a Sala Luiz Carlos Merten. "Já recebi outras homenagens - até em Cannes - mas virar nome de sala, em vida, supera expectativas que nem sei que tinha. Sou, sempre fui um homem da sala de cinema", disse na ocasião.
Bem antes de tudo isso, publicou um texto na revista Paralelo, em outubro de 1977, onde ele relembra sua juventude e a relação e devoção ao cinema. "1966. Um grupo de jovens se reúne quase todos os dias após a meia-noite, no Café Rian, para discutir sua paixão comum: o cinema. Muitos desses encontros aconteciam depois da tradicional sessão das dez do Rex". Luiz Carlos faz referência ao um café e um cinema, icônicos para os cinéfilos de plantão no Centro de Porto Alegre de tempos idos. Hoje nada de Rian: virou farmácia. O Cine Rex também desapareceu.
Luiz Carlos Merten começou estudando Arquitetura, na Ufrgs, mas já escrevia sobre cinema no jornal do Diretório Acadêmico. "Cheguei a trancar a matrícula, mais tarde pedi reingresso e fui para o Jornalismo, na mesma Ufrgs, porque a esta altura já havia feito minha opção. Queria ser jornalista especializado em cinema e precisava do registro profissional", explica.
Um dia, tomou coragem e bateu na porta do jornal Diário de Notícias. Lá chegando, pediu direto para falar com Celito De Grandi: "Disse que queria escrever sobre cinema", Merten recorda em seu livro Um Sonho de Cinema. "Até onde eu me lembro, ele me olhou como se fosse um maluco e pediu uma mostra - que eu levei e ele publicou. Nunca mais parei".
Ele conseguiu uma vaga como colaborador dominical. Mais tarde, sua carreira começou de fato como crítico de cinema, quando substituiu Jefferson Barros num dos jornais da então Companhia Jornalística Caldas Júnior, a Folha da Manhã. "Minha geração - Jefferson Barros, Enéas de Souza, José Onofre, Marco Aurélio Barcellos, acho que também o Hélio Nascimento, que era um pouco anterior - bebeu na fonte dos Cahiers du Cinema", descreve no mesmo texto, fazendo uma referência à renomada revista francesa, uma das mais importantes publicações sobre a Sétima Arte e que influenciou gerações de realizadores - e pensadores - do cinema ao redor do mundo.
Depois da experiência na Folha da Manhã, ele foi para o jornal Zero Hora. "Mas, como não havia espaço para mim no Segundo Caderno, me puseram no Esporte e, depois, na editoria de Mundo. Foram quase 10 anos de ostracismo, durante os quais só de vez em quando eu conseguia publicar alguma coisa (relacionada ao cinema)", desabafa. Mas é claro que o guri que ia caminhando conferir o que estava passando nas salas de cinema não ia se deixar desanimar - e não faltou muito para que a crítica entrasse de vez em seu caminho.
 

Respirando a sétima arte

Luiz Carlos Merten no festival de cinema de Cannes, em 2023

Luiz Carlos Merten no festival de cinema de Cannes, em 2023

ACERVO PESSOAL LUIZ CARLOS MERTEN/REPRODUÇÃO/JC
Em meados dos anos 1980, quando o País começava a respirar ares mais democráticos, Merten participou da equipe que criou, em Porto Alegre, o Diário do Sul - que, por sua vez, era ligado ao grupo Gazeta Mercantil, de São Paulo. Nele, chegou a criar um suplemento, Espectador Vídeo, que comentava e apresentava os lançamentos. O jornal, porém, fechou em 1988. Logo depois, Merten mudou-se para a capital paulista, no final do mesmo ano. "Em maio do ano seguinte, iniciei uma substituição de férias no Estado de São Paulo e estou aqui desde então."
Além de incontáveis críticas em jornais, Merten publicou sua paixão pela telona em livros, onde ele conta, analisa e amplia as visões que o cinema desperta. Em Cinema: Entre a Realidade e o Artifício, ele afirma que, como arte, o cinema "é a única com atestado de nascimento, dia, hora e local - 28 de dezembro de 1895, no Salão Indien, localizado no subsolo do Grand Café de Paris, no Boulevard des Capucines, 14, às 21h." Uma das particularidades que, segundo ele, fazem das imagens em movimento uma das mais singulares criações da humanidade.
Delmo Moreira, que era o chefe de redação do Diário do Sul, lembra da convivência com o colega: "Eu comecei a trabalhar na Zero Hora em 1976, como repórter de Esporte e, depois, de Economia. O Merten era copy do Esporte e acho que foi da Internacional também, não tenho certeza. Mais tarde o encontrei como professor de cinema".
Na visão de Delmo, Merten "era referência de qualidade", mesmo antes de se consolidar na crítica cinematográfica. "Juntava muitas qualidades, craque do time. Sujeito culto e generoso e brilhante em cada técnica do nosso ofício. Um texto incrível, límpido, feito na urgência dura dos fechamentos. Aquela qualidade de texto, naquela velocidade, é coisa raríssima. Apura, entrevista brilhantemente, edita bem demais e sabe lidar com gente. Formou muitos jornalistas e sempre foi adorado pela tigrada das redações."
Hélio Nascimento, decano da crítica de cinema - e que segue presente nas páginas do Jornal do Comércio, com a mais duradoura coluna em atividade ininterrupta no Brasil - diz-se conectado a Merten "pela amizade, admiração e, sobretudo, pelo amor ao cinema. Além de um grande companheirismo e de muitos diálogos - e algumas discussões - sobre filmes e cineastas". Entre outras conexões, Hélio Nascimento e Luiz Carlos Merten eram dois dos muitos críticos que escreviam comentários sobre a programação selecionada do Cine Bristol, que marcou os anos 1970 e 80 na pequena e movimentada sala da avenida Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim. Foi uma iniciativa do Clube de Cinema de Porto Alegre, com a curadoria de Romeu Grimaldi.
 

"Nunca quis fazer cinema, sempre quis escrever cinema"

Detalhe da capa do livro 'Cinema - Entre a Realidade e o Artifício', de Luiz Carlos Merten

Detalhe da capa do livro 'Cinema - Entre a Realidade e o Artifício', de Luiz Carlos Merten

ARTES & OFÍCIOS/REPRODUÇÃO/JC
Num dos textos do seu livro Um Sonho de Cinema, o autor faz uma autocrítica, ao seu jeito. "Dizem que sou o que se chama de workaholic, mas às vezes acho que tenho até tempo demais disponível na vida. Se tivesse escrito mais (sobre cinema), estaria ocupado e não teria feito algumas besteiras que fiz".
Gentil e atencioso, desde São Paulo, ele escreveu e respondeu mais perguntas sobre sua paixão maior. Tantas e tão agradáveis são suas histórias e tiradas sobre cinema, que a melhor coisa que o repórter faz é deixar Merten falar, atrapalhando o mínimo possível. "Sempre achei engraçado que Alain Resnais, um dos maiores diretores do cinema, fosse perseguido por uma imagem, que teria sido do primeiro filme que viu, e muitos anos mais tarde, na Cinemateca Francesa, ele identificou essa imagem como pertencendo ao clássico de Jean Renoir, Naná", começa, fazendo referência a um dos seus diretores favoritos.
"Minhas mais antigas lembranças no cinema são de filmes que também não identifico. Uma, em preto e branco, de um homem sendo açoitado no que parece o pátio de um castelo medieval. A outra, em cores, de um mar revolto e um bebê que é lançado numa caixa, quando o navio, ou barco, começa a submergir. Não sei mais se essas imagens foram verdadeiras ou, com o tempo, eu as construí na minha imaginação. O cinema, afinal de contas, tem essa dimensão de sonho. Sonhar acordado."
O que Merten lembra com clareza é da infância, marcada pelas matinés de domingo em duas diferentes salas de cinema. "Morava na rua Mata Bacelar, na Auxiliadora, a meio caminho entre o Rival, na 24 de Outubro, e o Orfeu, que mais tarde virou Astor, na Benjamin Constant. O Rival era o meu chão. Ia sozinho, carregado com um monte de gibis que a gente trocava."
"Desde cedo, amava os westerns: torcer pelo mocinho, bater pé no chão nas cenas de ação. Muito ri com as chanchadas da Atlântida. Mais do que de Oscarito e Grande Otelo, eu gostava de Violeta Ferraz. Basta fechar os olhos e me lembro dela dizendo a frase que encerrava o clássico de Watson Macedo, de 1954. O Petróleo É Nosso! No Rival, fui ver meu primeiro filme à noite, Homens e Lobos, de Giuseppe De Santis, com Silvana Mangano, que ele havia transformado em mito sexual em Arroz Amargo, de 1948. Devia ter meus 11, 12 anos. Via de tudo."
"No Orfeu vi Guerra e Paz, baseado no romance de Tolstoi, sem saber que era de King Vidor, que seria mais tarde um dos grandes diretores no meu panteão. No Astor vi 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, que foi uma revelação, mas aí já estava com 22, 23 anos e ia me dando conta de que o cinema não era só um passatempo para mim".
 

Sobre diretores, filmes e colegas de ofício

"Lia o Calvero na Folha da Tarde. Calvero, o personagem de Charles Chaplin em Luzes da Ribalta, de 1952, era o pseudônimo de Paulo Fontoura Gastal, que também era o crítico, assinando com o próprio nome, do Correio do Povo", recorda Merten. "Gastal não fazia críticas formais, mas sempre deixou claro o tipo de cinema em que acreditava, e preferia."
"Mais tarde, nos anos 1960, Gastal começou a abrir espaço para uma nova geração. Jefferson Barros começou a escrever sob a chancela dele, e aí eram críticas de verdade. Ouvia falar de um tal André Bazin, que seria um grande teórico, um mestre do realismo no cinema, autor de um livro fundamental, Qu'Est-ce Que le Cinéma? O que é o cinema? É uma questão que me persegue até hoje, batendo nos meus 80".
Fala de outro colega, Luiz Fernando Becker, mais conhecido como Tuio Becker. "Tuio e eu viramos críticos, prefiro dizer jornalistas de cinema. Ele me sucedeu na Folha da Manhã. José Onofre foi meu mentor. Mais tarde, (José) foi meu editor no Estadão, quando fui para São Paulo."
"Com Jefferson (Barros), conversava muito nos fins de noite, no Rian, uma cafeteria que ficava aberta até tarde, na Rua da Praia, após as sessões no Cine Ópera e no Rex, que exibiam a produção europeia de arte. Os filmes franceses iam no Ópera. Os italianos e suecos, no Rex. E havia os japoneses no antigo Central. Lembro de animadas discussões com o Jefferson. Ele amava Nicholas Ray, mas, em matéria de western, era um purista. Rejeitava o barroquismo de Johnny Guitar, o duelo final entre duas mulheres lhe parecia uma aberração. Mas foi o Jefferson que me revelou Jean-Luc Godard, Assim Caminha a Humanidade e El Cid. Era possível amar o cinema clássico e o revolucionário."
"José Onofre me apresentou minha primeira Cahiers. Foi quem fez, para mim, a ponte entre literatura e cinema. Meus mestres, mas se há uma coisa que me ensinaram é que nenhuma teoria supera o prazer de ver filmes. Nenhum amarrava o olhar a uma pré-concepção. Eram abertos ao novo, ao original."
 

Cinéfilo em formação

Luiz Carlos Merten faz balanço da trajetória e elenca melhores filmes

Luiz Carlos Merten faz balanço da trajetória e elenca melhores filmes

ENY MIRANDA/DIVULGAÇÃO/JC
De acordo com Merten, o começo dos anos 1960 foi decisivo em sua formação. "Assisti, de forma desordenada - como nas leituras, partindo de Burroughs e Emilio Salgari para Machado de Assis e os grandes russos -, a Rocco e Seus Irmãos, que se tornou o filme da minha vida, Hiroshima Meu Amor, Viver a Vida, El Cid, O Homem Que Matou o Facínora, O Assalto ao Trem Pagador, Os Cafajestes. Nunca fui felliniano de carteirinha, embora goste pontualmente de filmes de Federico Fellini. No cinema italiano, prefiro Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Francesco Rosi, Valerio Zurlini. No francês, prefiro Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e Jacques Demy a François Truffaut. Sou devoto de Alain Resnais. Por mais que goste de Hiroshima, considero Providence sua obra-prima."
"Em Hollywood, sempre curti o cinema de gênero. Westerns de John Ford, Raoul Walsh, Howard Hawks, Anthony Mann, musicais de Vincente Minnelli - e seu sublime melodrama Deus Sabe Quanto Amei -, os melodramas de Douglas Sirk, o suspense segundo Alfred Hitchcock. E Otto Preminger, independentemente de gênero."
E na Nova Hollywood? "Francis Ford Coppola, passo o Martin Scorsese." Cinema japonês? "Yasujiro Ozu, Kenji Mizouguchi, Mikio Naruse e o maior de todos, Masaki Kobayashi - Rebelião é, para mim, a obra-prima do cinema japonês. Akira Kurosawa integra meu panteão, mais por Yojimbo e Céu e Inferno do que pelos demais filmes." Os soviéticos? "Por importantes que sejam S.M. Eisenstein e Dziga Vertov, a escadaria de Odessa e Um Homem com uma Câmera, sou mais Dovjenko e Terra, Pudovkin e A Mãe." Outras escolas? "Ingmar Bergman, os poloneses - Andrzej Wajda -, os checos - Milos Forman. E os brasileiros - Roberto Farias, Selva Trágica."
Pois é, e os brasileiros? "Pertenço a uma geração gaúcha que, de cara, não teve muito apreço pela revolução de Glauber Rocha. Aprendi a amá-lo por sua trilogia, Deus e o Diabo, Terra em Transe e O Dragão da Maldade. Não compactuo com o culto a Limite, de Mário Peixoto. Considero Santiago, de João Moreira Salles, o maior documentário do cinema brasileiro. O 'meu' Eduardo Coutinho é o de Edifício Master, Jogo de Cena."
Aquela pergunta sempre difícil: os melhores filmes? "Agora, nesse momento, sem nenhuma pesquisa, seriam Rocco, Hiroshima Meu Amor, Terra, Morangos Silvestres, Rastros de Ódio, O Desprezo, Selva Trágica e por aí iria. O realismo não pode ser uma amarra às pesquisas de linguagem nem aos voos poéticos de imaginação. No cinema brasileiro atual, cultivo a moçada de Contagem. Arábia, O Dia Que Te Conheci. E os alumbrados - aquela encruzilhada em Estrada para Ythaca, dos irmãos Pretti e dos primos Parente, representa o que penso. Não tenho mais certezas. Sou consumido por dúvidas. Espero ser surpreendido, maravilhado. Quem o faz, me leva".
 

O cinema brasileiro de ontem e hoje

Com Helena Ignez, na inauguração de placas em homenagem a ambos no Reag Belas Artes de São Paulo, em 2024

Com Helena Ignez, na inauguração de placas em homenagem a ambos no Reag Belas Artes de São Paulo, em 2024

ACERVO PESSOAL LUIZ CARLOS MERTEN/REPRODUÇÃO/JC
O que diria Luiz Carlos Merten sobre o atual momento do cinema brasileiro no cenário global? "Nos anos 1960, o Cinema Novo repercutia nos foros internacionais, ganhava prêmios nos grandes festivais. Internamente, o público era refratário àquelas produções. Em Cinema de Lágrimas, Nelson Pereira dos Santos abordou o problema. O Cinema Novo colocava o povo brasileiro na tela, mas ele fugia das salas. Macunaíma, de Joaquim Pedro, no fim da década, alcançou o milagre - sucesso de público, e crítica. Depois de décadas, finalmente em 2025 o Brasil conquistou seu primeiro Oscar de filme internacional (Ainda Estou Aqui, de Walter Salles)."
"O cinema brasileiro vive seu melhor momento pós-pandemia. Ainda não são os números astronômicos de Paulo Gustavo, mas as salas estão lotando - não todas, não sempre, pontualmente. A maioria dos filmes entra para o sacrifício. Distribuidores e exibidores não acreditam no potencial, os filmes entram em horários alternativos, quase sempre os de menor frequência."
"Alguns filmes considerados pequenos são imensos para mim - O Dia Que Te Conheci, de André Novais. Tão bom, e até mais, do que Ainda Estou Aqui. Mas é considerado filme de nicho, como se não tivesse a universalidade do outro. Tem! Quantos espectadores viram meu melhor filme brasileiro do ano passado - Antônio Cândido/Anotações Finais, de Eduardo Escorel? Uma fração ínfima do de Ainda Estou Aqui. Já temos o Oscar, ufa! O cinema brasileiro no mundo vai bem, obrigado. Não apenas Walter Salles, Kleber Mendonça Filho e Karim Aïnouz seguem brilhantes carreiras internacionais. O que temos de nos preocupar é com o share, a participação do cinema brasileiro no próprio mercado. Essa depende de todos os fatores assinalados."
"Em 1973, era um jovem jornalista de cinema em Porto Alegre. Havia visto Gritos e Sussurros em Buenos Aires, o filme estava na mira da censura do regime militar, que queria cortar a cena em que Ingrid Thulin corta a própria vagina com o caco de vidro. Paulo Emilio Salles Gomes, que era e segue sendo um nome de referência da crítica no Brasil, estava de visita a Porto Alegre. Fui entrevistá-lo. Fui pautado para extrair dele alguma declaração bombástica contra a censura a Ingmar Bergman. Paulo Emílio revelou-se contra toda censura - toda! -, mas estava mais interessado em discutir a censura do mercado ao cinema brasileiro autoral daquele momento. Ouvi dele a célebre frase: "O melhor filme estrangeiro não vale o pior brasileiro, que é o que nos reflete". Não precisava dizer o que vou revelar agora. Juro que, naquele momento, eu - jovem, arrogante - pensei comigo: "velho mais gagá!" Hoje, muito mais velho do que ele, finalmente entendo o significado daquelas palavras. Eram sábias. Brasil, mostra tua cara!"
 

Livros de Luiz Carlos Merten

Cinema: Um Zapping de Lumièrie a Tarantino. Editora Artes & Ofícios, Porto Alegre (1995)
Aventura do Cinema Gaúcho. Coleção Aldus, Editora Unisinos, Santa Cruz do Sul (2002)
- Cinema: Entre a realidade e o artifício. Editora Artes & Ofícios, Porto Alegre (2003)
Anselmo Duarte: O Homem da Palma de Ouro. Coleção Aplauso, Imprensa Oficial, São Paulo (2004)
Um Sonho de Cinema. Editora Unisinos, Santa Cruz do Sul (2004)
50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho (participação). Accirs, Pró Cultura RS (2022)
 

* José Weis é jornalista, com trabalhos publicados em veículos do Rio Grande do Sul e de alcance nacional.

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