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Publicada em 16 de Abril de 2025 às 17:05

Jornalista premiado, Renato Dornelles também se consolida com documentários

Renato Dornelles superou  obstáculos raciais e se tornou destaque no jornalismo, na literatura e na produção de documentários

Renato Dornelles superou obstáculos raciais e se tornou destaque no jornalismo, na literatura e na produção de documentários

/TÂNIA MEINERZ/JC
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Daniel Rodrigues Jornalista, escritor, radialista e crítico de cinema
Pela sabedoria ancestral africana, Xangô é o orixá da justiça. Seus filhos de terreiro, assim, nascem para superar complicados obstáculos e vencerem na vida pelo talento e pela perseverança. Com um imaginário Oxé nas mãos, o machado de Xangô símbolo da lei, também não aceitam o destino como algo inalcançável: correm atrás do que acreditam. Mesmo que isso leve tempo. Mesmo que isso demande muito trabalho.
Pela sabedoria ancestral africana, Xangô é o orixá da justiça. Seus filhos de terreiro, assim, nascem para superar complicados obstáculos e vencerem na vida pelo talento e pela perseverança. Com um imaginário Oxé nas mãos, o machado de Xangô símbolo da lei, também não aceitam o destino como algo inalcançável: correm atrás do que acreditam. Mesmo que isso leve tempo. Mesmo que isso demande muito trabalho.
Não por coincidência, o senso de justiça é parte crucial da história deste filho de Xangô com Oxum chamado Renato Dornelles. Jornalista, escritor e cineasta, Renatinho, como é conhecido entre colegas e amigos, aprendeu desde cedo que, como pessoa preta, precisava achar a sua forma de vencer na vida. Percorrendo alguns dos ambientes da sede da Sociedade Floresta Aurora, no Belém Velho, Zona Sul de Porto Alegre - o mais antigo clube negro do País, com 153 anos, e do qual é sócio e antigo frequentador -, Renato conta que vem de família de muitos músicos, mas nunca aprendeu a tocar instrumento algum. Porém, identificou-se cedo com aquilo que o pai um dia lhe professaria quando ainda criança: a escrita.
Nascido há pouco mais de seis décadas em Porto Alegre, no dia 15 de maio, Renato, filho de Hélio Sadi e Neusa Marlene Dornelles, cresceu entre a Cavalhada, na Zona Sul, onde morava com os pais e os quatro irmãos, e a Colônia Africana (atualmente, o bairro Rio Branco), para onde ia regularmente visitar os avós e se abastecer daquela atmosfera quilombola resistente e ao mesmo tempo festiva. Formado pela Pucrs em 1986, e com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Estácio de Sá (2021), este torcedor do Internacional e da escola de samba Bambas da Orgia atuou por 33 anos como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 premiações, entre estes sete prêmios ARI e três prêmios Direitos Humanos (MJDH).
Foi esse talento com as palavras que fizeram deste homem negro de baixa estatura, ar sereno e fala agradável, mas determinado e consciente de seu axé, galgar espaço numa sociedade segregadora e pouco inclusiva. Primeiro, no Jornalismo. Depois, na literatura e, enfim, no cinema.
O jornalismo policial, no entanto, foi a porta de entrada. Em 1985, Renato fez parte da primeira turma do ainda não assim intitulado programa Caras Novas, que o grupo de comunicação gaúcho RBS promove para dar espaço a novos talentos. Neste meio tempo, entrou para a Rádio Gaúcha, também do grupo, e, pouco depois, foi chamado para compor o time de reportagem da editoria de Polícia do jornal da empresa, Zero Hora.
Entre uma cobertura e outra, Renato foi colhendo informações sobre o funcionamento do nascente crime organizado no Rio Grande do Sul. Este rico material, que se tornaria anos depois o livro Falange Gaúcha - O Presídio Central e a história do crime organizado no RS, também lhe serviu de estopim para aquilo que viria a produzir em cinema. O tema da segurança e da criminalidade virariam sua marca. "O Renato é hoje o jornalista brasileiro que mais mergulhou na realidade dos presídios, das delegacias, nos desvãos da atividade policial", aponta o colega e amigo Cláudio Britto, jornalista e advogado que já atuou também como promotor de justiça.
"Renato Dornelles é um ícone do jornalismo gaúcho", salienta Felipe Bortolanza, jornalista e ex-colega de Zero Hora e Diário Gaúcho, este último o jornal que os dois ajudaram a formar em 2000. "Fui 'foca' do Renato e depois formamos uma relação de mais de 15 anos circulando entre as editorias de Esportes, Geral e Polícia. Fora da redação, é um profissional muito respeitado em várias áreas e, dentro da redação, uma pessoa carismática, extrovertida e amiga", completa Bortolanza.
No audiovisual, onde entrou de cabeça nos últimos 10 anos por influência da parceira e sócia na produtora Falange Produções, a jornalista e cineasta Tatiana Sager, codirigiu e/ou roteirizou os premiados documentários Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil (2017) e Olha Pra Elas (2023), a série Retratos do Cárcere (2020) e os curtas Enjaulados (2015) e Envergo, Mas não Quebro (2024). Ainda com Tatiana, escreveu o livro Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas, de 2021. "Renato é o melhor amigo e parceiro que tive até hoje e que terei por toda a vida", declara Tatiana.
Há mais por vir dessa dupla. O tema dos Direitos Humanos permeia Violadas e Segregadas, documentário inédito que retrata o cotidiano de travestis e mulheres trans no sistema prisional, previsto para lançamento este ano. E Renato adianta: "Tivemos também aprovados em editais dois projetos de longas, um que trata da população LGBTQIA depois da passagem pela cadeia e outro sobre pessoas em situação de rua".
O Oxé de Xangô segue mirando justiça.
 

Profissão: repórter (policial)

Como jornalista, Renato Dornelles é referência nacional em temas como sistema prisional e segurança pública

Como jornalista, Renato Dornelles é referência nacional em temas como sistema prisional e segurança pública

/TÂNIA MEINERZ/JC
"Futura professorinha pega no fuzil pra resgatar detento". "Família do sequestrado faz procissão para pagar promessa". "Assaltante dormia com uma bomba no túmulo". Essas são apenas três das manchetes sensacionalistas de jornais dos anos 1970 e 80 com notícias policiais, que denotam o quanto este segmento do jornalismo era carregado de preconceitos de toda ordem e por uma visão ainda influenciada pela naturalização da truculência herdada da Ditadura Militar. Tudo o que o estudante de Jornalismo Renato Dornelles queria distância. "Eu cresci vendo jornais assim e ficava sabendo do comportamento inadequado de alguns jornalistas do segmento. Então, tinha certo preconceito com a editoria de Polícia", admite.
Porém, como ocorre em vários momentos da trajetória de Renato, o acaso - quiçá, por força das divindades - vem para agir e redefinir os caminhos. Coincide com sua entrada no mercado de trabalho a redemocratização do País e uma tomada de consciência dos Direitos Humanos por parte da imprensa, o que passa a influenciar, justamente, a abordagem dos casos policiais nas redações. "Quando comecei a trabalhar, conheci repórteres comprometidos como Mário Rota, João Carlos Rodrigues e Luis Milman, que faziam, naquele momento, a transição do jornalismo policial sensacionalista para uma abordagem que buscava entender também o lado social dessa questão", lembra Renato. "Eu fiz parte dessa transição", orgulha-se.
Três fatídicos episódios marcaram aquele início de carreira jornalística de Renato - e a história da cidade de Porto Alegre. O primeiro é o intitulado Caso do Homem Errado. Da redação de Zero Hora, Renato pôde acompanhar o fato ocorrido em maio de 1987, na zona Leste da cidade, quando, após um assalto a um supermercado, a Brigada Militar prendeu equivocadamente o operário Júlio Cesar Pinto, levando-o na viatura e, posteriormente, executando-o. O crime da polícia e os desdobramentos judiciais, que viraram filme em 2017 pelas mãos da cineasta Camila de Moraes (O Caso do Homem Errado), foram amplamente registrados pela imprensa à época, mobilizando sociedade, grupos de direitos civis e comunidade negra, marcando profundamente a criminologia no Estado.
Renato, contudo, entraria de cabeça em dois outros eventos emblemáticos da história social de Porto Alegre naquele efervescente período. Um deles, ocorrido na fria noite de 4 de junho de 1988, foi o assassinato do jornalista e deputado José Antônio Daudt. Ao chegar em casa, no bairro Moinhos de Vento, Daudt foi surpreendido e baleado com dois tiros. Levado ao Hospital de Pronto Socorro, morreu na madrugada, horas depois. Renato, de plantão na redação de Zero Hora, era o único repórter da imprensa gaúcha presente. Na manhã do dia 5, um sábado, o jornal era o primeiro a noticiar o crime, que teria grande repercussão até 1990, quando Antônio Carlos Dexheimer, principal suspeito do homicídio, foi ao banco dos réus e absolvido por falta de provas.
Outro incidente marcante na carreira do iniciante repórter policial se deu um ano antes da morte de Daudt: o motim no Presidio Central. Durante a cobertura, Renato entrevistava os amotinados à distância, do muro da penitenciária, até que um deles gritou da janela que uma importante quadrilha estava se formando. Mesmo com a relutância das autoridades sobre o assunto, Renato foi investigar e descobriu que aquele era o embrião da Falange Gaúcha, facção criminosa que reunia assaltantes e traficantes aos moldes da Falange Vermelha, do Rio de Janeiro. Nascia ali o cerne da pesquisa de Renato, a qual lhe renderia vários desdobramentos a partir de então. Para alguém que não queria fazer jornalismo policial, pode-se dizer que era o acaso lhe socorrendo mais uma vez.
 

Falange vermelha, amarela e verde

Renato Dornelles, no canto direito, como repórter no badalado Caso Daudt

Renato Dornelles, no canto direito, como repórter no badalado Caso Daudt

/ACERVO PESSOAL RENATO DORNELLES/REPRODUÇÃO/JC
Nos anos 1990, enquanto trabalhava em Zero Hora, a pesquisa de Renato Dornelles sobre facções criminosas prosseguia. E não aquelas com traços cariocas, mas, sim, forjadas nas cores da bandeira do Rio Grande do Sul. Foi nesta época que se envolveu na cobertura de outro caso policial memorável em Porto Alegre: a cinematográfica fuga do presídio do bandido Dilonei Francisco Melara, personagem que Renato não sabia que seria novamente fundamental para sua trajetória anos mais tarde. Os bons imprevistos. Foi neste momento também que conheceu Tatiana Sager, então repórter fotográfica do jornal Correio do Povo.
Com o projeto do livro Falange Gaúcha na gaveta por quase 10 anos, em 2003, Renato decidiu mostrar o esboço original para os diretores de redação de Zero Hora da época, Cyro Martins e Marcelo Rech. Ambos gostaram, mas, assim como o próprio autor, identificaram que faltava um fechamento. Só dois anos depois a resposta veio: a morte de Melara. Mais uma vez, o acaso (ou a sorte), trouxe o que Renato precisava e ele pôde, enfim, finalizar a obra como esta merecia.
As editoras de livros, contudo, ainda não confiavam no valor comercial da obra. Assim, passaram-se mais dois anos até que o amigo e colega David Coimbra (1962-2002) o aconselhou a divulgar os textos em forma de série. Com o apoio de Alexandre Bach, então editor-chefe do Diário Gaúcho, duas páginas de matéria com o resumo do livro foram publicadas durante 10 finais de semanas. Resultado: o que foi tido como pouco vendável por alguns editores acabou por ganhar 10 prêmios pela reportagem, dentre eles, o reconhecimento da ARI - além do interesse do mercado editorial. Por fim, Falange Gaúcha saiu pela RBS Publicações em 2008, 21 anos depois de Renato, com a tenacidade de Xangô, ter apostado no próprio projeto.
 

Punho cerrado

Renato Dornelles, para os jovens:

Renato Dornelles, para os jovens: "o caminho é árduo, mas é possível"

/TÂNIA MEINERZ/JC
Durante a sessão de fotos para esta matéria, na Sociedade Floresta Aurora, perguntado se haveria problema em fazer o gesto antirracista com o punho cerrado para cima, Renato Dornelles não só concordou como o fez. Afinal, ele sabe muito bem de sua posição de homem preto em uma sociedade ainda em processo de descolonização e de valorização da herança afro-brasileira.
A satisfação com que percorre os espaços do Floresta Aurora e com que mostra as fotos históricas de quando João Cândido e Leonel Brizola visitaram a antiga sede do clube é visível. Bem como de quando lembra da reunião, ocorrida em 2022, para a celebração dos 150 anos daquela que é a entidade negra mais antiga do Brasil. "Digo que a Sociedade Floresta Aurora é 'mais antiga que a liberdade', pois sua fundação é de 1872, 16 anos antes da Abolição da Escravatura no País, em 1888", romanceia.
"Tenho como objetivo ainda fazer um longa sobre a minha primeira ficção, A Cor da Esperança, de 2019", revela Renato. "É muito baseada em fatos reais, pois narra a história do negro em Porto Alegre, algo que acho muito importante contar", conclui. O pai de Bernardo, de 17 anos, e de Renata, 32, ambos de casamentos distintos, vê nos filhos um pouco do seu reflexo. O caçula já toca guitarra e demonstra aptidão com a música, realizando aquilo que nunca conseguiu. Já a mais velha, esta sim, enveredou para a mesma profissão: o Jornalismo. Porém, entende que hoje são outros tempos.
"Quando estudei na Pucrs, nos anos 80, nós negros éramos apenas 2% dos estudantes, o que se manteve por ainda bastante tempo até governos de esquerda passarem a adotar as importantes políticas públicas de inclusão, como as cotas em universidades", considera. "Ainda hoje, no Rio Grande do Sul, somos uma minoria entre os cineastas e precisamos seguir lutando contra isso", acrescenta.
Aos mais jovens, acredita que seu exemplo serve de espelho. "É importante a minha participação e de outros realizadores negros para ajudar na autoestima desses jovens de maneira que eles saibam que o caminho é árduo, mas que é possível, sim, fazer cinema", avalia Renato.
 

O cárcere e a tela

Renato assina parte da produção de documentários premiados no Brasil e exterior

Renato assina parte da produção de documentários premiados no Brasil e exterior

/ACERVO PESSOAL RENATO DORNELLES/REPRODUÇÃO/JC
Em 2008, o Presídio Central de Porto Alegre foi considerado o pior do país pela CPI do Sistema Carcerário e alvo de denúncias de violações dos Direitos Humanos feitas à Organização dos Estados Americanos (OEA). Renato Dornelles, a esta altura já uma referência sobre o tema da segurança e do sistema prisional no Rio Grande do Sul, e Tatiana Sager, que havia rodado com roteiro de Renato e codireção de Zeca Brito o curta O Poder entre as Grades, em 2014, decidiram juntar experiências e conhecimentos e encarar um desafiador projeto de longa-metragem documental para retratar a degradante situação penitenciária.
Inspirado no livro Falange Gaúcha, Central - O Poder Das Facções no Maior Presídio do Brasil apresenta, através de depoimentos de apenados, policiais militares e visitantes, além de análises de autoridades, o cotidiano e a dura situação do presídio. Codirigido por Renato e Tatiana e roteirizado pelos dois com Luca Alverdi, Central exigiu, para poder ser rodado, muita diplomacia e negociação - tanto com o poder público quanto com o paralelo. "Tivemos reuniões com várias autoridades e com os próprios líderes de facções, que foram os mais difíceis de convencer a nos autorizar a filmar", recorda Renato.
Por fim, deu certo. "Conseguimos colocar câmera nas mãos dos presos dentro das galerias das facções, onde ninguém entra. São cerca de 11 galerias, com quase 400 presos em cada uma, controladas pelos líderes de facções", relata Tatiana. Lançado em 2017, Central ficou 10 semanas seguidas em cartaz em capitais brasileiras e teve mais de 16 mil espectadores, um sucesso surpreendente para um documentário, ainda mais produzido fora do centro do País. O filme recebeu prêmios nacionais, como MJDH, e internacionais, em Portugal e na Espanha.
Decorrência do trabalho que já vinha realizando com Tatiana, Olha pra Elas, de 2019, por sua vez, mergulha na realidade dos presídios femininos. Roteirizado por Renato e dirigido por Tatiana, o filme, igualmente premiado, traz histórias reais de mulheres transformadas quando a prisão se tornou parte de suas vidas.
"O Renato é um parceiro que qualquer pessoa gostaria de encontrar na vida. De uma fidelidade, integridade e parceria que jamais encontraria em qualquer outra pessoa no mundo. Está sempre ali, ao meu lado, apoiando todos os projetos mirabolantes, dando a paz e o equilíbrio para tudo", confidencia Tatiana.
 

Sabedoria de bamba

Ao lado de Neguinho da Beija-Flor, que inspirou nome de coluna famosa

Ao lado de Neguinho da Beija-Flor, que inspirou nome de coluna famosa

/ACERVO PESSOAL RENATO DORNELLES/REPRODUÇÃO/JC
Muito antes de se envolver com Jornalismo ou cinema, Renato Dornelles sabia-se um folião. Bambista de coração, não deixa, no entanto, de apreciar aquilo que as outras escolas de samba também fazem. Em 1987, aceitou o convite do jornalista e grande entusiasta da cultura negra no Rio Grande do Sul Carlos Alberto Barcellos, o Roxo (1941-1989), para cobrir Carnaval em Zero Hora. Anos adiante, em 1993, outro convite, desta vez de Cláudio Britto, para participar das transmissões carnavalescas da Rádio Gaúcha. "Havia as muambas comunitárias que as escolas promoviam e eu ia para os bairros e dava os boletins ao vivo pelo orelhão", recorda.
"Renato contribui para as coberturas carnavalescas com um jornalismo eclético, pesquisador e autêntico de alguém que honra a própria origem e raça, que ama o Carnaval e conhece todas as manifestações das escolas, tribos e cordões", exalta Britto, que soma com o colega 31 transmissões da Festa do Momo.
A coluna Chora Cavaco, que Renato assinou por 19 anos em Diário Gaúcho, é outra contribuição inconteste para a cultura do samba na imprensa gaúcha. O nome, bordão do cantor Neguinho da Beija-Flor, se deu noutra casualidade de sua vida. Ele precisava achar um título para o espaço, mas nada surgia. Até que as divindades providenciaram. "Num dia, quando precisava informar ao editor o nome, minha amiga Célia dos Santos chegou na redação do jornal com Neguinho, para me apresentar a ele, e me veio a ideia: 'Chora Cavaco'", conta Renato. "Na hora, ele me autorizou e ficamos amigos desde então."
Tamanha ligação com o samba e o Carnaval lhe renderam homenagens. Ou melhor, a maior honraria que um brasileiro pode receber: um samba-enredo. Em 2024, a escola Tradição Alada, de Alvorada, levou para a avenida o tema A Esperança Liberta a Mente e a Alma. Renato Dornelles, o Emissário da Justiça, em que abordou aspectos de sua biografia como o Jornalismo, o cinema e a religião.
Seja numa redação de jornal, num set de filmagem, na escrita solitária frente ao computador ou numa quadra de escola de samba, a inteligência e o compromisso com a verdade são infalivelmente presentes em tudo que Renato Dornelles produz. Estão sempre com ele, assim como os seus orixás Xangô e Oxum, mestres da sabedoria. Como dizem os versos do samba-enredo em sua homenagem: "Pra dar voz às minorias / com grande sabedoria / protegido e iluminado por divindades ancestrais".
 

* Daniel Rodrigues, especial para o JC
Daniel Rodrigues é jornalista, escritor, radialista e crítico de cinema. Atual presidente da Accirs, tem duas obras lançadas (Anarquia na Passarela: a influência do movimento punk nas coleções de moda e Chapa Quente), além de participação em antologias de contos e no livro 50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho, editado pela Accirs.

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