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Publicada em 17 de Outubro de 2024 às 21:00

Profissionais atuam para transformar e fortalecer o setor da saúde

No empreendedorismo, no cooperativismo ou na sala de aula, o papel de quem zela pela vida é imprescindível

No empreendedorismo, no cooperativismo ou na sala de aula, o papel de quem zela pela vida é imprescindível

Ana Paula Koenemann/Divulgação/JC
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Giana Milani, especial para o JC
Giana Milani, especial para o JC
O Rio Grande do Sul tem 40.070 médicos ativos, segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers). Em 2023, foram 2.898 novas solicitações, um aumento expressivo se comparado a 2019 (1.721 inscrições). Este crescimento representa a força do segmento de saúde, assim como a importância dos médicos que vêm atuando em diversas frentes. Afinal, seja no empreendedorismo, no cooperativismo, no pioneirismo, na busca contínua pela evolução ou na sala de aula, o papel do médico é imprescindível para desenvolver o setor e atender a demanda da população, posicionando o Estado entre os centros de referência do País.
O crescimento do número de profissionais na área da saúde tem sido promissor para empreendedores, é o que argumenta Gabriela Ferreira, diretora da DeltaMed. O negócio atua como coworking de saúde, por meio de consultórios compartilhados, oferecendo aos usuários a possibilidade de pagarem pelo tempo de uso. Em Porto Alegre desde 2022, já conta com 77 consultórios equipados, no MedPlex Eixo Norte, na avenida Assis Brasil, bairro Passo d'Areia, ocupando uma área aproximada de 1.700 m².
"Nascemos da carência de uma solução mais completa para profissionais da área da saúde em Porto Alegre e região, que oferecesse flexibilidade e conveniência para os médicos, biomédicos, psicólogos de diferentes especialidades e também para pacientes", conta Gabriela. Para ela, o setor está se voltando para a tendência mundial de compartilhamento de espaços, otimização de recursos e, por consequência, redução no valor gasto. "É um público que cada vez mais valoriza o seu tempo e o alto valor agregado daquilo que consome", explica.
Na década de 1920, porém, o cenário ainda era outro. Em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, não havia hospital, tampouco estrutura para a prática da Medicina. O médico italiano Bartholomeu Tacchini, que morava no município desde 1912, atendia os pacientes da comunidade. Diante da ameaça de se mudar para outro local, a sociedade se mobilizou para arrecadar recursos e construir um espaço adequado. Hoje, o Hospital Tacchini, que leva seu nome e completou um século de história em 2024, é centro de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) para 24 municípios. E, desde 1980, tem um plano de saúde próprio, o Tacchimed.
Roberta Paulikevis Vilas Boas, diretora de Divisão Hospitalar do Tacchini Saúde, cita os planos de expansão do Tacchini nos últimos anos. Isso inclui desde melhorias e expansões no Hospital Tacchini Carlos Barbosa até a construção do Hospital do Tacchimed, o maior investimento da história da instituição, com projeção de abertura de 120 leitos, a serem entregues gradativamente a partir de 2025.
Para o primeiro semestre do próximo ano, está prevista a inauguração do Medical Center, uma nova estrutura que irá integrar consultórios médicos, um Centro de Diagnóstico por Imagem e um Hospital Dia, voltado para procedimentos ambulatoriais que não exigem internação.
"Nossa intenção é seguir o projeto de expansão da instituição, fortalecendo o Tacchini como um dos principais complexos de saúde da região, nos antecipando à crescente demanda por serviços hospitalares de qualidade", afirma.
Outro projeto é o da abertura do primeiro curso de Medicina de Bento Gonçalves, fruto de uma parceria com a Univates, que aguarda aprovação governamental para o lançamento. "O principal fator que garante a longevidade do Tacchini é o trabalho contínuo do Conselho de Administração, formado por um grupo de voluntários dedicados. São empresários, líderes da comunidade, que assumem de forma altruísta a responsabilidade de garantir uma gestão estratégica sólida, que tem sido fundamental para a continuidade e o crescimento da instituição", complementa Roberta.
 

Sem previsão para parar de atender

Antônio Carlos Koff é o médico mais antigo do Tacchini

Antônio Carlos Koff é o médico mais antigo do Tacchini

/Tacchini/Divulgação/JC
Com a morte de Tacchini, na década de 1930, o médico Walter Galassi assumiu a direção do hospital. Foi ele a inspiração para Antônio Carlos Koff, 87 anos, cirurgião geral, seguir na profissão. Com seis décadas dedicadas ao Tacchini, Koff é o médico que está há mais tempo atuando na instituição. "O Galassi era amigo do meu pai, o conhecia desde a minha infância, e todos os domingos ele ia até nossa casa. Meu irmão também se tornou médico e recebeu o nome de Walter em homenagem a ele", conta Koff.
O profissional garante que sempre teve o sonho de trabalhar no hospital e que, quando começou, na década de 1960, a situação era diferente. "Naquela época, éramos poucos médicos, acredito que seis, sete ou oito. Os recursos daquele tempo também eram escassos. Éramos chamados à noite, fora de horário, atendíamos no Interior e íamos na casa dos pacientes. Mas foi dando certo, fomos vencendo", observa.
Koff revela que não tem planos para parar. "É melhor trabalhar do que não. Até para a saúde e para a mente, funciona melhor. É vantajoso", avalia. Ele também elogia a instituição, por quem foi homenageado pelos anos de serviços prestados. "Eles valorizam muito o médico. Afinal de contas, os humanos são importantes, não são os objetos que são importantes. É o ser humano."
Para colaborar ainda mais com a comunidade, Koff começou a escrever artigos para jornais, e tem mais de 40 deles publicados, com assuntos relacionados ao universo. "Fiquei muito conhecido por causa disso, pois ajudou muitas pessoas. Procuramos contribuir com a comunidade de todas as maneiras possíveis", constata.
 

O neurocirurgião que tem os robôs como aliados de seus procedimentos

Adroaldo Mallmann, do Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo, utiliza neuronavegador nas cirurgias

Adroaldo Mallmann, do Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo, utiliza neuronavegador nas cirurgias

/Ana Paula Koenemann/HSVP/Divulgação/JC
Ao longo da história, as inovações médicas trouxeram inúmeros benefícios na área da saúde. O desfibrilador, por exemplo, inventado pelo norte-americano William Kouwenhoven, em 1930, transformou a cardiologia, salvando a vida de milhares de pessoas. A evolução continua sendo essencial neste segmento, e muitas instituições apostam na aquisição de robôs e outros equipamentos e na implementação de novas técnicas para resultados mais efetivos.
Além do Tacchini, outro hospital centenário no Rio Grande do Sul é o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, que é referência em tecnologia e inovação. A instituição implementou a cirurgia robótica em 2022, com o robô Cori, que, desde então, já foi utilizado em 365 procedimentos ortopédicos. Por meio de uma câmera fixada na articulação e sensores no joelho, o Cori transmite, em um monitor, a tomada exata de medidas da área a ser operada. O neurocirurgião e diretor técnico médico da instituição, Adroaldo Mallmann, acrescenta que está prevista a ampliação do uso do robô para cirurgias de próteses de quadril, assim que houver a liberação da Anvisa. No ano passado, o HSVP colocou em operação seu segundo robô, o Versius. Com técnicas minimamente invasivas, ele reduz os riscos de infecções e agiliza o tempo do pós-operatório. Desde abril de 2023, já foi usado em 140 procedimentos, de ginecologia a coloproctologia.
O HSVP foi ainda o primeiro da região Norte do Rio Grande do Sul a usar a técnica de crioablação para tratamento de arritmia. Mallmann cita, também, a recente aquisição de um neuronavegador, indicado para cirurgias do cérebro e coluna, aparelho que antes era alugado pela instituição. "Ele funciona como um GPS. É possível ir exatamente nas lesões e patologias, sem lesar as estruturas adjacentes à lesão", detalha. O HSVP é o único hospital do Interior a utilizar essa tecnologia em procedimentos do SUS.
Para o médico, é evidente a busca do hospital pela evolução contínua. "Estamos sempre procurando algo a mais para inovar e oferecer aos nossos pacientes", menciona. Foi durante o estágio no hospital, na década de 1970, que Mallmann começou a se interessar pela tecnologia. Desafiado pelas complexidades do cérebro e da medula, se especializou em Londres e continuou a se desenvolver nas cinco décadas dedicadas à Medicina.
Embora concorde que a tecnologia agrega, o médico entende que ela não substitui o trabalho humano. "A parte humana sempre vai ter que existir. Quem guia um robô? É o médico. Nós, humanos, temos uma discreta alteração na mão aos pequenos tremores, enquanto isso não ocorre com o robô, só que ele só faz o movimento se eu comandar", frisa.
Mallmann afirma que a inovação no HSVP não se resume à tecnologia. "O HSVP foi o primeiro hospital do interior do Estado a ter residência médica, em 1976. Temos a única CTI pediátrica da região, com projeto para aumentá-la."
 

Dedicação ao ensino para inspirar futuros colegas

Asdrubal Falavigna, da UCS, em Caxias do Sul, utiliza simuladores realísticos para suas lições em sala de aula

Asdrubal Falavigna, da UCS, em Caxias do Sul, utiliza simuladores realísticos para suas lições em sala de aula

/Bruno Zulian/Divulgação/JC
Em outubro, além do Dia do Médico, comemora-se o Dia do Professor. Ou seja, é motivo de dupla celebração para o neurocirurgião e doutor em Neurociências Asdrubal Falavigna, que divide sua rotina entre o consultório e a sala de aula. Professor do curso de Medicina na Universidade de Caxias do Sul (UCS), ele também é vice-reitor da instituição, na qual atua há 28 anos.
A aproximação do médico com a educação teve início na década de 1980, quando, ainda aluno da graduação, começou a ocupar cargos de monitoria. Para ele, ser professor é uma oportunidade de inspirar estudantes e colegas a serem os melhores profissionais e a desenvolverem diversas habilidades de empatia, liderança, comunicação e trabalho em equipe. "Não tenho dúvidas que a doação ao ensino nos torna mais inteligentes, atualizados e reflexivos, pois esta é uma via de aprendizado duplo, entre professor e aluno", analisa.
Antes de se tornar vice-reitor, Falavigna ocupou outros cargos de gestão na UCS, que é a única instituição que, atualmente, oferece curso de Medicina na Serra gaúcha, contando com 641 alunos e 155 professores. Desde sua inauguração, em 1968, já formou 2.647 médicos, alguns dos quais retornaram à universidade para serem docentes. "Formar profissionais melhores do que nós para a continuidade da docência do curso de Medicina traz muito orgulho. Este é o ciclo da vida: formar médicos excelentes para cuidar de nós e da comunidade", observa.
Em 2023, a universidade promoveu o evento do jubileu de ouro de sua primeira turma, reunindo 17 dos 46 formandos de 1973. Também no ano passado, entregou a reestruturação do Bloco H, onde são realizadas as aulas do curso de Medicina. Uma das novidades é a Sala de Simulação da Vida, inspirada na aviação civil, que utiliza tecnologia de realidade virtual e simula inúmeras situações clínicas, proporcionando experiências imersivas e interativas. De acordo com a instituição, o ambiente é o único na região nesta modalidade.
Falavigna também destaca o pioneirismo da UCS no Sistema de Acreditação de Escolas Médicas (Saeme), criado pelo Conselho Federal de Medicina em 2016. "O curso de Medicina da UCS foi a primeira escola médica a se postular para a acreditação e ser avaliado, sendo que hoje faz parte de um pequeno e seleto número de escolas médicas acreditadas", ressalta.
 

Início do caminho na Medicina é cheio de aprendizados

Caroline se formou há seis anos e se especializou em geriatria

Caroline se formou há seis anos e se especializou em geriatria

/caroline sbardellotto cagliari/Arquivo Pessoal/JC
Em um levantamento realizado pela plataforma de agendamentos e consultas online Doctoralia, 63% dos brasileiros responderam que uma das coisas mais importantes em uma consulta é a abordagem humana, defendida pela paliativista e residente em geriatria Caroline Sbardellotto Cagliari, 32 anos, médica há seis. Ela acabou se apaixonando pela geriatria na faculdade, devido à possibilidade de cuidar do paciente como um todo, e se diz realizada na profissão. "Antes de tudo, é importante escolher algo que vá de encontro com nossos valores de vida, que nos faz sentir bem com aquilo que estamos fazendo. Essa é uma receita que não tem como dar errado. Quando você acredita no que você faz, quando você confia no que você faz, isso vai te fazer feliz", acredita.
A médica compartilha uma história curiosa. Em uma ocasião, cuidou de uma idosa longeva que recebeu um diagnóstico difícil, precisando de uma decisão desafiadora que envolveu vários especialistas. A paciente sobreviveu. "Tempos depois, por acaso, conversando com a médica-veterinária do meu cachorro, descobri que esta paciente era avó dela. Essa profissional, inclusive, já salvou a vida do meu cachorro mais de uma vez. Eu não sabia, mas minha paciente era uma pessoa muito importante para uma pessoa muito importante para mim", relata. Por fim, ela tirou uma lição. "O mundo é menor do que imaginamos, e o importante é que sejamos gentis e possamos dar o nosso melhor sempre."
 

Cooperativismo aproxima

Beatriz Vailati e Márcio Pizzato atuam na Unimed Porto Alegre

Beatriz Vailati e Márcio Pizzato atuam na Unimed Porto Alegre

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
Ser referência de saúde em uma região também significa atuar de maneira mais próxima, atendendo às necessidades locais e trabalhando para melhorar a qualidade de vida da população, em todos os momentos. Esse interesse pela comunidade é um dos princípios do cooperativismo.
“O desenvolvimento e os benefícios sociais e econômicos do cooperativismo impactam não somente os médicos cooperados, mas também toda a comunidade em que ele se encontra”, acredita Márcio Pizzato, anestesiologista e presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre. Para o médico, isso se materializa em momentos desafiadores, como na pandemia e nas enchentes, em que é preciso buscar soluções ágeis. “Em momentos como esses, nossos cooperados estão sempre a postos e sabem o que a população precisa”, diz.
Pizzato destaca o protagonismo do médico na cooperativa de saúde, por poder participar ativamente das tomadas de decisões e do futuro da instituição. “É um ciclo virtuoso, o médico como agente transformador da saúde, em um ambiente onde o seu trabalho é valorizado e reconhecido, reflete na melhor assistência aos seus pacientes e na sustentabilidade do nosso negócio”, complementa.
“O mais fascinante em pertencer ao movimento cooperativista é o fato de ser uma estrutura em que todos os sócios cooperados têm os mesmos direitos e os mesmos deveres, todos são donos juntos e ninguém é dono sozinho”, acredita a ginecologista e obstetra Beatriz Vailati, vice-presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre, e cooperada desde 1992. “Todos os dias, nós, médicos cooperados, temos oportunidade de refletir e contribuir com o futuro da saúde”, argumenta a médica.
Assim como Pizzato e Beatriz, mais de 6.800 médicos são cooperados da Unimed Porto Alegre, que conta com 665 mil clientes e atua em 46 municípios gaúchos.
A nefrologista Cynthia Caetano, também é cooperada, porém da Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo (VTRP), onde atua como Diretora de Desenvolvimento. Ela menciona que a instituição, da qual faz parte desde 2003, teve uma participação muito representativa em sua trajetória profissional, consolidando sua carreira.
 
Cynthia acrescenta que a VTRP proporciona aos associados o desenvolvimento profissional, tanto do ponto de vista técnico, no que diz respeito à especialidade médica de atuação, quanto do ponto de vista da gestão cooperativa. “Encontrei na Unimed inúmeras oportunidades para meu desenvolvimento de forma integral. É fundamental continuar sempre se atualizando, buscando conhecimento e o desenvolvimento profissional e como pessoa. Na Unimed, encontramos grandes oportunidades nesse sentido ”, explica.
 
Além disso, a nefrologista aponta que o ambiente da cooperativa possibilita debate de diferentes opiniões. “Essa diversidade faz com que a gente cresça de maneira coletiva. Para o médico isso é muito importante, pois ele pode encontrar um ambiente de troca, onde pode conversar com outros colegas de especialidades diferentes, em que pode contribuir e crescer nesse ambiente de gestão, é um ambiente democrático, de participação, em que o médico, de fato, se sente parte da cooperativa.”

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