Atuar na preparação de jovens para o mercado de trabalho com um olhar voltado para a formação e a cidadania do jovem é a principal bandeira do Centro de Integração Empresa Escola do Rio Grande do Sul (CIEE/RS), segundo Lucas Baldisserotto, CEO do CIEE/RS, ao afirmar que pessoas com idade entre 14 e 24 anos, a maioria em situação de vulnerabilidade social, aprende, no ambiente de capacitação, temas como cidadania e noções de direito e deveres.
• ACESSE: Caderno Dia do Comércio 2025
Um levantamento da entidade aponta que mais de 35 mil estagiários e aprendizes atuam nos segmentos do varejo, comércio e serviços do Rio Grande do Sul, setor que faz muitos deles superarem condições precárias.
Jornal do Comércio - Que iniciativas de apoio aos estagiários foram lançadas pelo CIEE/RS?
Lucas Baldisserotto - Na verdade, o que o CIEE tem feito é uma evolução na parte do atendimento e da possibilidade de encaminhamento das vagas de estágio. Desenvolvemos uma plataforma na área do estágio que é voltada tanto para o público universitário quanto para os alunos do Ensino Médio quando eles estão interessados em vagas de trabalho. Fazemos isso de uma forma muito simples via smartphone em que o jovem consegue se encaminhar para uma série de oportunidades que fecham com o perfil do estudante. Além disso, o CIEE faz um acompanhamento de como está o desenvolvimento dos jovens durante o período de estágio, procurando trabalhar sempre a questão da bolsa-auxílio que fique atrativa e que atenda as necessidades dos jovens. Também realizamos cursos gratuitos na modalidade digital em que o acesso é mais fácil. A aprendizagem é voltada para um público mais vulnerável e novo. Os jovens recebem capacitação e uma formação tanto de cidadania, noções de direito e deveres e depois em terminalidades específicas que são na área de logística, varejo e produção. Todo o jovem que faz aprendizagem com o CIEE tem direito a telemedicina gratuita. A nossa preocupação é com a formação e a cidadania do jovem.
JC - Quantos estagiários atuam no setor do varejo gaúcho?
Baldisserotto - Se pegarmos o contingente de estagiários que temos no Rio Grande do Sul incluindo o varejo, comércio e serviços são cerca de 25 mil jovens em atuação nesses segmentos. O CIEE conta com 40 mil jovens que fazem estágio no Estado. Na área da aprendizagem, que tem um total de 16,5 mil jovens, pelo menos 11 mil estão nos setores de comércio, varejo e serviço. Somando estágio e os aprendizes temos tranquilamente mais de 35 mil jovens gaúchos que atuam nos segmentos do varejo, do comércio e do serviços.
JC - Como é a adaptação dos jovens nestes segmentos da economia gaúcha?
Baldisserotto - Fazemos um acompanhamentos dos jovens, principalmente com os aprendizes na faixa etária de 14 a 24 anos, através do nosso Programa de Aprendizagem e, com isso, o jovem acaba se adaptando de forma mais fácil. O jovem, antes de ir para a empresa, fica um mês no CIEE de segunda a sexta-feira tendo uma capacitação teórica de quatro horas por dia para dar a real noção do que ele vai encontrar em uma empresa. Explicamos o funcionamento de uma empresa, o trabalho em equipe e a possibilidade de crescimento. Fazemos uma integração das habilidades técnicas do jovem com a abertura de vagas que a empresa pede. Na última pesquisa feita com aprendizes, mais de 76% do jovens haviam sido efetivados na empresa. No estágio, de 60% a 65% do jovens são contratados pela iniciativa privada.
JC - Como é a relação dos jovens que fazem estágio no CIEE com a Inteligência Artificial?
Baldisserotto - Temos começado a utilizar essa ferramenta, tanto o ChatGPT quanto outras para o desenvolvimento dos serviços e processos internos do CIEE. Temos feito também uma interação com o jovem. Ainda está em fase inicial o projeto da entidade em proporcionar a Inteligência Artificial. O que a gente faz é proporcionar o entendimento das ferramentas, a utilização e uma conversa com os estudantes. O grande contingente que tem cadastro com o CIEE — cerca de 350 mil jovens cadastrados e uma parte que vive em situação de vulnerabilidade social — ouviu falar da IA, mas não conhece. O máximo que conhecem é o ChatGPT. Se falarmos do público universitário já tem um pouco mais de conhecimento. É incipiente ainda a abordagem sobre o tema Inteligência Artificial entre os jovens que fazem estágio.
JC - Quais as principais pautas defendidas pela entidade atualmente? Essas pautas foram apresentadas aos governos federal, estadual e municipal?
Baldisserotto - O CIEE defende uma educação de qualidade porque a educação no Brasil não é boa. Nós pautamos essa qualidade em nível federal, estadual e municipal. Nós começamos a atuar com jovens que já passaram pelo primeiro período de formação (o Ensino Fundamental, que é ruim, e o Médio, que também não é bom). As empresas reclamam que os jovens não têm conhecimento e habilidade porque o ensino é muito ruim. Temos que melhorar a base com um Ensino Fundamental de qualidade e uma complementação melhor no Médio. O CIEE, para minimizar a situação, realiza trabalhos de profissionalização que vem através da aprendizagem e dos cursos digitais oferecidos. Temos programas do governo estadual, como o Partiu Reconstrução, em que foram contratados 1,5 mil jovens aprendizes em situação de vulnerabilidade social. Outra ação feita junto ao governo gaúcho é a Universidade do Amanhã, que é um curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para jovens que fazem parte do Cadastro Único (CadÚnico). São 5 mil jovens selecionados e o curso é extremamente qualificado. Diversos jovens acabam entrando em cursos bem disputados de instituições de ensino como as universidades de São Paulo (USP) e a Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).
JC - Em 2026, teremos eleições para a presidência da República e para o governo do Estado. Quais propostas o CIEE pretende apresentar aos candidatos?
Baldisserotto - A proposta que será apresentada tanto em nível federal quanto estadual é o Instituto do Aprendiz para dar uma garantia maior à Lei da Aprendizagem, porque a gente nota que isso muda a vida do jovem. Um jovem que tem uma carteira assinada, uma profissionalização e uma qualificação, acaba por mudar a vida de uma comunidade. Ele tem vida e tem chance de progredir e de ser alguém. Hoje, o CIEE é uma instituição que atua na assistência social e também realiza ações de cidadania para que as pessoas tenham condições de se desenvolver.