O mundo assiste com atenção aos iminentes canetaços de Donald Trump visando a proteção da economia norte-americana. Nesse contexto protecionista de fortalecimento das riquezas locais, os impactos devem respingar em nações que hoje são grande parceiras comerciais dos Estados Unidos, caso do Brasil, assim como sobre aquelas que representam constante risco ao já ameaçado protagonismo americano no comércio global, leia-se China.
Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação comercial de peso, com trocas bilaterais que superam US$ 80 bilhões. No ano passado, o País alcançou volume recorde exportado para o mercado norte-americano, superando US$ 40 bilhões pela primeira vez na história da relação comercial entre as duas nações, assim como cresceram as importações daquele país para o Brasil em 2024. Além do recorde em valores, cresceu também a quantidade embarcada pelo Brasil - 40,7 milhões de toneladas, uma alta de 9,9% sobre o ano de 2023, segundo relatório da Amcham-Brasil.
Os ganhos significativos para o Brasil nessa corrente de comércio se deram principalmente com o embarque de produtos como petróleo bruto, aeronaves, café, celulose e carne bovina. Também o setor de transformação foi o destaque em 2024 ao representar quase 80% de todas as exportações nacionais para os EUA, acabando por consolidar o país como o maior comprador de produtos industriais brasileiros pelo 9º ano consecutivo.
A se confirmar o estabelecimento de políticas que mirem o fechamento e a proteção do mercado norte-americano com a imposição de tarifas a parceiros como o Brasil, caberá ao governo brasileiro a tarefa de "arrumar a casa", aproveitando a recente posição de anfitrião do Brics - bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, bem como por outros membros admitidos - Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã - para reforçar uma agenda comercial, global e inclusiva com foco em cooperação em diversas áreas, especialmente a comercial.
O fortalecimento do Brics se mostra cada vez mais importante diante do cenário imposto por Donald Trump, e ganha mais impulso frente a uma corrente de comércio bilateral Brasil-China que, no intervalo de 20 anos, passou de US$ 6,6 bilhões (em 2003) para US$ 157,5 bilhões (em 2023). O gigante asiático se tornou, ainda lá em 2009, o principal parceiro comercial do Brasil e, desde então, vem mantendo essa posição. Explorar novos mercados, parceiros e produtos é uma missão permanente de países para driblar governos e suas crises cíclicas.