A segurança deve ter máxima prioridade, sempre, em todos os processos que envolvem a indústria alimentar. Por isso, é preocupante que, recorrentemente, adulterações sejam constatadas. Mais aterrador ainda é que ocorram de forma deliberada.
Nos últimos 11 anos - a primeira Operação Leite Compensado foi em 2013 -, o Ministério Público do Rio Grande do Sul e outros órgãos já desencadearam 13 operações. No período, foram constatadas a adição de soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada, na produção de leite e derivados - leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros.
Na nova Leite Compensado, nesta quarta-feira, um dos alvos era um químico industrial. Ele já havia sido indiciado da quinta fase da operação, em 2014, quando foi descoberta a sua participação na adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada em produtos de uma indústria no Vale do Taquari.
Há dez anos, o homem estava proibido de trabalhar em laticínios. A continuidade de sua atuação no setor é, evidentemente, um descaso ao trabalho do Ministério Público, mas, principalmente, uma afronta à relação com consumidores, que voltaram a confiar na indústria leiteira gaúcha após sucessivas descobertas de fraude.
O leite é um produto relevante na pauta econômica do RS, tanto com a produção em pequena escala dos produtores familiares quanto na industrialização pelos laticínios para abastecimento interno e exportações. Hoje, o Estado é o terceiro na produção brasileira, com 12% de participação, atrás de Minas Gerais e Paraná.
O caso atual, ainda que considerado isolado pela promotoria, é um atentado à saúde pública. O leite é um produto que está presente na mesa de quase todos os brasileiros. A indústria de Taquara, além de abastecer mercados por todo o RS, outros estados e, até mesmo, a Venezuela, já havia vencido licitações, inclusive, para distribuir derivados do leite a escolas.
No RS, desde 2016 está em vigor a Lei do Leite - a criação foi impulsionada pelas operações do MP -, que permite a fiscalização e o controle do setor leiteiro em todas as etapas, de produtores, a transportadores e indústrias. Já a inclusão da adulteração de alimentos no rol de crimes hediondos tramita desde 2007 na Comissão de Constituição e Justiça e da Câmara.
Contudo, a despeito de leis, que nem sempre são cumpridas - não por falta de vontade, mas de recursos humanos -, é dever inabalável daqueles que lidam com a indústria alimentar os mais altos rigores sanitários. Qualquer ação no intuito de fraudar a cadeia deve ser veementemente repudiada.