Uma economia que se desenvolve vê nas oportunidades uma forma de se transformar em busca de mais sustentabilidade. Após as tragédias climáticas pelas quais passou o Rio Grande do Sul nos últimos anos - de secas severas a enchentes sem precedentes -, os olhos do agricultor, responsável por resguardar um setor vital da economia nacional, se voltam a alternativas para manter a produção e melhorar sua qualidade.
Apenas devido às chuvas extremas de abril e maio, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) estima que sejam necessários pelo menos R$ 6,6 bilhões para recompor as condições de solo em 3,2 milhões de hectares destinados à atividade agropecuária, especialmente no Vale do Taquari. Isso porque a chuva encharcou o solo, provocando forte erosão e comprometendo as condições para as próximas semeaduras nas áreas mais afetadas.
Por isso, em busca de maior sustentabilidade, ganha força e adesões no Rio Grande do Sul o conceito de utilização do solo o ano inteiro. A ideia é cobri-lo com diferentes culturas, ao longo dos 365 dias. Mais do que somente uma alternativa eficaz e rentável às propriedades, especialmente no período entre as safras de verão e de inverno, a opção por seguir esse caminho visa proteger o solo.
Iniciativas para validar a utilização de diferentes culturas são apontadas como fundamentais para o futuro da atividade agropecuária. No RS, esse manejo já vem sendo usado em algumas regiões, com resultados animadores. No plantio de determinadas espécies tem ficado evidente a capacidade que possuem de ajudar na penetração e no acúmulo de água no solo, além de restituir nutrientes importantes para a fertilidade das terras.
Experiências realizadas ao longo da última década mostram que após o ciclo da soja ou do milho, a semeadura de plantas destinadas à produção de grãos, pastagem, silagem, feno, pré-secagem ou regeneradoras leva a melhor produtividade na cultura subsequente. Uma delas é o nabo forrageiro, que faz uma renovação dos micronutrientes.
Diante disso, o episódio climático pode ser visto como um divisor de águas, um momento de reflexão para repensar os modelos de produção, reconstruindo um ambiente mais limpo, eficiente e rentável ao agronegócio.
Juntamente ao fortalecimento da irrigação e às evoluções na agricultura de precisão, a recuperação dos solos degradados ganha espaço em um momento de desafios históricos para o Estado.