Foi em meio à pandemia de Covid-19, em novembro de 2020, que o Pix foi implementado e se tornou uma opção mais atrativa que o dinheiro vivo e mais prática que o cartão de crédito e débito para os pequenos comércios. Em cinco anos da ferramenta no Brasil, sua consolidação diminuiu drasticamente o uso de cédulas nas ruas e já figura como o principal meio de pagamento em serviços de bairro. Comerciantes apontam que a praticidade é o principal fator, e celebram o aumento da liquidez com o depósito direto.
A analista de Recursos Financeiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Sul (Sebrae-RS), Beatriz Santos, explica que o Pix permitiu a pequenos empreendedores recebimentos mais rápidos, já que o acesso à maquininha de cartão de crédito não era facilitado. Ela também destaca a ausência das taxas, já que o pagamento da pessoa física para a pessoa jurídica (PJ) é, na maioria dos casos, isento de cobranças.
Além do fluxo de caixa mais previsível pela queda instantânea do dinheiro na conta, que se assemelha ao uso do dinheiro vivo, substituído pelo Pix na visão de Beatriz, inclusive de maneira mais efetiva. “Se o vendedor oferecia algum diferencial para o pagamento à vista, quando se usava o débito, tinha a cobrança da taxa do cartão. Em dinheiro, se a pessoa não está com ele na hora e precisava sacar, podia perder a venda. Com o Pix não. Tem como dar 10% de desconto e é imediato, entra na hora”, exemplifica a analista.
A opção também impactou os comércios online. Existe uma desconfiança por parte da população em cadastrar seu cartão, seja de débito ou crédito, em sites para compra de produtos que serão entregues a domicílio. Com o Pix, um depósito resolve a situação e é visto como objetivo. Beatriz aponta que o recurso veio para “mudar o e-commerce para melhor” e volta a frisar a previsibilidade como diferencial.
Mas dentro desses cinco anos ainda houve uma certa resistência à novidade, no final de 2020. A analista do Sebrae-RS entende que este é um cenário comum diante de novos recursos. Mas foi um processo rápido e não demorou muito para que fosse incluído no dia a dia tanto dos empreendedores quanto da pessoa física, destaca.
Foi assim na Sapataria Rápida Serrana, conforme explica a proprietária, Dirlei Guadagnini. Foi apenas em 2022 que sua loja passou a contar com o meio de pagamento, que hoje concentra a esmagadora maioria das vendas. O destaque é justamente pela praticidade.
Sapataria de Dirlei Guadagnini tem venda imensa maioria das vendas com o Pix
TÂNIA MEINERZ/JC
Na época da pandemia, o comércio estava aberto, mas o movimento era pequeno, quase nulo. Com a recuperação do fluxo e a chegada do pagamento, o impacto foi crescente, diante daquela desconfiança inicial. Hoje, Dirlei já quase não vê pagamentos em dinheiro. Com 40 anos de operação, aponta que a queda foi justamente com a chegada do Pix, assim como Beatriz.
E a dona do local vê com bons olhos essa mudança. Também celebra o aumento da liquidez diária e relata uma sensação maior de segurança. Antes, com o caixa cheio de dinheiro, ocorriam assaltos e os danos ao caixa eram prejudiciais. Hoje, com tudo no digital, seu espaço não armazena quantias significativas e, portanto, não corre os mesmos riscos.
O proprietário da Drogaria do porto, Cássio Quadri, compartilha deste relato. Há 20 anos atrás do balcão, relata que já sofreu com assaltos ao caixa, e que hoje precisa ir atrás de troco quando um cliente chega com cédulas. No seu caso, a implementação do Pix foi imediata. Com as farmácias exigidas ainda mais na época da Covid, suas maquininhas e chaves já estavam habilitadas em 2020. Com uma alta procura pelos testes, o pagamento por Pix antecipado para reservar uma prova era um dos destaques da chegada.
Atualmente, os pagamentos se dividem igualmente com o cartão, e há um destaque para as vendas online com tele-entrega. Quadri também aponta os valores imediatos na conta e uma segurança financeira por consequência. Explica que, pelas normas dos cartões, são 30 dias para o depósito do crédito e 24 horas para o débito.
Com um negócio de bairro, ele também percebe uma clara distinção nos pagamentos: “Clientes que pagam no Pix costumam ser os assalariados com uma renda mais baixa. Quem tem a renda maior costuma optar pelo crédito, por conta dos benefícios como milhas aéreas”. Pelo Sebrae-RS, Beatriz tem a mesma percepção.