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Publicada em 18 de Novembro de 2025 às 08:19

BC anuncia liquidação do Banco Master e Daniel Vorcaro é preso

Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, foi preso pela Polícia Federal em São Paulo

Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, foi preso pela Polícia Federal em São Paulo

Rubens Cavallari/Esfera Brasil/Divulgação/JC
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Agências
O Banco Central decretou nesta terça-feira (18) regime de administração especial temporária do Banco Master por 120 dias e liquidação do conglomerado. O anúncio foi feito um dia depois da Fictor Holding Financeira fazer uma proposta para a compra da instituição de Daniel Vorcaro e mais de dois meses após a autoridade monetária ter rejeitado a compra do banco pelo BRB (Banco de Brasília). A EFB Regimes Especiais de Empresas foi nomeada para executar a administração especial temporária do Master.
O Banco Central decretou nesta terça-feira (18) regime de administração especial temporária do Banco Master por 120 dias e liquidação do conglomerado. O anúncio foi feito um dia depois da Fictor Holding Financeira fazer uma proposta para a compra da instituição de Daniel Vorcaro e mais de dois meses após a autoridade monetária ter rejeitado a compra do banco pelo BRB (Banco de Brasília). A EFB Regimes Especiais de Empresas foi nomeada para executar a administração especial temporária do Master.
A liquidação é adotada quando o BC avalia que a situação da instituição financeira é irrecuperável. Nesse caso, o funcionamento da instituição é interrompido e ela é retirada do sistema financeiro nacional. Esse regime pode ser decretado, entre outras situações, quando uma instituição apresenta dificuldade de honrar seus compromissos ou quando viola gravemente as normas legais e estatutárias que disciplinam sua atuação.
Nesse cenário, há o afastamento imediato dos administradores, com a perda de mandatos. A instituição passa a ser administrada por um liquidante, nomeado pelo BC. Conforme a legislação, os bens dos ex-administradores (que exerceram a função nos 12 meses anteriores à liquidação) e dos controladores das instituições financeiras ficam indisponíveis, não podendo ser alienados ou onerados, até a apuração e liquidação final de suas responsabilidades.
Se uma instituição está sob o regime de liquidação, isso não significa que ela faliu. Existe a possibilidade de o liquidante, caso seja autorizado pelo BC, requerer a falência dela. Nesse caso, é um processo conduzido pela via judicial.
O Master vinha enfrentando problemas de liquidez para honrar seus compromissos, e seus negócios viraram alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de irregularidades. Os últimos encontros da diretoria do BC com representantes do Master e do BRB, antes do anúncio de liquidação, ocorreram em outubro.
Seguindo no caso, o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, foi preso pela Polícia Federal na noite desta segunda-feira (17), em São Paulo. Segundo integrantes da corporação que acompanham o caso, havia uma suspeita de que o banqueiro poderia deixar o país para evitar a prisão. Ele se preparava para embarcar em um voo para o exterior. A assessoria de Vorcaro ainda não comentou a prisão. A Polícia Federal também prendeu Augusto Lima, sócio de Vorcaro no Banco Master, e faz uma operação na sede do BRB, em Brasília. O banco do Distrito Federal protagonizou uma longa negociação para a compra do Master ao longo deste ano, com a compra de títulos de crédito da instituição de Vorcaro.
Em 7 de outubro, Vorcaro conversou com o diretor de Fiscalização do BC, Ailton de Aquino. No dia seguinte, foi a vez de o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, se reunir com o chefe da área de Fiscalização. No encontro com o banco estatal, também participou o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes.
Uma semana antes, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, teve uma audiência com representantes do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), responsável por cobrir até R$ 250 mil em depósitos por investidor em caso de falência, liquidação ou intervenção de instituições financeiras. Uma das estratégias do banco de Daniel Vorcaro era a venda de CDBs com alta remuneração aos aplicadores. O Master já chegou a pagar 140% do CDI, bem acima do padrão do mercado, usando como marketing a garantia dada pelo FGC.
O Master tinha uma linha de empréstimo de R$ 4 bilhões com o FGC, que terminava no fim de setembro, prazo que se estendeu até novembro, conforme gestores do banco sinalizaram a interlocutores do mercado financeiro. O anúncio da liquidação ocorreu também em meio a investigações da Polícia Federal que seguem em andamento sobre o caso do Master, após o BC repassar dados ao Ministério Público, como revelou a Folha de S.Paulo. No último dia 7, Galípolo recebeu o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, na sede da autoridade monetária, em Brasília, para tratar de "assuntos institucionais".
Em setembro, o BC rejeitou a compra do Master pelo BRB, transação que englobava R$ 23 bilhões em ativos. A avaliação do caso durou cerca de cinco meses. Como mostrou a Folha de S.Paulo, foi considerado o risco de sucessão como uma das razões para barrar a operação.
Se a compra fosse aprovada, o BRB precisaria assumir todas ou grande parte das operações não conhecidas do Master. Esses compromissos poderiam ter valor elevado para o banco estatal, que poderia não ter patrimônio suficiente para fazer frente ao risco. A possível aquisição de 58% do Master pelo BRB foi anunciada em 28 de março. Pelo acordo, o BRB compraria 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e 100% das preferenciais do Master, detidas pela Master Holding Financeira e DV Holding Financeira.
Após ajustes no perímetro da operação, o acordo previa a compra de R$ 23 bilhões pelo BRB em ativos do Master, que ficaria com cerca de R$ 48 bilhões restantes. Historicamente, o BC já liquidou outras instituições financeiras, como Bamerindus e Cruzeiro do Sul. Em junho de 2013, aplicou a medida contra o BVA, que se encontrava em regime de intervenção desde outubro de 2012. Assim como no caso do Master, o banco tentava negociar a venda antes da liquidação.
Em meio à análise do caso Master, a autoridade monetária se viu sob pressão diante da ofensiva do centrão na Câmara dos Deputados para aprovar um projeto de lei que permitiria que o Congresso Nacional demitisse diretores e o presidente do BC. Segundo a proposta, isso poderia ocorrer "quando a condução das atividades do Banco Central for incompatível com os interesses nacionais". No entanto, não há qualquer detalhamento para definir o que seriam essas atividades incompatíveis.
Publicamente, Galípolo vem defendendo a autonomia do Banco Central como mecanismo de defesa do interesse público. "A autonomia é um processo de proteção não para os diretores, e sim para o país. Para que diretores possam se sentir à vontade e protegidos para tomar decisões melhores para o país independente do cálculo político de como aquilo vai soar ou vai aparecer", afirmou.

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