A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reduzir tarifas para a importação de uma série de produtos agrícolas, entre eles carne bovina, café, banana e tomate, foi recebida com naturalidade pelo setor gaúcho. Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, a medida já era esperada, especialmente diante da pressão inflacionária que atinge o mercado americano após o tarifaço implementado neste ano. O decreto publicado por Trump se aplica apenas à alíquota de 10% das chamadas "tarifas recíprocas" impostas em abril a todos os países.
Segundo Da Luz, em entrevista para o Jornal do Comércio, a redução de tarifas era prevista “por uma questão de inelasticidade”, já que os Estados Unidos não têm como substituir produtos como a carne e o café brasileiros. Ele destaca que o Brasil se consolidou como um gigante na produção de alimentos, o que torna difícil para Washington encontrar alternativas competitivas.
O economista observa que a inflação nos EUA, que estava próxima de 2% em abril — já supera 3%, um movimento que atribui diretamente ao encarecimento dos alimentos importados. “Taxar produtos alimentícios brasileiros significa impactar a inflação de quem toma esse tipo de decisão”, afirma. Por isso, avalia, o governo Trump começou a flexibilizar parte das tarifas, embora “não totalmente”, por ainda estar em processo de negociação.
Da Luz ressalta que a redução de 10% anunciada é “pouco”, mas reconhece que representa “um avanço importante, decorrente sobretudo do trabalho do setor”. Embora a carne esteja no centro das medidas americanas e seja um dos produtos mais sensíveis para o Brasil, Da Luz afirma que a mudança não deve alterar significativamente as exportações gaúchas de carne bovina.
“O Rio Grande do Sul já está em um patamar alto e crescente de exportações. Há uma demanda muito forte no mundo, e os Estados Unidos são um cliente relevante, mas longe de serem o maior”, explica. Assim, a diminuição das tarifas tende a contribuir mais para o controle inflacionário nos EUA do que para modificar o desempenho da carne gaúcha.
Para o economista, o grande entrave do tarifaço para o Brasil está em setores industriais e de transformação, que sofreram impactos maiores. No agronegócio, ainda há “válvulas de escape”, com possibilidade de realocar exportações para outros mercados.
Da Luz reafirma que o melhor cenário para o Rio Grande do Sul seria a ausência total de tarifas. Os Estados Unidos, lembra ele, são um dos principais mercados para a economia gaúcha, considerando todos os setores. Por isso, defende um processo de negociação consistente.
“Esse impasse não se resolve com bravatas nem com discursos de palanque. É preciso negociação direta, olho no olho, com desejo de resolver o problema e não de criar um mote político”, afirma.
A redução tarifária ocorre em meio a tratativas entre Brasil e EUA. Enquanto Trump sinaliza para flexibilizações pontuais, Washington ainda não respondeu à proposta brasileira de suspensão temporária das sobretaxas para avançar em acordos por produto. Até o momento, o Brasil não figura entre os países contemplados nos acordos comerciais anunciados pela Casa Branca, embora siga em conversações.
Para Da Luz, no entanto, o movimento do governo americano confirma que a pressão inflacionária interna será determinante nas próximas decisões e que produtos como carne bovina seguirão tendo papel central nas negociações.