A 37ª edição do Festuris, que ocorre até domingo (9), em Gramado, mostra um movimento que vem crescendo de forma consistente no setor: o fortalecimento de formas alternativas de turismo, que colocam no centro a experiência, o território e a identidade local. No evento, iniciativas ligadas ao esporte, ao turismo de base comunitária e ao turismo social divivem espaço com grandes operadoras, revelando que a procura por viagens com pertencimento e propósito já não é nicho - é tendência.
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No campo do turismo esportivo, o impulso recente é evidente. Porto Alegre viveu neste ano uma das maiores edições da Maratona Internacional da Capital, com cerca de 25 mil participantes. “Quando a pessoa vem participar de um evento esportivo, ela não só corre. Ela conhece a cultura, se hospeda, consome gastronomia, movimenta diferentes serviços”, afirmou a ex-ginasta e medalhista olímpica Daiane dos Santos, uma das palestrantes do Palco Meeting.
Ela lembra que, após a pandemia e a enchente de 2024, as corridas se tornaram “carro-chefe” na retomada do turismo local. “O esporte potencializa a viagem. E quanto mais visibilidade os eventos têm, mais o esporte e os atletas também crescem”, disse.
Ao mesmo tempo, experiências de contato direto com comunidades vêm se consolidando como alternativa a modelos tradicionais de viagem. Outra presença que chama atenção na feira é a do cacique Felisberto Cupudunepá, do povo Baratiponé, de Mato Grosso. Há um ano, a comunidade estruturou sua própria agência para operar o etnoturismo diretamente, com anuência da Funai e regras internas de circulação de visitantes. A proposta é receber grupos pequenos, em períodos limitados, e garantir assistência desde a chegada até a saída do território.
“A gente enxergou no turismo a possibilidade de geração de renda, mas também de fortalecimento da cultura e dos laços comunitários”, explicou. “Não queremos turismo massivo. É personalizado. As aldeias recebem pequenas quantidades de visitantes e escolhem os dias, porque a comunidade tem sua vida e sua rotina.” Hoje, seis aldeias participam da iniciativa, com cerca de 80 visitantes no último ano, em maioria estrangeiros. Para 2026, parte dos meses já está totalmente reservada.
O fenômeno do turismo de base comunitária também se reflete no Rio Grande do Sul - e a pauta entrou na programação do Estado na feira. O secretário de Turismo, Ronaldo Santini, destacou que territórios periféricos, quilombolas e indígenas podem se tornar destinos, desde que respeitando sua identidade e autonomia.
“A Restinga, por exemplo, é uma outra cidade dentro de Porto Alegre. Tem sua música, sua culinária, seu jeito de viver. Isso é produto turístico. E isso precisa gerar renda para quem vive ali”, afirmou. Segundo ele, o papel do Estado é estimular e qualificar, não conduzir: “O turismo se move pelo privado. Mas nós abrimos oportunidades para que quem nunca se viu dentro dessa cadeia possa se enxergar nela”.
Outro segmento que avançou nos últimos anos é o turismo social, representado na feira pela associação brasileira no ramo, Abrastur. Michel Daros, presidente da entidade, explicou que a organização reúne clubes de assinatura de viagens - modelo que oferece hospedagem com preços fixos, independentemente da temporada.
O setor deve fechar 2025 com cerca de 2 milhões de diárias utilizadas no país, movimentando mais de meio bilhão de reais. “É um modelo que democratiza o acesso, porque a mensalidade se mantém estável. Mesmo em períodos de crise, quem é assinante já tem sua viagem garantida”, disse. No Rio Grande do Sul, o sistema também é forte: são cerca de 80 mil assinantes ativos.
Os modelos partem de pontos diferentes, mas convergem na mesma direção: uma redefinição da ideia de viagem como consumo. No lugar do deslocamento rápido, sem vínculo, cresce o interesse por pertencimento, cultura e cuidado com o território. A Festuris ocorre de quinta-feira (6) a domingo (9), no Serra Park, em Gramado.