Dentre as atrações da Semana Caldeira nos primeiros passos do evento, nesta segunda-feira (29), os olhos da pauta econômica estiveram voltados ao painel “Brasil 2030: cenários econômicos, riscos globais e as oportunidades que poucos estão enxergando”, com a presença do economista Aod Cunha e do economista chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida. A colunista do Jornal do Comércio Patrícia Comunello, mediou o debate.
Almeida chamou a atenção para a queda do PIB em 2015 e 2016 - última vez que ocorreu em dois anos seguidos foi em 1930 e 1931 - e falou sobre uma crise oriunda de políticas econômicas errôneas, de acordo com seu entendimento.
Com o crescimento da dívida pública, são considerados danosos à economia fatores como a elevada taxa de juros do País e os gastos federais acentuados pelo atual governo. No entanto, também se trata que essa política culminou na queda do desemprego, hoje em 5,6%.
Ainda assim, os economistas apontam que o principal desafio para manter um crescimento médio de 3% ao ano está justamente na força de trabalho. “Precisamos enfrentar uma agenda de reformas pró-produtividade. Temos o desafio do envelhecimento do País, que precisará ser mais produtivo e eficiente para possibilitar o crescimento econômico diante da questão demográfica”, salienta Cunha.
Ele aponta que a principal medida é qualificar a educação e, por consequência, a capacidade de trabalho da população. “O Brasil teve mérito ao trazer as crianças para a sala de aula. Agora o desafio é que elas aprendam mais. Isso significa melhorar a força e qualidade de trabalho desde cedo. O capital humano é o principal ativo de produção da sociedade”, trata o economista.
Painel ocorreu na manhã desta segunda-feira (29) e estava com auditório lotado
TÂNIA MEINERZ/JC
Também são medidas importantes para a manutenção do crescimento do País se abrir para o comércio internacional, avançar em debates como concessões e privatizações e preservar a independência do Banco Central, relata.
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Quanto aos gastos elevados, Almeida explica que o governo federal pressionou a inflação e fez o BC aumentar os juros. “Temos um problema de credibilidade. Não sabemos se vão conseguir equilibrar a dívida”. O economista chefe do BTG completa que, de 2023 a 2026, teremos 17% de crescimento do gasto público federal, equivalente ao dobro que os oito anos anteriores.
Entende-se, portanto, que é preciso uma política forte de ajuste fiscal para estancar o rombo nas contas. O déficit nominal do Brasil é 8,5% do PIB, que culmina no aumento da dívida pública e é muito maior que os demais países.
Aod Cunha ainda infere que o gasto público tem funções muito importantes, mas há pouco apreço em medir sua eficiência. O que explica o aumento da carga tributária para controlar o impacto do avanço desses gastos.
“Temos a cultura de que os problemas sempre se resolvem com gastos públicos. Mas é preciso analisar a eficiência, é um caminho natural de sociedades mais desenvolvidas”, analisa. Ele conclui o raciocínio ao dizer que a carga tributária é muito alta para um país de renda média e que devemos revisitar a forma como acolhemos o gasto público.