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Publicada em 31 de Agosto de 2025 às 00:00

Brasil está retrocedendo em matéria tributária, diz ex-chefe da Receita

Um dos painelistas do evento, na sede da Fecomércio, Maciel prevê uma crise fiscal no País

Um dos painelistas do evento, na sede da Fecomércio, Maciel prevê uma crise fiscal no País

TÂNIA MEINERZ/JC
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Caren Mello
Caren Mello
O projeto de lei que prevê isentar o Imposto de Renda para brasileiros que ganham até R$ 5 mil foi analisado pelo ex-chefe da Receita Federal, Everardo Maciel, durante o 1º Fórum Atacadista. O economista fez parte do segundo painel do evento que reuniu centenas de empresários no encontro promovido pelo Sindiatacadistas.
O projeto de lei que prevê isentar o Imposto de Renda para brasileiros que ganham até R$ 5 mil foi analisado pelo ex-chefe da Receita Federal, Everardo Maciel, durante o 1º Fórum Atacadista. O economista fez parte do segundo painel do evento que reuniu centenas de empresários no encontro promovido pelo Sindiatacadistas.
Maciel, que esteve à frente da Receita entre os anos de 1995 e 2002, classificou como “eleitoreira” a medida que tramita no Congresso Nacional. O Brasil, que havia se tornado uma referência para o mundo em matéria tributária, lembrou. “Mas tudo está sendo destruído de maneira meticulosa. Estamos dando passos para trás”, alertou.
O palestrante, que hoje se dedica à Consultoria Tributária, lembrou que, entre os anos de 1996 e 2002, a declaração de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, teve um crescimento real. Com as alterações, o sistema dará margem para sonegação. “O imposto é guiado pelo princípio da Capacidade Contributiva, com uma graduação de progressividade. Em princípio todos deveriam pagar impostos. Em 1994, a isenção era de R$ 524, hoje, de R$ 3.036. A atualização daqueles valores, seria R$ 3.801. Se tomarmos o índice do limite de isenção daquele ano e corrigir pelo IPCA, até a data da remessa do projeto, teríamos R$ 3.801. Ora, a variação do IPCA previsto para 2026, não vai chegar a R$ 5, nem por esse critério. O que significa dizer: é um aumento real do limite de remuneração”, explicou. Além disso, se for considerado que a renda média do brasileiro é de R$ 2069,00, os R$ 5 mil seriam quase o dobro. O Brasil passará a ter um dos maiores limites de isenção, segundo ele. “É a maior isenção de que qualquer país do continente americano e maior do que qualquer país da Europa, com exceção dos escandinavos”, acrescentou.
A elevação da isenção do IRPF significa isentar 65% dos atuais contribuintes. Para Maciel, não se trata de uma virtude. O ideal seria aumentar a renda. Da mesma forma, ele citou o equívoco do aumento da carga para quem ganha acima de R$ 50 mil, valor criado de forma arbitrária, sem explicação convincente. 
Com a criação da alíquota efetiva, que será sempre menor que uma alíquota nominal e com apuração complexa, a novidade pode determinar contradições que, provavelmente, terminarão em discussão nos tribunais. Como exemplo, lembrou que, uma pessoa portadora de moléstia grave (isenta de imposto) que recebe R$ 50 mil, não vai pagar imposto, mas vai cair no IRPF Mínimo, outra novidade contraditória do projeto.
“Esse projeto não tem precedente jurisprudencial. Induz a erros e a sonegação, mas não há possibilidade de derrubá-lo”, suscitou. Segundo Maciel no Brasil, qualquer proposição que pareça benefício, passa a ser imbatível. Para ele, tem havido um processo gradual de degradação no sistema tributário, com cada vez mais contenciosos. “Nos últimos anos em lugar de buscarmos equilíbrio fiscal, com a diminuição de gastos ou revisão dos chamados benefícios fiscais (que não são eficientes), as iniciativas são no sentido de aumentar a carga tributária”, concluiu. 
O ex-chefe da Receita Federal acredita que está havendo um processo gradual de degradação do sistema tributário, que antes já carregava uma série de problemas. Maciel alertou sobre o número cada vez maior de contenciosos no Judiciário. “Isso resulta de uma patologia específica do processo em geral. Vejo, muito claramente, a perspectiva ruim de uma crise fiscal”, frisou. Citou ainda que, nos últimos anos, o governo federal, em lugar de buscar o equilíbrio fiscal pela via da redução de despesas e da revisão das imprecisões, tem optado por benefícios fiscais. “Benefício fiscal que não se revela eficaz tem que ser revogado. Há que separar aquilo que é útil para a sociedade daquilo que não é. Vejo que todas as iniciativas tomadas são no sentido de aumentar a carga tributária. Nós temos uma crise fiscal contratada”, projetou.

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