O cooperativismo financeiro vive um momento de expansão no Rio Grande do Sul, e os números mais recentes confirmam a consolidação do Sicredi como protagonista no crédito rural. Pela primeira vez, a instituição superou o Banco do Brasil em volume de recursos destinados ao agronegócio gaúcho. A liderança foi registrada no Plano Safra 2024/2025, quando o Sicredi concentrou 30% dos valores liberados no Estado e 45% da quantidade de contratos firmados. Em termos nacionais, a instituição permanece como a segunda maior força no crédito rural, atrás apenas do Banco do Brasil, mas já consolidada como o maior agente privado do País.
Para o presidente da Central Sicredi Sul-Sudeste, Márcio Port, resultado é fruto da constância e da confiança no setor agropecuário, mesmo diante de um cenário desafiador. “Nós crescemos, em média, 20% ao ano no crédito rural no Estado. Essa constância é o que nos levou a ultrapassar o Banco do Brasil, e isso mostra claramente o quanto acreditamos no agro, mesmo com as dificuldades impostas por estiagens e enchentes”, destaca.
A força do Sicredi está diretamente ligada à sua capilaridade e proximidade com os associados. Hoje, a instituição financeira cooperativa está presente em 97% dos municípios gaúchos, com cerca de 680 agências. Apenas 12 cidades, em geral pequenas e situadas no Litoral Norte, ainda não contam com unidades próprias, mas mesmo nesses locais os produtores rurais acabam sendo atendidos por municípios vizinhos. “Esse vínculo territorial faz diferença, especialmente porque 91% dos produtores do Estado são da agricultura familiar. E o Sicredi está justamente nos pequenos municípios, onde vive a essência do agro gaúcho”, explica o dirigente.
A carteira de crédito rural do Sicredi no Rio Grande do Sul já encosta em R$ 20 bilhões, representando metade do total de operações da instituição no Estado. A outra metade está voltada para o segmento urbano, especialmente pequenas e médias empresas. “Um quarto das empresas gaúchas é associada ao Sicredi. Isso mostra que, além do agro, também temos uma presença decisiva no dia a dia das pessoas jurídicas”, afirma. Atualmente, são 2,8 milhões de associados no Rio Grande do Sul, número que corresponde a 30% da população. Em alguns municípios do interior, esse percentual chega a 80%.
O crescimento da cooperativa ocorre em um ambiente no qual outras instituições financeiras têm recuado. Problemas climáticos e oscilações no preço das commodities têm levado bancos tradicionais a reduzir sua exposição ao agro. O Sicredi, porém, tem mantido a trajetória de expansão. Nos primeiros meses do atual Plano Safra, já responde por 40% dos financiamentos rurais no Estado, 10 pontos percentuais acima do ciclo anterior.
O dirigente ressalta que a credibilidade conquistada junto ao produtor não se resume à oferta de crédito. Durante as enchentes de 2023 e 2024, as cooperativas ligadas ao Sicredi foram fundamentais no apoio às comunidades, tanto na retomada das atividades das agências quanto na ajuda humanitária. “Nós voltamos a funcionar rapidamente para garantir acesso a serviços financeiros, mas também estávamos nos abrigos, arrecadando roupas, alimentos, ajudando a população. O Sicredi é uma instituição financeira que também tem produtos e serviços, mas que se preocupa com a qualidade de vida das pessoas”, afirma.
Esse compromisso remonta às origens do cooperativismo no Estado. A primeira cooperativa do Sicredi foi fundada em 1902, em Nova Petrópolis, por padres jesuítas, que viam no crédito uma ferramenta para financiar melhores condições de vida às comunidades. Mais de um século depois, a essência permanece a mesma: apoiar o desenvolvimento local. “Não é uma preocupação apenas financeira, é sobre como a gente cresce junto, como retomamos o desenvolvimento regional”, acrescenta o presidente.
“Olhando para o futuro, a expectativa é manter o ritmo de crescimento próximo a 20% ao ano, tanto em 2025 quanto em 2026”, cita. Mesmo diante das incertezas políticas e econômicas, o dirigente acredita que o cooperativismo seguirá em expansão. “O Rio Grande do Sul tem enfrentado anos difíceis desde a pandemia, mas acreditamos que, com o trabalho conjunto entre cooperativas, governos e entidades, é possível retomar o rumo do crescimento. Sozinhos não conseguimos, mas juntos, sim”, conclui.