Porto Alegre vive em 2025 um ciclo de retomada do setor de eventos que tem movimentado a economia da Capital em ritmo inédito no pós-pandemia de Covid-19. Entre janeiro e julho, a prefeitura autorizou cerca de 1,4 mil eventos, o maior número em seis anos para o período. Até agora, o total já chega a 1.715 licenças, praticamente alcançando todo o volume de 2024, quando foram 1.949.
A média de mais de 200 atividades mensais, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Eventos (SMDETE), é um sinal da consolidação da cidade como polo de grandes encontros culturais, esportivos e corporativos.
“Esse crescimento reflete o espírito empreendedor das pessoas, o apoio da Prefeitura e, principalmente, o aquecimento econômico da cidade”, avalia a secretária Fernanda Barth. Para ela, Porto Alegre já se destaca na atração de congressos, competições esportivas e festivais. “Recentemente recebemos uma missão da Embratur com representantes estrangeiros do setor, e eles ficaram impressionados com a infraestrutura e o potencial da Capital”, acrescenta.
Embora os números consolidados de arrecadação e faturamento ainda não estejam disponíveis, os efeitos já aparecem em setores estratégicos. De acordo com o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Paulo Geremia, a movimentação é visível.
“Durante a Maratona de Porto Alegre, a título de exemplo, restaurantes na Zona Sul dobraram as vendas de massas para atletas, os hotéis lotaram e até a região próxima ao aeroporto registrou filas. Esse tipo de evento leva muita gente às ruas, não só os atletas, mas também familiares e espectadores”, destaca.
O turismo de negócios e os eventos esportivos têm puxado a ocupação hoteleira, que atingiu 64,37% em agosto, maior índice em mais de um ano, segundo dados do Sindha. O indicador confirma uma tendência de alta que começou no início de 2025, após fechar o último trimestre de 2024 em torno de 50%.
“Já tivemos situações em que faltou hotel em Porto Alegre, e visitantes precisaram se hospedar em Canoas e Novo Hamburgo”, relata Geremia. “Isso mostra que a demanda é real e precisa ser melhor organizada, com calendário antecipado e infraestrutura adequada”, continua.
Feiras e shows lideram
Apesar da ausência de dados segmentados, a prefeitura reconhece que as feiras de rua e os shows respondem por boa parte do crescimento. Entre os grandes eventos destaques de 2025 estão o Skate Total Urbe (STU), em março, o South Summit Brazil, em abril, e a 40ª Maratona Internacional, em junho, que reuniu 25 mil corredores de 20 países. Já em agosto, a Expoagas lotou pavilhões e hotéis, confirmando a força do calendário corporativo.
Esses eventos têm efeito multiplicador. Além da ocupação da rede hoteleira, movimentam bares, restaurantes, transporte e comércio. Geremia destaca ainda o impacto em cidades vizinhas: “Quando coincidiu um grande show no Beira-Rio, outro na Arena e um evento em Novo Hamburgo no mesmo fim de semana, toda a região metropolitana registrou alta procura, até por jatinhos particulares", conta.
O crescimento, no entanto, traz desafios. Fernanda Barth cita o impacto de fechamentos de ruas e a limpeza pós-evento como pontos críticos. “Às vezes liberamos um espaço e percebemos que não funcionou bem. Estamos criando regras junto ao DMLU para responsabilizar organizadoras que não devolvem áreas públicas limpas”, explica.
Já o Sindha defende ampliar horários de funcionamento e fortalecer o comércio em áreas turísticas. “Ainda temos shoppings que abrem apenas às 14h no domingo. Outras cidades já entenderam que o fim de semana é o período mais forte”, observa Geremia.
Para o futuro, a prefeitura da Capital aposta na digitalização para manter o ritmo de crescimento. Está em fase final a criação de um portal em parceria com a Procempa que permitirá acompanhar em tempo real o processo de licenciamento, agilizando tramitações entre órgãos como EPTC e SMAMUS. Além disso, a SMDETE fechou convênio com a Sala de Negócios da Pucrs para medir o impacto econômico de três grandes eventos apoiados pelo município: o Acampamento Farroupilha, a Expoceva e o Natal de Porto Alegre, que neste ano deve ser o maior já realizado.
Embora não haja repasse direto de recursos para os cofres públicos, segundo Barth, a arrecadação indireta já é considerada significativa. “Com as limitações que a reforma tributária deve impor aos municípios, investir em eventos e turismo é estratégico. Cidades que souberem atrair eventos estarão em melhores condições financeiras no futuro”, finaliza.