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Publicada em 16 de Setembro de 2025 às 16:50

Governo federal deve aportar recursos na malha ferroviária do Sul

Situação da logística regional foi debatida em evento em Porto Alegre nesta terça-feira

Situação da logística regional foi debatida em evento em Porto Alegre nesta terça-feira

Jefferson Klein/Especial/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Com a concessão ferroviária da Malha Sul vencendo em 2027, a perspectiva mais provável é da relicitação do contrato desse ativo que hoje é administrado pela empresa Rumo. Contudo, mesmo que outra companhia privada assuma essa função, a expectativa é que o governo federal faça um vultoso investimento nessa estrutura para torná-la atrativa economicamente ao mercado.
Com a concessão ferroviária da Malha Sul vencendo em 2027, a perspectiva mais provável é da relicitação do contrato desse ativo que hoje é administrado pela empresa Rumo. Contudo, mesmo que outra companhia privada assuma essa função, a expectativa é que o governo federal faça um vultoso investimento nessa estrutura para torná-la atrativa economicamente ao mercado.
 
A Malha Sul engloba cerca de 7,2 mil quilômetros de ferrovias situados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Devido à sua importância e proximidade do fim do contrato, um grupo de trabalho foi formado por representantes do Ministério dos Transportes, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e da Infra S.A. (empresa pública de infraestrutura) para analisar o futuro dessa concessão.
A diretora de Projetos e Obras da Secretaria Nacional de Transportes Ferroviários, Maryane da Silva Figueiredo, detalha que a atividade trará subsídios para que as instituições ligadas ao poder concedente possam tomar suas decisões. Ela adianta que o relatório do grupo sobre o tema deverá ser divulgado ainda neste ano, provavelmente nas próximas semanas. A tendência, atualmente, é que a Malha Sul seja relicitada, em vez de uma eventual prorrogação de contrato com a Rumo. Outra hipótese que ganha força é que a concessão seja fracionada em dois ou três segmentos de ferrovias.
Porém, independentemente de a malha ser dividida ou não, Maryane adianta que o levantamento feito até agora aponta que o governo federal deverá ter que investir um montante bilionário para recuperar a estrutura ferroviária da região, que já sofria com o desgaste do tempo e ainda foi afetada pela enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no ano passado. “Para que o (investidor) privado assuma uma malha com atratividade”, argumenta a diretora de Projetos e Obras da Secretaria Nacional de Transportes Ferroviários.
Maryane participou ontem do evento "Série de Debates: Logística no Brasil". A iniciativa, promovida pelo Valor Econômico e pela Editora Globo, foi realizada no Novotel, em Porto Alegre. Outro palestrante do encontro foi o coordenador do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Ricardo Portella.
O dirigente lembra que a malha ferroviária no Rio Grande do Sul foi implantada no tempo do Brasil Império, para transportar gado. Ou seja, é uma malha antiga, que apresenta dificuldades como, por exemplo, a velocidade que os trens podem se movimentar. "A velocidade é de 12 km/h, um maratonista de araque pode correr do lado (do trem)", critica o integrante da Fiergs.
Uma sugestão apresentada por Portella é que seja feita uma nova linha férrea dentro do Estado, ligando o Porto do Rio Grande à região de Santa Maria e, posteriormente, às proximidades de Cruz Alta e Passo Fundo, para se conectar mais adiante com o restante da malha férrea do País. Essa ferrovia, mais moderna, permitiria que os trens transitassem a cerca de 80 km/h.
O representante da Fiergs salienta que o Rio Grande do Sul se encontra na "ponta" do Brasil, afastado do principal centro de consumo nacional, que é o Sudeste. Por isso, ele frisa que a logística é um tema essencial para o Estado. "O setor não pode viver de espasmos orçamentários", sustenta Portella. Ele defende que o segmento logístico precisa atuar com a constância da disponibilidade de recursos e previsibilidade.
O professor do Departamento de Engenharia de Produção e Transporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Luiz Afonso Senna, também defende a necessidade de planejamento de longo prazo. Ele adverte que o País e o Rio Grande do Sul não estão avançando nessa área. Senna ressalta que, mesmo antes das enchentes, o Estado enfrentava dificuldades com a sua infraestrutura. "O grande desafio não é reconstruir, é mudar o patamar (da área logística)", comenta o professor.

Plano Estadual de Logística de Transportes deve ser finalizado neste ano

A elaboração do novo Plano Estadual de Logística de Transportes (Pelt), que tem como objetivo apontar as prioridades e necessidades de investimentos em infraestrutura de transporte no Rio Grande do Sul, deve ser concluída ainda em 2025. A informação é do presidente da Infra S.A., Jorge Bastos. A empresa pública federal foi contratada no ano passado pelo governo gaúcho, por R$ 4,46 milhões, para realizar a tarefa.
Bastos ressalta que o Estado e a Região Sul do País, como um todo, representam uma importante contribuição para o Brasil quanto à questão socioeconômica. Ele cita a relevância de setores como o agronegócio, indústria química, biodiesel, entre outros.
O representante da Infra S.A. admite que há gargalos que precisam ser solucionados em todos os modais viários da região: rodoviário, ferroviário e hidroviário. Apesar desses obstáculos, ele defende que é preciso promover a intermodalidade. Entre as ações que podem contribuir para aprimorar o transporte no País, Bastos indica a construção do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050. "É um planejamento de Estado, não de governo, que deve atravessar gestões", afirma o dirigente.
No caso dos planos envolvendo o Rio Grande do Sul, o diretor de Infraestrutura da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Fetransul), Paulo Ziegler, argumenta que as enchentes de 2024 demonstraram que o Estado precisa de vias alternativas para aumentar sua resiliência em casos de comprometimento de infraestrutura. Ele cita que o Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs) deve destinar cerca de R$ 3 bilhões para a recuperação da infraestrutura gaúcha, a serem empregados em medidas como a restauração de pontes e o desassoreamento das hidrovias.
Por sua vez, o diretor de Infraestrutura e Manutenção da Fraport Brasil, Cassio Gonçalves, recorda que o aeroporto de Porto Alegre ficou fechado por aproximadamente cinco meses e meio devido à catástrofe climática. Segundo ele, as concessões de complexos como esse precisam ter segurança jurídica e agilidade para reagirem a situações semelhantes que, provavelmente, voltarão a acontecer no futuro.

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