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Publicada em 08 de Setembro de 2025 às 18:01

Tarifaço derruba exportações do RS aos EUA e indústria critica medidas compensatórias

Indústria moveleira é uma das mais impactadas pelas medidas anunciadas por Donald Trump

Indústria moveleira é uma das mais impactadas pelas medidas anunciadas por Donald Trump

TÂNIA MEINERZ/JC
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Ana Stobbe
Ana Stobbe Repórter
Os impactos das tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump a produtos importados do Brasil geram preocupações na indústria gaúcha mesmo após o anúncio de medidas compensatórias pelo governo federal. De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, 80% dos exportadores do setor consideram que as ações apresentadas são insuficientes para solucionar os problemas gerados pela taxação.
Os impactos das tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump a produtos importados do Brasil geram preocupações na indústria gaúcha mesmo após o anúncio de medidas compensatórias pelo governo federal. De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, 80% dos exportadores do setor consideram que as ações apresentadas são insuficientes para solucionar os problemas gerados pela taxação.
É o caso da indústria moveleira que tem 16% das suas exportações voltadas aos americanos. Embora o segmento veja com bons olhos as ações governamentais, acredita que elas não dão conta de sanar os problemas no longo prazo. Afinal, de acordo com o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs), Euclides Longhi, embora as iniciativas deem conta de mitigar os impactos das tarifas, não respondem adequadamente à complexidade da questão.
O chamado plano Brasil Soberano, anunciado no final de agosto deste ano, conta com iniciativas divididas em três frentes: fortalecimento do setor produtivo, proteção ao trabalhador e diplomacia comercial com outros países. Entre as ações, destacam-se R$ 30 bilhões em créditos do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para indústrias brasileiras, ampliação de linhas de financiamento para exportadores, arrecadação diferencial de impostos e prorrogação de drawback.
Apesar da variedade de medidas, as indústrias as têm considerado de pouco impacto e dizem estar buscando soluções por conta própria. “As linhas de crédito ajudam a dar um fôlego para os empresários, mas não resolvem o problema, porque são 50% de taxas. Os valores anunciados pelo governo poderão beneficiar algumas indústrias com aumento no capital de giro, investimento em inovação e busca de novos mercados. Mas há muitas empresas com problemas financeiros. A situação é delicada. As ações são positivas, mas insuficientes”, avalia Longhi.
O problema, ressalta o líder da entidade de classe, é maior no setor de móveis em madeira, que deverá enfrentar maiores dificuldades na busca por novos mercados. “O setor em que mais incidem as tarifas é o de móveis em madeira maciça. E, nesse caso, há a dificuldade de abertura de novos mercados, porque eles são mais restritos. Para o setor de móveis em painéis é bem mais fácil para se adaptar a outros mercados”, destaca.
Em outro estudo, a Fiergs acrescenta que, diante da problemática, caiu a intenção de investir do industrial gaúcho. O índice considera os aportes estimados para os próximos seis meses e recuou de 59 pontos, em julho, para 54,6 em agosto. As projeções dos empresários para a demanda e as exportações no mesmo período também caíram. No caso da projeção de exportações o índice é o menor desde junho de 2020, durante a pandemia de Covid-19.
No setor moveleiro, entretanto, Longhi ressalta que houve um bom volume de investimentos das indústrias em virtude da Feira Internacional de Fornecedores da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis (Fimma), que foi realizada em Bento Gonçalves no início de agosto. “Foram vendidas muitas máquinas para modernizar os parques industriais”, garante ele, que não comentou sobre projeções futuras do setor.

 

Exportação aos Estados Unidos cai em agosto

 
Agosto foi o primeiro mês a ter os impactos do tarifaço visíveis, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). No nível nacional, as exportações para os Estados Unidos caíram 18,5% em relação a agosto de 2024, uma redução de US$ 2,762 bilhões.
Os índices contrariam a tendência de alta na venda de produtos para o país observada de janeiro a agosto, quando o aumento foi de 1,6%. Mesmo com as quedas de exportações a um dos principais parceiros comerciais do Brasil, a balança comercial brasileira registrou um superávit em agosto, com as exportações superando as importações.
O Rio Grande do Sul também teve impactos observáveis. Ao comparar o comércio estadual no mesmo período, é possível identificar um recuo de 18,6% nas exportações aos americanos, que caíram de US$ 159 milhões para US$ 129,4 milhões. Os Estados Unidos são, atualmente, o terceiro principal receptor dos produtos que saem do solo gaúcho que, apesar dos índices negativos, também registrou superávit na balança comercial.
Os dados, apresentados pelo diretor de estatísticas e estudos de comércio exterior do Mdic, Herlon Brandão, refletem, de acordo com ele, a antecipação dos embarques de exportações em julho, mas também têm algum impacto das sobretaxas. À época, empresas buscavam se adiantar para escoar seus produtos antes que as tarifas fossem oficializadas.
Em solo gaúcho, entretanto, a Portos RS afirmou à reportagem do Jornal do Comércio no início de agosto que não foram registradas alterações no volume de embarques em julho no Porto do Rio Grande, um dos principais centros logísticos de escoamento da produção estadual. 
Quem cresceu diante da redução das exportações para os Estados Unidos foi a China, principal parceira comercial internacional do Rio Grande do Sul. Comparando agosto de 2025 com o mesmo mês do ano passado, o país asiático importou 53% a mais do Rio Grande do Sul, sendo a nação que mais cresceu nesse aspecto. O Brasil, por sua vez, exportou 29,9% no mesmo período.
 

Brasil busca novos mercados e discute tarifaço no exterior


O governo federal tem trabalhado na busca por novos mercados para escoar a produção brasileira diante das altas tarifas norte-americanas. Uma das negociações que têm avançado é com a União Europeia. A proposta do acordo Mercosul-União Europeia já foi enviada à Comissão Europeia para aprovação e, após ligação telefônica com a presidente do órgão europeu, Ursula von der Leyen, no dia 5 de setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) espera que a assinatura aconteça no fim deste ano, na Cúpula do Mercosul que acontecerá no Brasil.
O Planalto e seus representantes também têm reclamado da política tarifária dos EUA em organismos internacionais. Foi o caso da reunião virtual da cúpula do Brics nesta segunda-feira (08), quando Lula criticou as sanções dos Estados Unidos. "Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais. A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”, considerou o presidente brasileiro.
O embaixador do Brasil, consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, também comentou o tema ao defender a indústria brasileira durante audiência pública no Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos realizada em Washington no dia 3 de setembro. Na ocasião, ele apresentou argumentos para serem juntados à apuração conduzida pelo órgão, com base na Seção 301 da Lei de Comércio, que permite investigar se políticas ou práticas de outros países são injustas, discriminatórias ou restritivas ao comércio norte-americano.
No caso do Brasil, a investigação foi aberta em 15 de julho e abrange temas como comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, tarifas preferenciais, proteção de propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e questões ambientais. Azevêdo afirmou que os comentários por escrito apresentados pela CNI demonstram claramente que o Brasil não adotou atos, políticas ou práticas injustificáveis e que tenham onerado ou restringido o comércio dos EUA.
 

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