Roberto Hunoff, de Bento Gonçalves
Como manter equipes engajadas e atrair novos talentos para um setor que, historicamente, enfrenta dificuldades de reposição e baixa atratividade entre os mais jovens? Essa foi a pergunta central do debate "Como lidar com a escassez da mão de obra na indústria moveleira", realizada durante a Fimma Brasil 2025, em Bento Gonçalves.
O encontro reuniu três líderes da indústria nacional: Adeilton Pereira, do Grupo Officina, de João Pessoa (PB); Diego Simões Munhoz, de Arapongas (PR); e Marcelo Ariotti, da Telasul, de Garibaldi. De forma unânime, apontaram que o problema é crônico no setor, a exemplo do que ocorre em outras atividades produtivas, e generalizado nas diferentes áreas das empresas. "É praticamente um apagão", registrou Pereira, destacando como grande dificuldade encontrar pessoas qualificadas para a gestão.
Com diferentes experiências e realidades, os executivos concordaram que não basta oferecer salário competitivo - é preciso entender as novas motivações da força de trabalho. "Há 20 anos, as pessoas tinham o sonho de fazer carreira dentro de uma empresa. Hoje, manter um colaborador por cinco anos já é um desafio enorme", comentou Ariotti. Para ele, é necessário quebrar paradigmas. "A gente precisa se adaptar mais às necessidades individuais. Escutar mais. O home office e a flexibilidade de horários são exemplos disso", reforçou.
Pereira analisou o impacto das novas gerações no ambiente fabril. Segundo ele, a empresa tem apostado em um plano de carreira com promoções mais frequentes, algo que responde à ansiedade por reconhecimento. "O ideal é ter uma espécie de gamificação nesse processo, em que as fases se tornem mais objetivas e o crescimento mais visível", afirmou.
Pereira também compartilhou iniciativa de capacitação que tem gerado bons resultados: uma parceria com ONG que começou com curso de iniciação à marcenaria e hoje já inclui formações para projetistas e montadores. "Ficamos o tempo todo formando gente. No fim, escolhemos se vamos ficar do lado do problema ou da solução", explicou.
Diego Munhoz reforçou a importância da escuta ativa e do uso de dados para entender o clima interno. Ele mencionou ações constantes, como a medição diária do humor da equipe, feita através de "carinhas" clicadas pelos colaboradores antes de acessar o sistema da empresa. "A gente só conhece aquilo que mede. Também revisitamos constantemente os benefícios com os colaboradores, pois o que fazia sentido ontem talvez já não funcione hoje", explicou.
Os líderes também concordam que a transformação cultural é inevitável na indústria moveleira. A tecnologia, a escassez de mão de obra e o novo perfil dos trabalhadores exigem das empresas mais empatia, flexibilidade e visão de futuro. Para Pereira, a automação é um caminho sem volta. Reconhece que o custo dos equipamentos é ainda elevado, mas acredita em redução por conta do aumento de demanda. Munhoz acrescentou que, além da automação, é necessário ter um fluxo de produção bem desenhado, acompanhado por treinamentos constantes.
Como mantra para os próximos anos, Pereira definiu que a sede de conhecimento será a fonte de crescimento. Munhoz enfatizou a capacidade de aprendizagem como competência, enquanto Ariotti indicou que não desanimar é o principal ingrediente de superação.