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Publicada em 05 de Agosto de 2025 às 17:47

Polo Petroquímico de Triunfo atinge ociosidade histórica

Lideranças lançaram ontem, em evento realizado na Capital, um manifesto de apoio ao setor

Lideranças lançaram ontem, em evento realizado na Capital, um manifesto de apoio ao setor

Jerônimo Silvello/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Um recorde negativo histórico foi atingido pelo Polo Petroquímico de Triunfo no mês passado: uma taxa de ociosidade de 45% na sua capacidade de fabricação de eteno (insumo básico que serve de matéria-prima para resinas termoplásticas). O diretor administrativo do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Rio Grande do Sul (Cofip), Sidnei Anjos, reforça que é o pior desempenho desde o início da operação do complexo, em 1982.
Um recorde negativo histórico foi atingido pelo Polo Petroquímico de Triunfo no mês passado: uma taxa de ociosidade de 45% na sua capacidade de fabricação de eteno (insumo básico que serve de matéria-prima para resinas termoplásticas). O diretor administrativo do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Rio Grande do Sul (Cofip), Sidnei Anjos, reforça que é o pior desempenho desde o início da operação do complexo, em 1982.
Ele afirma que entre os motivos que explicam esse cenário estão o maior volume de resinas estrangeiras entrando no País nos últimos anos, o aumento da capacidade produtiva da China e o ingresso de produtos pela Zona Franca de Manaus contando com benefícios fiscais. O dirigente comenta que existem resinas petroquímicas chegando ao Brasil com preços 20% a 25% abaixo do padrão.
Na média nacional, Anjos salienta que a ociosidade das plantas petroquímicas é de um terço. Ele ressalta que o impacto é maior no Polo gaúcho por ter uma característica mais exportadora que outras estruturas semelhantes no País, o que faz o reflexo da perda de competitividade ser pior.
O representante do Cofip adverte que esse cenário pode inviabilizar a operação do Polo gaúcho. “Um complexo desses, para se tornar viável, precisa operar de 80% ao teto (de capacidade)”, alerta. Anjos participou nesta terça-feira (11) da divulgação do “Manifesto em defesa da matriz econômica geradora de desenvolvimento e tributos”.
O documento defende a aprovação do Projeto de Lei 892/2025 (que institui o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química – Presiq), a manutenção da tarifa de 20% na importação de resinas termoplásticas e outros produtos petroquímicos para além de 2025 e a aplicação de medidas antidumping para as resinas polietileno e polipropileno importadas a preços mais baixos do que os praticados em seus países de origem.
O prefeito de Taquari e presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana da Grande Porto Alegre (Granpal), André Brito, ressalta que o manifesto tem como objetivo fazer com que a população e as autoridades governamentais, Estado e União, compreendam as dificuldades que a indústria química passa hoje. Ele frisa que há, atualmente, uma concorrência desleal com produtos importados de outras nações.
“Precisamos proteger a nossa indústria nacional”, defende o dirigente. Brito salienta que a questão afeta toda economia do Rio Grande do Sul, não somente Triunfo e os municípios do entorno. O integrante da Granpal considera que é fundamental o Brasil tomar medidas protetivas quanto aos insumos químicos que vêm de fora do País com condições desiguais aos similares nacionais.
Já o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, destaca que o setor químico é estratégico para os gaúchos. Ele lembra que o governador Eduardo Leite já conversou com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sobre o tema do desequilíbrio enfrentado pela indústria química nacional.
Ele pondera que é preciso fazer uma mobilização em prol da indústria química, unindo também bancadas parlamentares e governadores de outros estados. “É um momento de urgência, um momento dramático”, admite o secretário.

Triunfo registra perda de arrecadação de ICMS

A ociosidade do polo petroquímico gaúcho já está refletindo na receita de Triunfo. O secretário municipal da Fazenda, Rogério Pisetta, revela que a estimativa de arrecadação de ICMS para a cidade, em 2025, é de R$ 105 milhões. Se a previsão se confirmar, significará uma queda de cerca de 30% em relação ao resultado do ano passado, que já havia verificado uma redução de 16% em comparação a 2023.
Essas diminuições sucessivas são devidas, reitera Pisetta, ao recuo da produção do complexo petroquímico local. O vice-prefeito de Triunfo, Roniel Viegas, salienta que cerca de 90% da arrecadação do município, que tem cerca de 30 mil habitantes, é vinculada à operação do polo. A unidade emprega em torno de sete mil pessoas, sendo que aproximadamente duas mil são da cidade.
“Por enquanto só afetou a arrecadação, mas na hora que começar as demissões, aí o quadro ficará cada vez pior”, assinala Viegas. Por sua vez, o prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella, diz que o município está solidarizado com o problema vivido pelas indústrias químicas e ressalta que é um assunto que envolve o Estado todo.
“A gente sabe que o polo é grande, mas talvez perdemos um pouco da noção de quantas vidas, de quantas famílias, dependem dele e da Braskem (principal empresa do complexo)”, comenta Battistella. A opinião sobre a importância da estrutura é compartilhada pelo representante do Cofip. “Assim como lutamos lá atrás pela consolidação do polo petroquímico no Rio Grande do Sul, nós estamos dando o grito e levantando a voz para as condições de sustentabilidade desse polo no Estado”, complementa Sidnei Anjos.
Já no País, a analista de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Talia Felix, informa que o setor químico emprega mais de 2 milhões de pessoas direta e indiretamente. Além disso, representa 11% do PIB Industrial nacional e gera R$ 30 bilhões em tributos.

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