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Publicada em 26 de Julho de 2025 às 15:39

Multinacionais americanas preferem sigilo em negociação com Trump sobre tarifaço

Tarifa anunciada por Trump aos produtos brasileiros entra em vigor no dia 1º de agosto

Tarifa anunciada por Trump aos produtos brasileiros entra em vigor no dia 1º de agosto

Kevin Dietsch/Getty Images via AFP/JC
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Agências
Enquanto diversos setores econômicos tentam contribuir para os esforços de negociação contra o tarifaço de Donald Trump aos produtos brasileiros, as multinacionais americanas com instalações no Brasil têm mantido a discrição, evitando embates e manifestações públicas em torno do problema. Isso não significa que estejam alheias ou protegidas das consequências de uma sobretaxa de 50%, segundo membros de cúpulas de filiais locais.
Enquanto diversos setores econômicos tentam contribuir para os esforços de negociação contra o tarifaço de Donald Trump aos produtos brasileiros, as multinacionais americanas com instalações no Brasil têm mantido a discrição, evitando embates e manifestações públicas em torno do problema. Isso não significa que estejam alheias ou protegidas das consequências de uma sobretaxa de 50%, segundo membros de cúpulas de filiais locais.
A políticas dos CEOs das multinacionais americanas com negócios em diversos setores no Brasil, desde automotivo, como GM e Ford, farmacêutico, como BMS (Bristol-Myers Squibb), Abbott, Pfizer e MSD (Merck Sharp & Dohme), ou de alimentos, como PepsiCo ou KraftHeinz, e mineração como Alcoa, entre outros, é o silêncio. Nenhum deles aceitou se manifestar publicamente.
Em conversas reservadas, a avaliação é a de que o sigilo favoreceria as negociações para o lado brasileiro e que o governo Lula deveria fazer o mesmo. Para um executivo com longa experiência em direção de multinacionais americanas, o excesso de divulgação sobre as pretensões do Brasil tem fortalecido a posição trumpista, ou seja, ao colocar suas cartas na mesa, o Brasil sinaliza demais até onde pode ceder.
Segundo essa opinião, o governo não deveria divulgar nem mesmo as medidas que já planeja para amenizar o impacto do tarifaço com um programa emergencial de manutenção de trabalho e renda similar ao da pandemia. Há uma percepção de que o governo brasileiro está telegrafando tudo o que pensa por meio dos jornais, e que o aumento da confidencialidade nas conversas poderia ajudar elevar a produtividade do diálogo.
Nesta sexta (25), em um discurso em Osasco (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a relatar que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem enfrentado dificuldade de interlocução com os EUA.
O papel dos dirigentes brasileiros das filiais americanas, na prática, tem sido apenas o de alimentar suas matrizes com informações, enquanto os esforços de negociação ou pressão sobre Washington são feitos pelas cúpulas das sedes nos EUA.
Neste fluxo de informações, faltando poucos dias para a entrada das tarifas em vigor, em 1º de agosto, ainda tem sido difícil calcular o tamanho do estrago previsto porque, além dos efeitos diretos da tarifação, que são mais fáceis de medir em números, haverá impactos em toda a cadeia de fornecimento de cada negócio.
Por ora, a perspectiva é que o segundo semestre terá resultados piores do que o esperado, com aumento na necessidade de caixa, mas ainda se evita falar em demissões. Executivos ouvidos pela reportagem classificam Trump como o pior tipo de interlocutor que se pode ter do outro lado de uma mesa de negociação, porque ele faz o estilo "fearless", que em inglês significa destemido, indiferente a consequências desastrosas.
Os contornos políticos dessa taxação, que desde que foi anunciada por Trump nas redes sociais em 9 de julho trouxe a menção ao ex-presidente Bolsonaro, também tornam as manifestações públicas ainda mais delicadas.

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