As novas tarifas impostas pelo governo norte-americano e a escalada da tensão política entre Brasil e Estados Unidos têm despertado preocupação nas mais variadas esferas da sociedade. E, nem o sinal de GPS saiu ileso. Reportagem do Jornal do Comércio conversou com especialista sobre a possibilidade de o presidente Donald Trump bloquear o Sistema de Posicionamento Global no País.
Em inglês Global Positioning System, o GPS é uma tecnologia operada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Composta por um grupo de cerca de trinta satélites, essa ferramenta foi criada para fins militares durante a Guerra Fria e, posteriormente, se difundiu entre a sociedade civil.
Embora o seu domínio permaneça nas mãos do governo estadunidense, o GPS desempenha um papel significativo mundo afora. "Esse sistema é empregado na área militar, na aviação, nos transportes terrestres, na arquitetura, na engenharia, no meio ambiente e, até mesmo para fins de entretenimento, como simplesmente chamar uma pizza", explica o professor Felipe Geremia Nievinski, do Departamento de Geodésia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Para o pesquisador, as chances de acontecer um corte do sinal de GPS para o Brasil são quase inexistentes. Uma medida como essa seria implementada somente no caso de uma declaração formal de combate entre as duas nações, o que, de acordo com Nievinski, está longe de acontecer. Como se não bastasse, efetuar esse blackout nos satélites seria bastante complexo do ponto de vista técnico.
"Uma intervenção dessas exige um equipamento localizado no próprio território. Não é algo que o satélite consegue bloquear. Até porque a constelação de satélites emite um facho de luz, que, digamos assim, ilumina toda a face da terra, todo o hemisfério, todo o disco da terra. Logo, bloquear o Brasil afetaria toda a América do Sul, inclusive parte da América Central e, eventualmente, até a porção sul dos Estados Unidos", afirma.
No caso de conflitos armados, o professor destaca que o processo de bloqueio do sinal costuma ser feito a partir de uma estação retransmissora, que atua como se fosse uma TV pirata. Ela emite uma potência tão alta que causa interferência no sinal de GPS. Essa emissão, entretanto, precisa ser feita por via aérea ou por terra. Ou seja, demandaria intervenção direta no território brasileiro.
Nievinski ainda reforça que a ferramenta estadunidense não é a única alternativa dentro do Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) e reforça que é importante não permanecer "refém" de uma única ferramenta. Há, pelo menos, outros três sistemas: o russo GLONASS, o chinês BeiDou e o europeu Galileo.
E, o caminho para um sistema brasileiro está cada vez mais curto. Na última quinta-feira (17), o Grupo Técnico n°23 do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro se reuniu para pensar ações voltadas à implantação de uma ferramenta nacional de Posição, Navegação e Tempo (PNT). A iniciativa visa fomentar a autonomia tecnológica nacional.
Mas, e se o bloqueio acontecer?
"Hoje, todo mundo carrega um GPS no bolso. Todo mundo que carrega um celular carrega um GPS junto consigo. A gente é tão dependente dele que às vezes nem percebe", destaca Nievinski. Para o professor, portanto, um hipotético bloqueio do sinal de GPS poderia desencadear consequências bastante inesperadas no Brasil.
De acordo com o professor, os problemas se estenderiam para além do óbvio, afetando, até mesmo, as redes de telefonia e os sistemas bancários. "Esses usuários não utilizam o GPS para saber onde estão, mas para saber que horas são, para fazer a sincronização do tempo. Mesmo parado, tudo aquilo que é baseado em telecomunicações ou transações financeiras utiliza o GPS para determinação da hora legal", explica.