Empresários destacam infraestrutura e mão de obra como desafios do Vale do Taquari

Durante a edição de Lajeado do Mapa Econômico do RS, promovida pelo Jornal do Comércio na quinta-feira 10 de julho, lideranças empresariais do Vale do Taquari destacaram os gargalos de infraestrutura e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada como os principais desafio ao desenvolvimento econômico da região.

A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Lajeado, Giselda Rahn, destacou que a região vive uma situação de pleno emprego, mas com dificuldades de preenchimento de vagas. Para ela, o desafio atual é conciliar as necessidades do setor produtivo com as expectativas das novas gerações. “Nós temos uma região em pleno emprego. Falta mão de obra. Então, é um desafio e é uma oportunidade. Precisamos nos aproximar desses jovens, entender o que eles estão buscando, para conciliar com as nossas necessidades”, afirmou.

Além da questão da mão de obra, Giselda também chamou atenção para os custos logísticos, que afetam diretamente a competitividade do varejo. “A gente sabe o quanto isso impacta no preço do produto final”, disse, mencionando que o tema tem sido discutido com frequência entre as entidades locais.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Joni Zagonel, reforçou a crítica à ausência de planejamento de longo prazo por parte do poder público. Segundo ele, obras de infraestrutura estruturantes seguem pendentes há décadas. “O plano nacional de rodovias é de 1945. Desde aquela época temos rodovias que não foram executadas. Hoje estamos tentando entregar infraestrutura que dê conta de gargalos de congestionamento, de ponte faltante, de ferrovia que não temos”, apontou.

Zagonel também comentou a defasagem da legislação trabalhista como um obstáculo à retenção de talentos. Para ele, existe um descompasso entre o que os jovens desejam e o que as empresas conseguem oferecer dentro do marco legal atual. “Estamos numa região de pleno emprego que vem tendo dificuldades de contratar, de crescer por falta de pessoas, de reter talentos. Existe um desalinhamento grande na legislação trabalhista. A empresa pode oferecer, mas está presa a uma estrutura que não acompanha o presente.”

No setor de energia, o superintendente da Certel Energia, Ilvo Poersch, defendeu a ampliação das redes de transmissão e distribuição de energia como prioridade para garantir o abastecimento e permitir o crescimento industrial. “Temos desafios em estradas para trazer energia. A deficiência não é de produção, mas de transporte da energia do Norte e do Nordeste para cá”, afirmou. Ele também anunciou a construção de uma nova hidrelétrica em Bom Retiro, com capacidade para abastecer cerca de 100 mil pessoas da região.

Poersch comparou os gargalos da infraestrutura energética aos problemas de comunicação enfrentados no passado com a nota fiscal eletrônica. “Fizeram a lei, mas esqueceram que era preciso ter infraestrutura de comunicação. Levou 10, 15 anos”, relembrou, ao apontar que situações semelhantes ainda afetam o desenvolvimento local.

Angelo Fontana, presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), abordou os impactos das cheias recentes na economia regional e defendeu articulação conjunta entre os setores público e privado para a retomada. Ele citou a perda de população no estado como um dos efeitos colaterais da ausência de oportunidades. “De 2020 a 2022, perdemos 720 mil pessoas no Rio Grande do Sul. No mesmo período, Santa Catarina recebeu 1 milhão e 200 mil. Esse dado já diz que nós temos algo errado”, afirmou.

A ausência de transporte ferroviário eficiente foi outro ponto de preocupação. O dirigente alertou para o risco de desindustrialização, especialmente no setor de proteína animal. “Temos uma rota de trem de Cruz Alta a Rio Grande que anda a 16 km por hora. Uma pessoa a pé passa do lado. Isso é realidade”, observou. Ele também destacou que empresas multinacionais, ao contrário das cooperativas locais, podem se deslocar com rapidez para outros estados que ofereçam melhores condições.

As falas dos representantes empresariais convergiram na percepção de que o Vale do Taquari precisa de ações estruturantes em logística, energia e qualificação profissional para manter seu desenvolvimento econômico. A expectativa é que os diagnósticos apontados durante o evento contribuam para a formulação de políticas públicas e privadas que fortaleçam a capacidade competitiva da região nos próximos anos.