Um levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), com base nos números do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), indica uma recuperação do setor calçadista no âmbito nacional. Depois de fechar 2024 com a maior produção desde 2019, o último ano antes da pandemia da Covid-19, a indústria criou, entre janeiro e maio, 10,21 mil postos de trabalho, que culminaram em 292,41 mil pessoas empregadas na atividade — aumento de 1,9% em um ano.
Se o Rio Grande do Sul, por um lado, é líder na geração de empregos, com 82,3 mil trabalhadores e 1,38 mil postos entre janeiro e maio. Por outro, registrou uma queda de 2,9% no número de pessoas empregadas, em comparação com maio de 2024. A economista e coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, entende que este pode ser um reflexo do segundo semestre do ano passado, e que o Estado ainda passa por um processo de recuperação de mão de obra.
Segundo ela, a retomada em nível nacional foi puxada pelo calçado têxtil e pelo sintético. Já a indústria do calçado montado (o forte do RS) está levando um pouco mais de tempo para se reestabilizar integralmente. Ademais, a exportação teve uma queda expressiva entre 2023 e 2024. Priscila explica que “neste ano temos um impulso adicional via recuperação de exportações, e isso acaba beneficiando o Rio Grande do Sul, que é o principal exportador de calçados do Brasil”.
As fábricas gaúcha detêm cerca de metade dos valores comercializados para o exterior e, nos primeiros três meses deste ano, arrecadaram US$ 146,4 milhões, de acordo com o Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG).
A recuperação do setor de exportação após a pandemia, apesar da queda recente, também foi mais efetiva. A economista dá ênfase aos anos de 2021 e 2022, quando o Brasil encontrou menos concorrência pelo mercado internacional e, por consequência, o Rio Grande do Sul cresceu exponencialmente. “Houve um movimento contrário entre mercado interno e externo”.
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Priscila salienta que outros países estavam recompondo estoques por questões logísticas e até por conta de algumas políticas de contenção, como a “Covid-zero”, da China. A Ásia perdeu força momentaneamente e o mercado brasileiro aproveitou para estreitar as relações com Estados Unidos e países latino-americanos, ou seja, geograficamente próximos, detalha a coordenadora da Abicalçados.
“Porém, em 2023 e 2024, tivemos queda na exportação, justamente pela volta da Ásia e por várias questões de macroeconomia internacional, como juros elevados e contenção do consumo nos principais destinos do calçado gaúcho e brasileiro, principalmente nos Estados Unidos”, alerta. Ainda assim, o mercado estadunidense e o argentino puxam o movimento de recomposição do mercado externo e o Estado, sustentado por estes pólos, se isso perdurar, pode encerrar 2025 com um crescimento acima da média nacional no setor.
Sobre o quadro acumulado de geração de empregos entre janeiro e maio, apesar da liderança gaúcha, a Região Sul fica na segunda posição, atrás do Nordeste. São 93.011 cargos ocupados no RS e 129.879 em solo nordestino, com um aumento de 5,3% em relação a maio do ano passado.