Apesar do setor do biodiesel ter comemorado a recente confirmação do aumento da adição do biodiesel na fórmula do óleo diesel (de 14% para 15%, o chamado B15), o segmento no Rio Grande do Sul ainda tem desafios a superar. Uma prova disso é que o Estado, que já foi o maior produtor desse biocombustível no País, foi ultrapassado por Mato Grosso, salienta o presidente da Be8 (uma das principais empresas do País nesse campo), Erasmo Carlos Battistella.
A diferença entre os estados, por enquanto, é pequena. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os mato-grossenses tiveram uma produção de 1,956 milhão de metros cúbicos de biodiesel no ano passado e os gaúchos registraram um volume de 1,952 milhão de metros cúbicos. Battistella argumenta que entre as dificuldades enfrentadas pelo Rio Grande do Sul estão as estiagens que várias vezes impactam a safra agrícola local e as limitações de infraestrutura.
O executivo recorda que a Be8 fazia o uso da ferrovia para movimentar biodiesel a partir da sua fábrica em Passo Fundo para outros estados. Porém, desde as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado, o Estado perdeu sua conexão férrea com as outras regiões nacionais a partir desse modal. Conforme Battistella, essa situação representa um custo logístico extra para a Be8 na ordem de R$ 7 milhões por ano.
Esse é um dos motivos que explica, afirma o dirigente, porque a Be8 não tem hoje projetos de expansão na área de biodiesel no Estado. No entanto, no segmento de etanol, em que a companhia possui um projeto sendo desenvolvido em Passo Fundo que absorverá cerca de R$ 1,5 bilhão em investimentos, ele frisa que é uma situação diferente.
Nesse caso, Battistella lembra que o Rio Grande do Sul é ‘importador’ desse biocombustível, apresentando um excelente potencial de mercado local. A nova fábrica, que terá capacidade para produzir até 210 milhões de litros ao ano de álcool (anidro ou hidratado), deverá ser concluída até o final de 2026.
Sobre a decisão do governo federal de aumentar a mistura de biodiesel, o presidente da Be8 considera que seja uma ação que coloca em dia o cronograma do programa estipulado, que já deveria ter sido atendido. Ele admite que o incremento da mistura do biodiesel no diesel, que começa a vigorar em 1º de agosto, também leva em conta as atuais turbulências internacionais que podem afetar o mercado global do petróleo.
Contudo, ele crê que o plano de crescimento do biocombustível irá ser mantido a longo prazo, com a previsão de chegar B25 (25% de adição) em dez anos. No momento, Battistella informa que a indústria nacional de biodiesel já teria condições para atender ao B18. O dirigente sustenta que o biodiesel não pode ser comparado com o diesel fóssil apenas pelo fator custo.
Ele ressalta que o biocombustível representa uma descarbonização de 90% em relação ao outro combustível, assim como implica menos emissões de gases que provocam o efeito estufa. Além disso, ele cita que movimenta a economia interna, gerando emprego e renda.
Nesta quarta-feira (2), o presidente da Be8 palestrou na reunião-almoço Tá na Mesa, promovida pela Federasul, falando do tema “Transição energética: Desafio ou Oportunidades?”. Battistella ressalta que a transição energética também é um assunto geopolítico, ou seja, uma ótima solução para o Brasil não necessariamente será a melhor para outras nações.
Ele cita o caso de Porto Alegre que está investindo em ônibus elétricos como medida de descarbonização. Battistella indaga se não seria o caso de avaliar a opção dos biocombustíveis em vez da eletricidade, já que os veículos elétricos e suas partes têm muito da sua origem no exterior. "Por que não olhar para a economia circular do Estado?", sugere o empresário. O presidente da Be8 enfatiza que os biocombustíveis são uma resposta imediata, que conta com o apoio do setor de agronegócios.