Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 25 de Junho de 2025 às 18:56

Bradesco projeta desaceleração na economia no segundo semestre

O economista alertou para a necessidade de um debate responsável sobre as contas públicas nas eleições de 2026

O economista alertou para a necessidade de um debate responsável sobre as contas públicas nas eleições de 2026

Julio Soares/Divulgação/JC
Compartilhe:
Roberto Hunoff
Roberto Hunoff Jornalista
de Caxias do Sul
de Caxias do Sul
A economia brasileira deve passar por um período de desaceleração nos próximos meses como decorrência da manutenção, em níveis elevados, da taxa de juros Selic. Um provável início de recuperação é projetado para a segunda metade de 2016 desde que o governo federal cumpra com as metas do arcabouço fiscal. O cenário foi exposto ontem pelo economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, durante palestra no primeiro dia do CIC Connection, realizado em Caxias do Sul pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços. A programação segue hoje, a partir das 14h, no UCS Teatro.

O economista lembrou que o juro real, com taxa Selic de 15%, é o mais alto desde 2006 e muito restritivo. "Isto é fruto dos desequilíbrios da política brasileira com as contas públicas, da falta de sintonia entre política fiscal e monetária. Sempre que o juro sobe, o varejo é um dos primeiros segmentos a perder tração", afirmou. Ainda mencionou que 60% das empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores informaram que não conseguem rentabilizar a operação para pagar os juros. "É uma situação muito complicada para as empresas", reforçou.

De acordo com Barbosa, o Brasil ganhou uma ajuda circunstancial de 12 a 18 meses com a guerra comercial empreendida pelos Estados Unidos. Explicou que o dólar mais fraco em relação às demais moedas favorece o real, cotado atualmente na casa de R$ 5,70. "Não fossem as nossas confusões do final de 2024, a cotação seria entre R$ 4,75 a R$ 5, acompanhando a realidade dos demais países", registrou.

Destacou que o real valorizado reduz a pressão inflacionária externa, com efeitos posteriores na taxa Selic. Como consequência, também deve cair a dívida pública do governo federal, que deve ficar, no final de 2026, em 86% do PIB, abaixo da estimativa inicial de 90%. "O mundo deu uma mãozinha para o Brasil nessa direção para os próximos meses, empurra o problema mais para a frente. Mas 2027 terá de ser um ano de ajustes duros", avaliou.

Barbosa entende que a sociedade, representada pelo Congresso Nacional, deixou recado claro de que chega do modelo atual que só eleva impostos. Reconheceu que a postura dos congressistas também tem relação com a questão das emendas, mas enfatizou que existe um certo consenso de que a situação atual precisa ser equacionada. "Se este debate representar o cansaço e o incômodo da população com juros altos, despesas públicas elevadas e inflação acima da meta, poderemos esperar uma situação melhor a partir de 2027", frisou.

Agricultura, pecuária, transportes, infraestrutura, tecnologia, mineração, petróleo e automotivo são apontados como setores com maior potencial de crescimento. Enfatizou a importância do agronegócio, que irá gerar, em 2025, renda de R$ 1,5 trilhão. Para o economista, a economia tem surpreendido nos últimos cinco anos, com destaque para a taxa de desemprego de 6,3%, a menor em 15 anos e resultado de políticas de governos anteriores, além do crescimento da formalização. Ainda citou a massa de renda ampliada com alta de 4% acima da inflação no ano, decorrência do consumo.
• LEIA TAMBÉM: CIC Connection debaterá economia e as novas realidades empresariais

Para Barbosa, o Brasil não deve ter problemas graves em função do ambiente global de incertezas sem precedentes desde a 2ª Guerra Mundial. Avalia que as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos devem favorecer o país, especialmente com mais embarques para a China, que também adotou uma política de incentivo ao consumo interno, o que trará a necessidade de compra de mais alimentos. "A China importa do Brasil três vezes mais do que os Estados Unidos. Só em alimentos são US$ 42 bilhões", registrou.

O economista também não vislumbra possíveis problemas com os conflitos entre Israel e Irã. Destacou a matriz energética diversificada que o Brasil detém, além de ser o quinto maior produtor mundial de petróleo. "O governo arrecada mais quando o petróleo sobe", ressaltou.

Notícias relacionadas