Num cenário que precede a COP30, evento que acontece em novembro deste ano em Belém, no Pará, o Instituto Latino Americano de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Ilades) promoveu, na manhã desta quinta-feira (8), na Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, mais uma edição do Diálogos Sustentáveis. O encontro debateu o protagonismo da indústria na transição energética e a adaptação da descarbonização da economia.
O presidente e um dos fundadores do Ilades, Marcino Fernandes Rodrigues Jr, foi responsável pela mediação do evento, que contou com a presença de Arthur Lemos, secretário-chefe da Casa Civil do RS, Joarez José Piccinini, diretor de Relações Internacionais da Randoncorp e Presidente do Conselho do Banco Randon, e Marcos Cantarino, gerente de Relações Institucionais da Gerdau.
Durante o evento, o secretário-chefe da Casa Civil ressaltou o impacto que as enchentes de 2024 tiveram no planejamento ambiental estadual. "Foi preciso refazer o nosso plano de governo, o plano com o qual nos elegemos, e criar um plano de estado, que requer uma mudança de cultura. Um plano de longo prazo que irá durar uma década, perpassar por governos", expôs.
Lemos lembrou das últimas missões do governo gaúcho para Holanda e Japão, como exemplo de que grandes estruturas de prevenção e contenção de cheias não são criadas da noite para o dia. "Lá nós vimos que eles demoraram 10, 12 anos para efetivamente instalar sistemas de proteção. Hoje, com certeza enfrentaríamos uma tragédia como aquela de forma melhor, diferente de como enfrentamos ano passado, mas todos os novos sistemas de alertas, radares e implementações feitas precisam de tempo, teremos pelo menos mais uma década para concluirmos esses planos efetivamente", explicou.
Entre as estratégias do governo do RS, o chefe da Casa Civil ressaltou a criação do Plano de Desenvolvimento Econômico, Inclusivo e Sustentável, que busca analisar oportunidades ambientais do Estado e seu posicionamento em termos de resiliência climática. O plano também prevê maior investimento em produtos de transição energética, como energias renováveis e hidrogênio verde, mas ele ressalta que "um só energético não é capaz de oferecer sustentabilidade. É preciso um equilíbrio entre as energias, produtos, cooperação e eficiência", além de pontuar a importância de o poder público atuar ativamente em participação com o privado.
Do ponto de vista do setor privado, Marcos Cantarino destacou a atuação da Gerdau na transição energética. De acordo com ele, enquanto as indústrias de aço mundiais produzem, em média, 70% do seu aço por meio de rotas integradas e 30% de rotas elétricas, a Gerdau faz o exato oposto, utilizando a sucata na maior parte da sua produção. "Nós também emitimos 50% menos CO2 do que a média mundial do setor do aço. Ainda temos bastante esforço, investimento e tecnologia nesse sentido, mas com certeza estamos no caminho", destacou.
Cantarino ressalta que a Gerdau é a maior recicladora de sucata ferrosa da América Latina, reciclando mais de 11 milhões de toneladas por ano. Ele comenta ainda que a empresa tem realizado cada vez mais investimentos na área da energia renovável. "Precisamos de bastante energia, e de energia de qualidade, energia limpa para produzir o nosso aço. Acabamos de investir R$ 400 milhões em mais duas pequenas centrais elétricas que geram energia limpa", comenta.
Já o diretor de Relações Internacionais da Randoncorp, Joarez José Piccini, destacou alguns objetivos da empresa a médio e longo prazo. Ainda neste ano, a Randon pretende zerar a disposição de resíduos em aterros industriais, e Piccini garante que a meta está sendo atingida. Nos próximos cinco anos, o objetivo é reduzir em 40% a emissão de gases de efeito estufa gerados pela empresa.
Um dos maiores desafios, segundo Piccini, é mitigar os efeitos da emissão de gases no setor do transporte. "É um desafio de todas as empresas do mundo atualmente. Nós ainda não vemos como uma realidade a utilização de carretas elétricas em rotas longas, mas vemos acontecer uma combinação de híbridos, seguimos pesquisando por soluções. O hidrogênio é algo fantástico, mas também pode ser uma bomba se mal usado. Ainda estamos longe de utilizar hidrogênio em combustível e em veículos, mas o processo dessa mudança é continuo, nada muda significativamente da noite para o dia", afirma.