A chamada pública conjunta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para apoiar a construção de biorrefinarias no Brasil recebeu 76 propostas, cujos empreendimentos, todos saindo do papel, significariam um potencial de investimento de R$ 167 bilhões. Uma dessas iniciativas fica em Rio Grande e é conduzida pela Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR), que pretende implementar uma unidade de produção de Combustível de Aviação Sustentável (SAF) e de diesel verde (feito a partir de matéria orgânica).
“A gente enxerga no Bndes claramente o potencial de um grande parceiro para o financiamento desse projeto”, frisa o diretor superintendente da Refinaria Riograndense, Felipe Jorge. Por enquanto, a refinaria aguarda uma definição de quais ações continuarão sendo levadas adiante pelo banco e pela a Finep.
O executivo ressalta que é um processo em andamento e até o final deste ano deve haver uma pré-seleção de propostas, avançando as tratativas durante 2025. “Mas, as expectativas são muito boas. O projeto da Riograndense é bastante robusto e acreditamos que seja um empreendimento com nível de financiabilidade elevado”, reforça Jorge.
De acordo com o edital, serão disponibilizados R$ 6 bilhões em recursos para iniciativas dessa natureza no País, sendo R$ 3 bilhões do Bndes e R$ 3 bilhões da Finep. Uma das vantagens da refinaria gaúcha, aponta o diretor superintendente, é já ter escolhido a tecnologia para seguir com o complexo. A companhia recentemente divulgou que firmou acordo com a empresa dinamarquesa Topsoe quanto ao licenciamento da tecnologia para desenvolver a fabricação do SAF e do diesel verde.
A opção, argumenta Jorge, reitera a seriedade e o comprometimento com o empreendimento. Com o projeto avançando e ganhando maturidade, ele calcula que os acionistas da refinaria deverão proferir a decisão final da confirmação ou não do investimento para a construção da estrutura em meados do próximo ano. O aporte para a produção do SAF e do diesel verde é estimado atualmente em cerca de US$ 900 milhões e o complexo terá capacidade para 800 mil toneladas ao ano (sendo flexível, podendo fabricar um ou outro dos combustíveis).
Se tudo transcorrer satisfatoriamente, o SAF e o diesel verde poderão ser gerados no Estado já em 2028. Antes disso, em 2025 e com tecnologia da Petrobras (uma das sócias da RPR, juntamente com Grupo Ultra e Braskem), a refinaria gaúcha pretende fabricar outros produtos com insumos sustentáveis como BioGLP, nafta aromática e combustíveis marítimos. A empresa já fez experiências com o óleo de soja como matéria-prima para a substituição de fontes fósseis.
Jorge enfatiza que a ideia é remodelar o negócio da companhia para estabelecê-la como a primeira biorrefinaria brasileira, com um portfólio completo de itens renováveis. Ele destaca que a transição energética é um caminho sem volta e assinala que os combustíveis fósseis vão continuar sendo importantes, por muitos anos, contudo é preciso dar os primeiros passos em direção a uma matriz energética mais limpa.
A Refinaria de Petróleo Riograndense, antigamente chamada de refinaria Ipiranga, iniciou suas operações em 1937. Atualmente, a companhia tem como principal atividade a produção e comercialização de derivados de petróleo, especialmente gasolina, óleo diesel, nafta petroquímica, óleo combustível, GLP (gás de cozinha), além de outros derivados. Seu mercado de atuação concentra-se na região Sul do Brasil, fundamentalmente no Rio Grande do Sul. A planta tem capacidade de processamento instalada de 17 mil barris de petróleo ao dia.