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Publicada em 14 de Março de 2024 às 14:46

Itajaí vira maior economia de Santa Catarina, mas vive dilema com porto

Movimentação de contêineres despencou nos últimos dois anos

Movimentação de contêineres despencou nos últimos dois anos

PORTO DE ITAJAÍ/DIVULGAÇÃO/JC
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Impulsionada por seu porto e pelos milionários empreendimentos imobiliários tendo a praia Brava como cartão-postal, Itajaí desbancou Joinville e virou a maior economia de Santa Catarina e a terceira do Sul do País, atrás apenas de Curitiba e Porto Alegre. A cidade, no entanto, vive incertezas sobre o desempenho futuro justamente devido ao porto, com parte das operações paradas há mais de um ano.
Impulsionada por seu porto e pelos milionários empreendimentos imobiliários tendo a praia Brava como cartão-postal, Itajaí desbancou Joinville e virou a maior economia de Santa Catarina e a terceira do Sul do País, atrás apenas de Curitiba e Porto Alegre. A cidade, no entanto, vive incertezas sobre o desempenho futuro justamente devido ao porto, com parte das operações paradas há mais de um ano.
Os edifícios não são gigantescos como os da vizinha Balneário Camboriú, mas seus apartamentos na região da praia e em bairros como o Fazenda também chegam a custar R$ 50 milhões. Em 2023, foram negociados na cidade cerca de R$ 3 bilhões em 3.300 imóveis, segundo o Sinduscon (sindicato das indústrias) da Foz do Rio Itajaí, que inclui Navegantes, Penha e Balneário Piçarras.
De 131 empreendimentos lançados em Itajaí, 70 (ou 53,4%) tinham unidades com preço a partir de R$ 1 milhão, segundo dados da consultoria Brain. Em 23 deles (17,6%), o preço inicial era de R$ 3 milhões.
O que diferencia a cidade da badalada vizinha é que os imóveis atingem um público de primeira moradia -não de veraneio -, há limitação na altura de edifícios e Itajaí atraiu condomínios logísticos devido ao porto. As construções não podem ter mais de 105m de altura (cerca de 35 andares), conforme o Plano Diretor, e, na praia Brava, o limite é de cinco pavimentos. Em Balneário, ao contrário, há torres de até 290 m de altura.
"Há a pecha de cidade portuária não ser tão atrativa, mas ela se tornou não só a maior economia do estado como, ao contrário do entorno, as pessoas a escolhem como local de primeira moradia. De cada 10 que compram um imóvel na cidade, 3 são de fora", afirmou o engenheiro Fábio Inthurn, presidente do Sinduscon e CEO da Lotisa.
Itajaí virou a maior economia de Santa Catarina ao atingir um PIB de R$ 47,7 bilhões, segundo o IBGE. O crescimento em um ano - os dados são referentes a 2021 - foi de 44%. Joinville, com R$ 45 bilhões, supera de longe a capital do estado, Florianópolis, terceira (R$ 23,5 bilhões). Quando se analisa o PIB per capita, a diferença é ainda maior: R$ 210,7 mil em Itajaí, enquanto Joinville alcança R$ 74,5 mil e Florianópolis, R$ 45,6 mil.
Entre fevereiro de 2023 e janeiro deste ano, a cidade teve valorização imobiliária de 12,53%, segundo o índice FipeZap, ante a média de 5,19% de 50 cidades monitoradas. Entre as não capitais, fica atrás apenas de Itapema (+19,42%), São José (+19,35%), ambas em Santa Catarina, e Vila Velha (ES), com 14,21% de valorização. Supera Joinville (+10,26%) e Balneário Camboriú (+9,46%).
Já o preço médio do metro quadrado foi de R$ 10.624, atrás de Itapema (R$ 12.660) e Balneário (R$ 12.822), mas há incorporadoras investindo em projetos milionários, com apartamentos de R$ 20 milhões fora da praia Brava, algo que não se imaginava há alguns anos.
Para o economista-chefe da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Pablo Bittencourt, Itajaí soube aproveitar uma política adotada pelo estado desde meados da década de 2000 com a redução de impostos para importação. "Muitas empresas começaram a colocar seus centros de distribuição em Santa Catarina e preferiram a região de Itajaí por causa do porto."
O setor logístico existente na cidade e que atua no comércio exterior fez com que ela liderasse, em 2023, o ranking de importações no País, com US$ 13 bilhões (cerca de R$ 65 bilhões). Além disso, empresas exportadoras se instalaram na cidade, o que gerou disputa por espaço e a valorização imobiliária atual, que superou 70% nos últimos quatro anos.

O porto e o futuro

Empresários, exportadores e o setor público afirmam que Itajaí diversificou sua economia e não é mais dependente exclusivamente do porto, porém admitem que a paralisação na principal atividade do local gera incertezas para os próximos anos.
O porto teve um revés quando terminou o contrato de arrendamento com a APM Terminals, que pertence ao grupo Maersk, em dezembro de 2022. Desde então, dois dos quatro berços de atracação deixaram de movimentar contêineres. O porto seguiu com operações de navios para transporte de veículos, celulose, cargas em geral e turismo.
Um contêiner pode gerar na cadeia logística R$ 1.800, segundo Egidio Antônio Martorano, presidente da câmara de transporte e logística da Fiesc.
Depois de atingir o pico em 2020, com 545.338 contêineres, o total caiu a 350.083 em 2022 e quase zerou no ano passado, com apenas 334, segundo dados do porto. Isso mostra a dimensão do impacto que a paralisação parcial já provocou na economia local.
Martorano afirmou que a mudança no governo federal, ano passado, provocou alteração no modelo de negócio do porto, o que contribuiu para atrasar a definição. "Houve um projeto de concessão, do qual a Fiesc participou, que previa a autoridade portuária privada. Com a mudança do governo, resolveu-se não ser privado e manter a autoridade portuária pública [...] Houve um período de transição a meu ver mal conduzido", afirmou.
O secretário do Desenvolvimento Econômico de Itajaí, Thiago Morastoni, admitiu que há possibilidade de a cidade perder o posto de maior economia do estado com essa indefinição no porto, mas que é difícil mensurar o real impacto. "Nossa operação principal em Itajaí é a atividade portuária, mas ela não foi a única. Aí vem exatamente o ponto que nos fez crescer tanto. A gente fortaleceu essa que era a nossa principal atividade, mas ampliamos as matrizes econômicas. O porto continua sendo importantíssimo para Itajaí, mas ele já não é mais a única força motriz da economia", disse.
Não seria a primeira vez que poderia ocorrer uma inversão de posições no PIB. Em 2014, Itajaí passou a liderar o ranking estadual (com dados de 2012), mas voltou a ser superada por Joinville no ano seguinte.
Segundo a Superintendência do Porto de Itajaí, foi assinado um contrato com uma empresa com prazo de dois anos, que pode ser renovado por igual período, para a retomada das operações. A previsão é que o primeiro navio atraque em maio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é aguardado por políticos locais para o ato, e espera-se que ele anuncie um edital para o arrendamento por um prazo de 35 anos, considerado ideal para que haja investimentos robustos no local. "O peso do porto é fundamental. A gente celebra o resultado [do PIB], mas com preocupação, pois é reflexo de 2021 e o porto estava operando", disse Rodrigo Viti, diretor comercial do Grupo Allog, que tem sede em Itajaí, onde emprega mais de 200 pessoas, e atua principalmente no comércio marítimo.

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