O crescimento do mercado nacional de carros elétricos deve ocorrer nos próximos anos amparado no segmento de veículos comerciais leves (usados em movimentação de cargas e serviços de logística urbana), frotas de empresas e aplicativos de transporte, como a Uber e a 99. A projeção é do CEO e fundador da startup brasileira Mobilis Veículos Elétricos, Mahatma Marostica, que justifica a sua opinião ao ressaltar que se trata de um ativo mais caro que um similar que usa combustível fóssil, porém o custo operacional do elétrico é muito menor.
Ele detalha que, além do valor da energia elétrica ser competitivo em relação aos derivados de petróleo, o modelo de combustão convencional emprega cerca de 5 mil peças, contra em torno de 600 de seu concorrente. “Os números podem variar, mas é sete a oito vezes menos peças em um sistema de tração elétrica”, aponta o CEO da Mobilis Veículos Elétricos. Essa composição gera economia na manutenção dos carros.
Outro ponto que impulsionará esse mercado, comenta Marostica, é o comprometimento das empresas com as práticas de ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance), que observam no veículo elétrico uma forma de reduzir os impactos ambientais. O executivo palestrou sobre eletromobilidade na tarde desta terça-feira (21), no prédio Centenário da Escola de Engenharia da Ufrgs, em Porto Alegre.
Na ocasião, ele advertiu que, enquanto nações europeias estão com planos avançados para substituição dos carros a combustíveis fósseis, o Brasil pode ser o destino dos produtos tradicionais das montadoras mundiais, no curto prazo. Contudo, Marostica reitera que a mobilidade elétrica é um caminho sem volta, inclusive no País, mesmo que ocorra com algum atraso. Conforme dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), nos primeiros oito meses de 2023, o mercado de veículos eletrificados leves no Brasil emplacou 49.052 unidades, um crescimento de 76%, na comparação com o mesmo período de 2022 (27.812) e praticamente o total de todo o ano passado (49.245).
Quanto a essa perspectiva de inserção dos elétricos no mercado dos carros à combustão, Marostica frisa que a tecnologia avança e também fica obsoleta. Ele recorda que o próprio motor a combustão, há aproximadamente cem anos, foi visto como uma solução sustentável já que possibilitava a retirada das charretes das ruas, o que eliminava os dejetos deixados pelos cavalos que puxavam as antigas charretes e poupava esses animais do árduo esforço.
Apesar de ser o CEO de uma empresa nacional, Marostica critica a recente decisão do governo brasileiro de onerar a importação de carros elétricos a partir de 2024 (imposto progressivo, iniciando em 10% e chegando a 35% em 2026). “No global, a melhor forma de ter coisa boa aqui (Brasil) é ter competidores bons”, afirma. Além disso, ele acrescenta que a reforma tributária está beneficiando novamente os veículos à combustão (a proposta incluiu motores dessa categoria com incentivos fiscais).
Sobre a destinação das baterias elétricas pós-uso, Marostica explica que quando o equipamento chega a cerca de 80% da sua capacidade (por exemplo, se antes fazia 100 quilômetros e passa a render apenas 80 quilômetros) ele já não faz tanto sentido para seu aproveitamento como uma solução de mobilidade. No entanto, o item ainda pode ser utilizado de forma estacionária como no armazenamento de energia gerada por sistemas solares fotovoltaicos, tendo uma segunda vida útil. É também possível reciclá-lo, se o processo for feito de forma eficiente, caso contrário poderá não ser economicamente viável.