Apesar do Rio Grande do Sul contar com um enorme potencial logístico por meio da sua malha hidroviária, com mais de 754 quilômetros de vias navegáveis, o Estado ainda carece de uma estrutura para formar e qualificar a mão de obra para trabalhar nesse segmento. Uma ação para mudar esse cenário é a instalação na capital gaúcha de uma escola de fluviários (profissionais que atuam em embarcações de transporte de passageiros e cargas em rios e lagoas). Essa ideia, conforme o diretor-presidente da Associação Hidrovias do Rio Grande do Sul (Hidrovias RS), Wilen Manteli, está em análise na Marinha.
O dirigente comenta que a proposta é construir uma base em Porto Alegre para receber os interessados nos cursos. Para preparar essa estrutura, a estimativa é que seria necessário um investimento de cerca de R$ 11,6 milhões. “Vai desde a função mais simples dentro da embarcação até a mais complexa, passa pelo cozinheiro até o comandante”, descreve o diretor-presidente da Hidrovias RS.
As aulas, detalha Manteli, duram em torno de três meses e os participantes terão custo zero, já que os recursos serão provenientes do Fundo de Desenvolvimento do Profissional Marítimo (FDEPM). Os alunos terão que apresentar alguns pré-requisitos como ter nacionalidade brasileira, idade acima de 18 anos e não ter condenações legais.
Atualmente, quem quer seguir essa carreira tem que fazer a sua profissionalização em locais como o Rio de Janeiro (RJ) e Belém (PA). O integrante da Hidrovias RS enfatiza que as empresas de navegação interior do Rio Grande do Sul arcam com os custos de enviar pessoas para outras regiões do País para se qualificarem e, muitas vezes, as companhias desses lugares acabam contratando esses trabalhadores.
Em média, Manteli diz que, ao fazer o curso de fluviário, o profissional se habilita a ganhar, pelo menos, em torno de R$ 3 mil mensais, podendo aumentar o valor de acordo com a função. Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Marítimos e Fluviais do Estado do Rio Grande do Sul (Sinflumar), Valdez Francisco de Oliveira, reconhece a necessidade de uma escola local para os fluviários. No entanto, ele alerta que hoje há funções em que se verifica excesso de mão de obra porque, segundo o sindicalista, as empresas estão reduzindo postos de trabalho para diminuir custos. Um exemplo citado é o cargo de marinheiro de máquinas (que cuida dos motores das embarcações). “Tem que distribuir os profissionais em cada setor de sua competência e não ficar desviando e acumulando funções para economizar salário”, defende Oliveira.
O dirigente calcula que, no momento, há entre 800 a 900 trabalhadores atuando nas hidrovias gaúchas. O representante do Sinflumar considera que uma razão que faz com que esse número não seja maior é o fato que o modal hidroviário não tem crescido a grandes percentuais. Por sua vez, o presidente do Sindicato dos Armadores de Navegação Interior dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul (Sindarsul), Werner Barreiro, considera como muito importante a implantação de uma escola de fluviários em Porto Alegre. Ele salienta que a formação desse setor, em âmbito regional, se limita ao básico. “E precisamos de qualificação”, afirma o dirigente. Barreiro acrescenta que é preciso alguns profissionais específicos para determinadas atividades, como o trabalho em navios-tanque que transportam cargas perigosas.