Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

MERCADO FINANCEIRO

- Publicada em 09 de Novembro de 2023 às 20:03

Desafios para os fundos multimercados em debate

Executivos da Quantitas e Seival debateram a categoria de ativos em painel do Fórum Econômico RS

Executivos da Quantitas e Seival debateram a categoria de ativos em painel do Fórum Econômico RS


EVANDRO OLIVEIRA
O fundo multimercado foi o tema central de um dos painéis do Fórum Econômico, que trouxe como palestrantes para esse assunto Rogério Braga, sócio e gestor dos multimercados da Quantitas, e Carlos Chaves, co-fundador da Seival Investimentos. Na ocasião, ambos compartilharam suas experiências como gestores, abordaram o perfil do investidor brasileiro, apontaram tendências e fizeram uma análise da conjuntura econômica atual do Brasil e do mundo.
O fundo multimercado foi o tema central de um dos painéis do Fórum Econômico, que trouxe como palestrantes para esse assunto Rogério Braga, sócio e gestor dos multimercados da Quantitas, e Carlos Chaves, co-fundador da Seival Investimentos. Na ocasião, ambos compartilharam suas experiências como gestores, abordaram o perfil do investidor brasileiro, apontaram tendências e fizeram uma análise da conjuntura econômica atual do Brasil e do mundo.
Os fundos multimercados são caracterizados por alocar o capital dos seus cotistas em diferentes ativos, incluindo tanto renda variável quanto renda fixa. O ano de 2023 tem sido desafiador para essa categoria. A captação líquida acumulada da classe até setembro e em 12 meses aparece negativa em R$ 57 bilhões e R$ 68 bilhões, respectivamente, de acordo com o boletim mais recente divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados (Anbima).
O Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), indicador de referência dos fundos multimercados da associação, acumula alta próxima de 5% neste ano, bem abaixo do CDI, índice de referência dos investimentos em geral, que avançou aproximadamente 10% nesse período.
Conforme Braga, o volume de resgates observado este ano está diretamente relacionado ao cenário de juros mais altos presente no mundo todo. "A taxa de juros básica norte-americana está entre 5,25% a 5,50% ao ano e a do Brasil, que chegou a 13,75%, ainda está em um patamar muito alto", comenta.
Ele explica que, mesmo após os sucessivos cortes da Selic a partir de agosto, a taxa básica de juros do País (hoje em 12,25%) quando confrontada com uma projeção de inflação de aproximadamente 4,5% para este ano, faz com que a taxa de juros real acima da inflação seja muito atrativa. "Portanto, vejo como natural esse fluxo de saída", complementa.

• LEIA MAIS: Desaceleração populacional compromete desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul

O gestor dos multimercados da Quantitas pondera que, ao abrir mão desses produtos neste momento, o investidor perde a chance de obter bons resultados "quando essa taxa de desconto começar a fazer uma inflexão, que é o que já começamos a ver na margem em alguns países em desenvolvimento".

No Brasil, a captação líquida acumulada da classe até setembro e em 12 meses aparece negativa em R$ 57 bilhões na renda variável e em R$ 68 bilhões na renda fixa, indicaram gestores

No Brasil, a captação líquida acumulada da classe até setembro e em 12 meses aparece negativa em R$ 57 bilhões na renda variável e em R$ 68 bilhões na renda fixa, indicaram gestores


EVANDRO OLIVEIRA/jc
Já Braga chama atenção para alguns comportamentos habituais dos investidores brasileiros que podem explicar esse fluxo de saída nos multimercados. "A maioria quer um ganho garantido com um pouquinho de suspense, principalmente o brasileiro, que têm a cultura de uma renda fixa 'sempre gorda'. Se buscar um fundo de longo prazo, é natural que haja volatilidade. Então, acredito que há um componente educacional que deveria ser observado", analisa.

Para o co-fundador da Seival, é preciso ter bastante cuidado com estratégias de market timing por vezes adotada por investidores, que consistem na constante busca de prever os movimentos do mercado e obter lucro a partir dessa avaliação. "É preciso entender quando utilizar ou não, além de estudar a correlação e a estratégia de outras classes de ativos de sua carteira para não ficar mudando toda hora de posição", explica. "Isso está cada vez mais difícil porque hoje há o telefone, o fornecedor digital, o amigo que fica toda hora nos instigando a navegar e tomar uma decisão no ruído, nos gerando ansiedade e jogando uma falsa ideia de que temos a capacidade de prever algo quando não temos", completa. Para Braga, o mais importante é olhar para janelas longas, de pelo menos três anos ou, idealmente, de cinco a sete anos.

Cenário fiscal segue preocupando

No encontro, os palestrantes foram convidados também a analisar como observam a conjuntura econômica brasileira e quais os efeitos dela no mercado. O sócio e gestor dos multimercados da Quantitas observa que houve alguns avanços nos últimos anos, mas avalia que o País ainda não atacou os problemas estruturais vigentes, que são o desequilíbrio fiscal e a ineficiência da máquina pública. "Fizemos algumas reformas importantes, como a da Previdência e a lei que deu independência ao Banco Central. Foi aprovado também um arcabouço (fiscal) que não é o ideal, aliás, o mercado não acredita que vamos cumprir a meta de déficit zero, mas é melhor ter esse arcabouço do que não ter nada", disse, reforçando que a estrutura pública segue agindo de modo a sufocar o setor privado. Já o co-fundador da Seival Investimentos é mais incisivo ao apontar que o Brasil seguirá com dificuldades se não resolver o seu problema fiscal. "Qualquer família, empresa ou país não pode gastar mais do que arrecada. Então, enquanto não mexermos nisso drasticamente, vamos ficar boiando", afirma. 

Quem são as gestoras

Fundada em 2011 em Porto Alegre, a Quantitas é uma gestora cuja maior parcela de seus recursos é de multimercados. Atualmente, possui sob gestão cerca de R$ 6 bilhões e conta com mais de 30 mil investidores. Seus produtos estão presentes em praticamente todas plataformas de investimentos do Brasil, mas podem ser encontrados também via family offices e Fund of Funds (instituição ou organização que investe em nome de um grupo de interessados) e distribuição direta. Também da Capital, a Seival é uma gestora de recursos independente fundada no ano de 2007 e que opera em quatro classes de ativos globais: moedas, taxas de juros, índice de ações e commodities, utilizando contratos futuros. Para isso, utiliza-se da estratégia Trend Following (modelos identificadores de tendência) 100% mecânico, com o objetivo de proporcionar aos seus investidores valorização do capital no longo prazo.