Porto Alegre, tarde de sábado. A lona do Circo Mirage mal respirava entre uma apresentação e outra, enquanto o público deixava a arquibancada com olhos brilhando e o cheiro de pipoca ainda no ar. Mas o espetáculo que acontece longe do picadeiro talvez seja ainda mais encantador. Nos bastidores desse universo mágico pulsa uma comunidade nômade e viva, onde cotidiano e show se entrelaçam a cada passo.
Instalado na Avenida Padre Cacique, 1359, em Porto Alegre, o Circo Mirage está em temporada na capital, com sessões de terça a domingo, em diferentes horários. Sob o comando de Marcos Frota, a companhia une tradição e inovação para oferecer um espetáculo inspirado nos shows de cassino de Las Vegas, voltado para toda a família. Acrobacias, dança, números cômicos e manobras radicais se revezam no picadeiro, atraindo centenas de espectadores a cada apresentação. A estrutura impressiona: são 2 mil toneladas de equipamentos, painel de LED em alta definição, climatização e infraestrutura comparável à dos grandes circos internacionais. Considerado um dos maiores da América Latina, o Circo Mirage segue atraindo o público porto-alegrense — e ainda sem data para ir embora.
No pátio do circo, entre caminhões, cordas e postes de luz, surgem os trailers que funcionam como casas sobre rodas. É ali que os artistas vivem com suas famílias, animais, roupas estendidas ao sol e um tempo que corre em outro compasso. As crianças brincam por ali, já imitando os pais: uma salta no ar, outra pedala entre fios, rampas e refletores.
Suelen, esposa e companheira de estrada do piloto Rodrigo, conta que seus dois filhos, de 7 e 12 anos, já se adaptaram ao ritmo nômade da vida circense. A administração do circo avisa com antecedência qual será a próxima cidade, e a equipe se encarrega de mapear as escolas para garantir a continuidade dos estudos. “O mais difícil é quando eles criam laços e precisam se despedir de uma nova amizade”, diz ela. “Mas a cada mudança vem também a animação pela próxima aventura — e, no fim das contas, o entusiasmo costuma ser maior que a saudade.”
À sombra da lona, entre uma apresentação e outra, bailarinos descansam com os pés descalços, alongam os corpos enquanto conversam e retocam a maquiagem. Trapezistas e contorcionistas cruzam os corredores com agitação e foco: sobem ao palco, voltam aos camarins, aquecem com disciplina. A cena é contínua, como uma coreografia que nunca para.
Todos contam que o ritmo acelerado do circo já é parte natural da vida. Muitos descobriram sua arte ainda na infância, outros cresceram nesse meio, herdeiros de uma longa linhagem de artistas. Alguns sentem falta da casa da família, mas os 15 dias entre uma cidade e outra costumam ser suficientes para reencontrar pessoas queridas e respirar fora da estrada. Há também quem leve a família na viagem, acomodando-se em trailers ou hotéis pelo caminho.
Fernando Fernandes, mais conhecido como palhaço Potato — aquele que faz as crianças gargalharem em todas as entradas —, descansa em silêncio nos bastidores, com uma serenidade que contrasta com a persona cômica que assume no palco.
“Viver no circo é um privilégio, porque aqui é onde as pessoas vêm para se divertir, é um lugar mágico. Faço parte da quarta geração circense na minha família. Minha mãe foi quem mais me incentivou a ser palhaço — acho que ela enxergou esse dom em mim, de levar alegria às pessoas.”
Nos fins de semana, o Circo Mirage realiza até quatro apresentações por dia. O tempo entre uma e outra é mínimo: é nesse intervalo que a mágica é retocada, figurinos são costurados às pressas, e um novo penteado ganha forma.
No fim da tarde, o céu alaranjado cobre a lona do Mirage. A última sessão do dia, dizem os artistas, é sempre a mais desafiadora.
Enquanto o picadeiro segue iluminado, o pátio do circo pulsa como uma pequena cidade em movimento — onde se vive, se trabalha e se cria. Ainda sem data para se despedir da capital, o Circo Mirage permanece como um ponto de encontro entre sonho e realidade.
Serviço:
Onde: Avenida Padre Cacique, 1359 – Estacionamento do Gigantinho, em Porto Alegre
Quando: Temporada em cartaz – apresentações de terça a sexta às 20 horas e sábados e domingos às 14h30, 17h e 19h30
Ingressos:
Setor lateral: a partir de R$ 30 (meia)
Setor central: a partir de R$ 40 (meia)
Setor VIP: a partir de R$ 60 (meia)
Crianças de até 2 anos não pagam
Vendas online: www.circomirage.com.br
Estrutura com acessibilidade e climatização