Se a maçã é mitologicamente um fruto proibido, o caju, um pseudofruto brasileiro, é verdadeiramente suculento, múltiplo e abundante. E foi sob um caju espelhado, festeiro, livre de qualquer pecado, que a cantora Liniker eletrizou o público porto-alegrense em um show de aproximadamente duas horas no Araújo Vianna, nesta terça-feira (21).
Artista original, Liniker trouxe um setlist repleto de faixas do seu novo álbum, Caju, no qual mostrou toda a sua versatilidade ao misturar gêneros que vão do R&B ao pagode, envolvendo o público em um puro suco de entrega, sensualidade, afirmação, potência e paixão. Puro suco de caju. A primeira música, que carrega o mesmo nome da fruta e do álbum, recebeu do público apaixonado o que ela pede: “amor correspondente para testemunhar”. E testemunhou. Um público que ficou de pé, dançou e cantou do início ao fim do espetáculo, demonstrando completa admiração pela cantora.
Recusando o ditado de que o melhor sempre fica para o final, na sequência vieram Tudo, Ao Seu Lado e Veludo Marrom — sucessos aclamados pelo público, que marcaram o fechamento do Ato 1: o sol inteiro. Tudo, aliás, foi cantada em coro, como em um louvor ou um lavar de alma, celebrando o amor em seu sentido mais amplo e a entrega ao sentimento, seja pelos momentos que deram certo ou pelos que não deram. “Que seja, amar além da conta, o que a gente precisa é aprender a sonhar”, cantou.
Como se a performance e a potência do show dispensassem muitas palavras, Liniker interagiu pouco com o público gaúcho, mas o incluiu nas músicas, pedindo que fossem backing vocals ou até exigindo silêncio, “o barulho mais difícil de se fazer”.
Recusando o ditado de que o melhor sempre fica para o final, na sequência vieram Tudo, Ao Seu Lado e Veludo Marrom — sucessos aclamados pelo público, que marcaram o fechamento do Ato 1: o sol inteiro. Tudo, aliás, foi cantada em coro, como em um louvor ou um lavar de alma, celebrando o amor em seu sentido mais amplo e a entrega ao sentimento, seja pelos momentos que deram certo ou pelos que não deram. “Que seja, amar além da conta, o que a gente precisa é aprender a sonhar”, cantou.
Como se a performance e a potência do show dispensassem muitas palavras, Liniker interagiu pouco com o público gaúcho, mas o incluiu nas músicas, pedindo que fossem backing vocals ou até exigindo silêncio, “o barulho mais difícil de se fazer”.
As canções Negona dos Olhos Terríveis, Mayonga, Papo de Edredom (uma das mais “suculentas” do álbum) e Me Ajude a Salvar os Domingos iluminaram o Ato 2: O alter ego. Cada ato era marcado pela troca de figurinos, que incluíam muito brilho, cores tropicais e até um toque colegial, com uma saia de pregas. São muitos os muitos significados da expressão alter ego — personagens fictícios, outras personalidades ou alguém tão próximo que poderia ser o “outro eu” de alguém —, e Liniker os encarnou a todos em cena: Poderia ser uma sereia caminhando a pé, uma rezadeira na janela, aquela pessoa que faz o domingo passar.
Em Me Ajude a Salvar os Domingos, a plateia, identificada com o sentimento universal que os domingos carregam, entoou com força: “Olhe nos olhos, vamos brindar o fim do dia, porque sem você, esse domingo não passa”.
Toda essa sensibilidade vai além dos seus versos. Está nos gestos. Quem estava localizado no lado direito do Araújo notou a troca frequente de tradutores da Língua Brasileira de Sinais (Libras) ao longo de todo o show. Assumidamente LGBTQ+, Liniker também empunhou duas bandeiras – uma da causa trans e a outra da diversidade — durante um momento simbólico do show.
Show da última terça-feira (21) teve inúmeros momentos de forte conexão emocional entre artista e público
Isabelle Rieger / Divulgação / JC
Do sol à celebração
No terceiro ato do espetáculo, chamado O Retrogosto, a paulista fez uma modesta retrospectiva de seu último álbum antes de Caju, o Índigo Borboleta Anil, lançado em 2021. A primeira faixa do ato foi Sem Nome, Mas Com Endereço. Um momento de pura delicadeza para o público, que ouviu e cantou a súplica romântica de Liniker nas estrofes “Me pega pela mão, te dou meu coração, deixo você entrar.”
A cantora acalentou, ainda, aqueles fãs que a acompanham desde o princípio com Psiu e Baby 95. Nessa última, houve o momento de maior interação da artista com a plateia. A música, que é um misto de R&B e pagode, foi cantada nas barreiras de proteção do palco, colada ao público. Neste momento não havia mais cadeiras marcadas no gargalo da plateia, apenas o frisson do público cantando em uníssono a cadência de “Me beija, seu balanço me suspende… tô derretendo na sua frente.”
A cantora acalentou, ainda, aqueles fãs que a acompanham desde o princípio com Psiu e Baby 95. Nessa última, houve o momento de maior interação da artista com a plateia. A música, que é um misto de R&B e pagode, foi cantada nas barreiras de proteção do palco, colada ao público. Neste momento não havia mais cadeiras marcadas no gargalo da plateia, apenas o frisson do público cantando em uníssono a cadência de “Me beija, seu balanço me suspende… tô derretendo na sua frente.”
Os amantes da época de Liniker e Os Caramelows foram presenteados com a faixa De Ontem, lançada em 2019. Ela encerrou o ato deixando o retrogosto na boca do público, mostrando que o porteiro citado na faixa não era o único íntimo da cantora naquele momento. Zero, outro grande sucesso dessa época, não entrou no setlist, deixando alguns fãs surpresos.
O ato final do show foi A Celebração, o mais extenso no número de músicas e mais intenso no ritmo. Canções como Popstar, em que ela afirma, impaciente, que todos merecem um amor, até uma popstar — deram o tom 'quase' confessional do bloco musical. A canção foi seguida pelo swing de Devotion, cover da banda Earth, Wind & Fire.
Febre, pagode da artista com Thiaguinho, foi outro momento aclamado pelo público. A faixa é um desabafo de amor por ligação telefônica, e foi o instante do show que o palco e a plateia entraram em total sintonia ao transformar aquela saudade daquele alguém em uma sensação coletiva: o calor da febre.
O ato final do show foi A Celebração, o mais extenso no número de músicas e mais intenso no ritmo. Canções como Popstar, em que ela afirma, impaciente, que todos merecem um amor, até uma popstar — deram o tom 'quase' confessional do bloco musical. A canção foi seguida pelo swing de Devotion, cover da banda Earth, Wind & Fire.
Febre, pagode da artista com Thiaguinho, foi outro momento aclamado pelo público. A faixa é um desabafo de amor por ligação telefônica, e foi o instante do show que o palco e a plateia entraram em total sintonia ao transformar aquela saudade daquele alguém em uma sensação coletiva: o calor da febre.
Na parte final do espetáculo, ela escolheu a vingativa Pote de Ouro e a balada Deixa Estar, um feat com Lulu Santos e Pabllo Vittar. Os artistas foram muito bem representados pela plateia, que cantou com ritmo os trechos de Vittar.
Liniker encerrou a primeira das duas noites em Porto Alegre com a mesma música que iniciou, mas de forma diferente, com ainda mais brilho. O público se despediu da artista com Caju Trop Version, um remix da canção-título feito pelo duo Tropkilaz, que mistura os vários ritmos do funk com referências à bateria eletrônica que originou o ritmo nos anos 1980. A falta de retorno no pedido do bis até deixou um gostinho de quero mais, mas dá para entender: a apresentação inteira foi um espetáculo.
A frase "Seu nome não é Caju à toa” era estampada no telão como um manifesto. E realmente, os quatro atos foram carregados de pseudos e personagens. Do sol à celebração, o público pôde acompanhar uma obra de arte sendo esculpida no palco do Araújo Vianna durante as duas noites alaranjadas dos dias 21 e 22 de janeiro. Seu nome é Caju, seu nome é Liniker.