Ator e músico gaúcho, Felipe Assis Brasil está entre os atuais nomes do teatro musical brasileiro. Parte significativa de sua formação como artista foram os dez anos que passou no Coro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), onde adquiriu técnica musical e experiência profissional. Passados seis anos de sua mudança para São Paulo para investir na carreira, o cantor retornou ao Estado como solista no espetáculo Clássicos da Broadway, promovido pela Ospa em novembro.
No currículo e repertório, Assis Brasil já passou pelas produções de O Fantasma da Ópera, Evita, Cinderella, Hadassa e Cabaret dos Bichos. Entusiasta do teatro musical, ele conversou com o Jornal do Comércio sobre suas experiências e o potencial do ramo no Rio Grande do Sul.
Jornal do Comércio - Como foi tomar a decisão de se mudar para São Paulo e seguir o sonho de trabalhar em musical?
Felipe Assis Brasil - Quando eu tinha 16 anos, escrevi uma cartinha para mim mesmo dizendo que o sonho da minha vida era fazer o Raoul, que é um mocinho do musical O Fantasma da Ópera. Teve uma produção aqui no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, que eu participei no papel do Fantasma. Era uma produção de uma escola, que apesar de ter gravação, figurino, pianista ao vivo, era super amadora. E quando abriu a audição para O Fantasma da Ópera em São Paulo, eu disse: "Acho que é agora ou nunca que eu vou tentar viver essa experiência, né?"
Eu não passei na audição de primeira, e depois de alguns meses, eles me ligaram e me chamaram para fazer parte do elenco. E aí, eu não pensei duas vezes. Eu já estava com 30 anos de idade e com a minha vida bastante consolidada em Porto Alegre; já tinha meu apartamento, meu carro, tinha um emprego bom, e estava tudo dando certo para mim. Mas disse: "Vou viver essa aventura... quando que eu vou viver isso de novo?". Então, me demiti dos meus empregos, vendi meu carro e, em uma, duas semanas, me mudei para São Paulo para começar a ensaiar. Em seis dias, fiz minha estreia na peça.
JC - O que tu acreditas que falta para incentivar mais projetos de teatro musical por aqui?
Assis Brasil - Em um dia, o concerto lotou para as duas sessões, mais de 2.200 lugares esgotaram. Isso é uma validação de que o mercado de teatro musical no Estado tem público; as pessoas gostam.
Hoje, para produzir um musical que já existe, tem que comprar direito autoral, tem que fazer uma captação via lei de incentivo, captar as taxas das empresas, que pagam impostos. Existe toda uma produção que no Rio Grande do Sul não acontece. Eu me pergunto porque que não tem gente produzindo grandes peças de teatro musical no Estado, se a gente tem bons teatros, bons atores, bons cantores. Além disso, nem todas as produções que estão no eixo Rio-São Paulo vêm para Porto Alegre.
É um gênero artístico que é super popular, conversa com as massas, emprega muita gente e traz retorno sobre investimento. A gente já sabe que o royalty de Cultura é bom. Então, gera um monte de empregos diretos e indiretos. Falta dar um pouco de importância para o nosso mercado. Faltam instituições que têm poder, grandes escolas e produtoras, "Ospa's" da vida, orquestras que resolvam investir, arriscar e propor projetos de teatro musical.
Acho que é dessas instituições, dos líderes, diretores artísticos, produtores, verem que ali tem um lugar que vai vender, vai gerar mídia, as pessoas compartilham. Porque mistura um pouco a atuação, o audiovisual, o sonho, a magia.
JC - Como foi retornar à Porto Alegre e apresentar o teu trabalho em casa?
Assis Brasil - Foi um sonho incrível. Eu amo Porto Alegre. Eu amo a Ospa. Eu amei esse projeto desde o início, quando me falaram sobre ele. Pra mim, foi uma honra incrível cantar para os meus amigos, para quem estudou comigo no colégio, para familiares, para colegas da arte, ex-colegas de trabalho, de outros ramos. Foi uma junção de muitas coisas que são especiais, todas em uma noite única.
JC - Como foram as tuas primeiras experiências com o ramo?
Assis Brasil - Com a Ospa, a gente fazia algumas óperas, alguns concertos com bailarinos, um pouco mais cênicos. Isso já me trouxe um pouco de perspectiva, ver pessoas cantando e atuando ao mesmo tempo, e me senti estimulado a tentar buscar isso também para mim.
Mas foi com uma produção (de um fã clube de Harry Potter) da montagem americana Very Potter Musical que eles abriram a audição e que eu pude viver o processo de ponta a ponta: me inscrever para um teste público, concorrer por um papel, fazer um processo de ensaio de construção de personagem. Claro, com todos os desafios da simplicidade de uma coisa que não era profissional.
JC - Tu tens algum conselho para os atores e músicos gaúchos interessados no ramo?
Assis Brasil - Trabalhar a sua arte, a sua interpretação da canção, a sua técnica, e estar pronto para usar este repertório de portfólio pessoal na hora de criar coisas. E não se prendam a um gênero só, se mantenham atualizados.