Experiência singular que mergulha o espectador em um universo criado a partir dos delírios imaginários do ator e diretor Luciano Wieser, o espetáculo A última invenção tem sessão única às 19h desta sexta-feira (29), no Teatro Oficina Olga Reverbel (Praça Marechal Deodoro, s/n). A montagem do grupo De pernas pro ar integra o 31° Festival Porto Alegre em Cena e é resultado de um projeto iniciado em 2021, com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural, que financiou a construção de dez máquinas de cena, que serviram como ponto de partida para a dramaturgia da montagem teatral. Os ingressos custam R$ 20,00 (meia-entrada) e R$ 40,00 (inteira) e estão à venda pelo site do Theatro São Pedro.
O grupo De pernas pro ar tem 36 anos de estrada, e ganhou destaque na cena brasileira ao apresentar um teatro de rua que mistura circo, artes visuais, música e animação, no qual os atores contracenam com maquinários e engenhocas diversas, bonecos manipuláveis e instrumentos musicais.
Construídas livremente a partir de objetos encontrados por Wieser em ferros velhos e briques, somados a outras "quinquilharias" doadas ao ator, as máquinas de cena de A última invenção ganham novas funcionalidades em relação à sua origem, formando imagens e situações cotidianas a partir da forma como são manipuladas. "Exploramos a mecânica do movimento, as interferências estéticas, a robótica e a animação digital através de controles e programação", explica o artista, que além de assinar a concepção e atuar, também dirige o espetáculo.
A trama retrata um homem de idade avançada que, sem memória, já não se reconhece. Em uma sala, ele se encontra em meio a invenções inusitadas que criou para sua velhice, que, quando animadas, lhe ajudam a relembrar sua vida ao mesmo tempo em que "deixam escapar vontades adormecidas". No decorrer do roteiro, o personagem expõe suas "obras", criando imagens amorosas e situações cotidianas improváveis. Assim, o velho mantém uma rotina que também traz algo a mais para a sua existência. "É por meio deste personagem, que não lembra mais das situações vividas, que a narrativa se constrói", destaca o ator e diretor. Em cena, além de interagir e provocar a cinesia de suas criações, ele também conta com a parceria do ator Tayhú Wieser, que responde pela animação das máquinas de cena com tecnologias digitais e robótica. "Isso não só traz um suspiro de vida para os objetos, como também carrega surpresas", revela.
Dentre as estranhezas que surgem na sala de invenções estão a Máquina de Sapateado, resultado da combinação de uma antiga máquina de costura com 20 moldes de sapateiro, que "dançam" uma valsa. Também tem o Dedalejo, uma engenhoca musical inspirada nos antigos realejos e caixinhas de música, que cria as linhas melódicas do espetáculo; o Vestido Dançante, que baila sozinho pelo ambiente; além de uma grande Asa que permeia a sala, entre outros. "Construímos todo um imaginário, para que as pessoas mergulhem nesse univrerso, e acessem suas próprias memória, refletindo sobre tudo o que a gente descarta, mas que segue tendo energia. Trata-se de transformar esses materiais brutos em poesia, fantasia, ilusão", comenta Wieser.
"Na história, é como se estes objetos, ora descartados, ainda tivessem o que falar: agora transformados, podem experimentar outras possibilidades longe da carga exaustiva de trabalho para o qual foram criados originalmente, se tornando guardiões das memórias do personagem", emenda o ator-criador. "Quando o velho inventor anima suas criações, cria uma ilusão de vida, um espaço imaginário, onde revive situações passadas, suscitando reflexões filosóficas sobre sua humanidade", completa.
Segundo o artista, as máquinas de cena acabam tendo "uma carga emocional" que dispara no público um sentimento peculiar. O espetáculo, que estreou durante a pandemia de Covid-19 em formato audiovisual, tem duração de 45 minutos. "Para nós, é muito legal levar a peça para Teatro Oficina Olga Reverbel, que dialoga bem com nossa estética; acho que vai ficar bem bonito ali", avalia o diretor. A equipe do espetáculo ainda conta com Raquel Durigon, que além de recepcionar o público na personagem de uma mestre de cerimônias, ainda assina os figurinos e a produção executiva; enquanto Jackson Zambelli e Sergio Olivê, estão à frente da música original; Isadora Fantini, na operação de luz e Gabriel Gonçalves na operação de som.