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Publicada em 31 de Outubro de 2024 às 15:32

Feira do Livro representa retomada do setor após enchentes, aponta Maximiliano Ledur

Ledur fala também sobre reveses durante planejamento do evento, ocasionados pelas enchentes de maio

Ledur fala também sobre reveses durante planejamento do evento, ocasionados pelas enchentes de maio

THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Thiago Müller
Thiago Müller Repórter
A tradicional Feira do Livro de Porto Alegre tem sua 70ª edição aberta a partir desta sexta-feira (1°), e dura até o dia 20, Dia da Consciência Negra, com curadoria dedicada ao tema. O evento, além de ser o ponto alto do setor livreiro, também representa a retomada econômica do segmento após as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio deste ano.
A tradicional Feira do Livro de Porto Alegre tem sua 70ª edição aberta a partir desta sexta-feira (1°), e dura até o dia 20, Dia da Consciência Negra, com curadoria dedicada ao tema. O evento, além de ser o ponto alto do setor livreiro, também representa a retomada econômica do segmento após as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio deste ano.
A Feira ocorre no mesmo local há setenta anos, a Praça da Alfândega, que também esteve submersa durante o período das cheias. O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, fala ao Jornal do Comércio sobre a importância da completude das sete décadas do evento para o segmento, e os reveses durante seu planejamento, ocasionados pelo desastre climático.
Jornal do Comércio - Terá alguma programação diferente para o ano em que a Feira completa 70 anos?
Maximiliano Ledur - Sim. Setenta anos não representam só uma feira ou um ano a mais. É toda uma história dentro do evento. Planejamos, além de um documentário sobre os 70 anos da Feira, um livro no formato de almanaque. Esse ano temos como novidade a curadoria da Lilian Rocha sobre a Literatura Negra. Isso também foi muito importante. Ela ter aceito o convite é um grande diferencial deste ano. Mas, fora às atividades que temos em todo ano, será mantido o mesmo modelo de feira. Por ser uma feira na rua e em praça pública, tem essa característica democrática, e isso não mudou. Trazemos, lógico, o debate para a Feira sempre, acerca da diversidade.
JC - Houve algum receio de que o evento não ocorresse, pela primeira vez em 70 anos, na Praça da Alfândega, considerando as enchentes de maio?
Ledur - Exatamente. Ficamos com esse medo. E constantemente vinham perguntas, até durante as enchentes, acerca do evento, porque planejamos com mais de um ano de antecedência. Eu já tenho eventos programados para a Feira do ano que vem. Trabalhamos um ano antes com essa expectativa de um grande evento, e então ocorreu essa tragédia no Rio Grande do Sul, que realmente não esperávamos. Ninguém esperava. E ficou essa grande dúvida. O que tínhamos certeza é que a Feira iria acontecer. Se não ocorresse nessa praça, iríamos ter que achar outra praça ou outra alternativa. Mas conseguimos retomar a praça de volta das águas, e vamos ter a Feira no lugar que ela deve ser.
JC - O quanto as enchentes impactaram no planejamento da Feira?
Ledur - Impactaram bastante. Tivemos de rever o cronograma porque muitas coisas conseguimos definir agora, a pouco tempo. O orçamento foi prejudicado. A decisão e a notícia de ter um aeroporto também foi dada faz pouco tempo. É lógico, fomos agraciados em termos o aeroporto, porque realmente isso faz muita diferença para o público que visita a Feira, inclusive para os autores que a gente traz de fora do Estado.
JC - Mencionaste que algumas coisas foram definidas agora e que impactaram o orçamento. Quais coisas e qual foi o impacto?
Ledur - A compra das passagens está sendo feita agora. Uma coisa é você comprar seis meses antes, outra coisa é você comprar um mês antes, ou quinze dias antes. Então, muitas passagens tivemos que comprar após a liberação das vendas pelas companhias aéreas. Isso foi o que mais impactou. Na decisão de trazer gente de fora também. Mas eu vejo dessa forma: tentamos tirar o melhor de tudo isso. Tiveram autores que falaram que viriam de qualquer jeito, mesmo antes de saber se iria ter avião ou não. Então, nesse sentido, a gente teve boas parcerias de autores também. 
JC - Chegaram a considerar que a Feira aconteceria somente com autores locais?
Ledur - Hoje, a maioria dos autores que visitam a Feira são gaúchos. Então, lógico, a gente pensou também em fazer uma feira só com autores que estão aqui no Rio Grande do Sul, que poderiam vir de alguma outra maneira, com certeza.
JC - E qual a expectativa para a feira, em projeção de público e volume de vendas?
Ledur - Estamos com expectativas muito positivas, de batermos recorde de público e de vendas. Não temos, hoje, uma contabilidade de público realizada pela Brigada Militar, então estimamos pelo menos um milhão e meio de pessoas circulando no período. Também porque esse ano serão 20 dias de evento, e normalmente são 17 ou 16. A gente estendeu até o dia 20 de novembro, que é o novo feriado que temos esse ano no Brasil, da consciência negra. E a principal notícia que temos recebido é da previsão do tempo: perspectivas de pouquíssima ou nenhuma chuva nesses período. Isso nos garante um público maior, pelo menos em comparação ao ano passado, que choveu antes e depois da Feira, e ainda teve a primeira tragédia em novembro. Então essa perspectiva de não ter chuva nos leva a crer que teremos um grande público, porque a programação também está sendo trabalhada para isso. São 70 anos de Feira, e esse fato chama mais atenção também. Já temos recorde de número de sessões de autógrafo, são mais de 700, e isso leva gente. Essas sessões são o encontro do autor com seu leitor, que, para mim, é o ápice da Feira. E com esse número de sessões, com mais de 2 mil autores vindo para o evento, é garantia de sucesso. Muita gente quer ver principalmente como tá a Feira, como tá o Centro. A gente está em um lugar que estava passando barco durante a tragédia.
JC - Muitos expositores foram afetados também. Qual importância da Feira, na sua opinião, para esses expositores afetados?
Ledur - É fundamental para retomada do mercado, para todos, mas principalmente para esses afetados diretamente. Temos empresas que vão começar a operar na Feira, e estão mandando imprimir os livros. Temos editoras e livrarias que passaram por isso e estão vendo seu estoque com novas consignações e novas compras de livros. Então, é fundamental. A Feira antes era dita como o 13° salário de todo o setor. Hoje, vai ser a salvação, ou o símbolo da retomada do setor livreiro gaúcho. O pessoal vende muito lá. O grande quesito também não é a questão das vendas, e sim de criarmos o hábito de leitura em todas as pessoas que visitam a Feira. Para mim, esse é o grande legado da Feira, para termos leitores por mais tempo e, consequentemente, o mercado sobreviver por mais tempo e se desenvolver com melhor qualidade.
JC - Quanto a esses livreiros, a Câmara do Livro, por sua vez, teve alguma ação focada neles?
Ledur - Diretamente não. Para alguns sim. Tivemos livreiros que não tinham nem como voltar a entrar nos estabelecimentos. Uma editora, por exemplo, não tinha recurso nem para tirar o lixo, porque virou um lodo dentro do depósito. Foram 10 mil livros atingidos. Então a câmara, através de seus recursos e campanha para arrecadação, foi lá, limpou o estabelecimento e ajudou a retirar isso da melhor forma. Foram dois casos dos 20 atingidos diretamente pelas enchentes. Então são certas ações. Junto aos órgãos estaduais, municipais e federais, também temos pleiteado linhas de crédito e outras ações para recuperação desse mercado. Tivemos alguns êxitos, a própria Lei Rouanet RS, que veio para todo o setor, mas foi pleiteada por vários segmentos da cultura do Estado. Os que pediram apoio, que foram apenas dois, tiveram custeio para limpeza do local. Algumas mensalidades foram isentadas, e foi isso. Tivemos que resgatar alguns que estavam em uma Feira de Livro no interior do Estado, porque passaram vários dias em que tiveram de ficar isolados. A câmara pagou o hotel para, se eu não me engano, nove ou onze associados, e pagamos a diária para eles ficarem mais tranquilos.

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