Ana Mondini, bailarina gaúcha que conquistou o mundo com sua dança, retornará aos palcos de sua terra natal após 28 anos vivendo fora do Brasil. Neste final de semana, sábado e domingo, o espetáculo Miêdka - Uma Metáfora do Encontro estará no palco do Teatro Oficina Olga Reverbel (Praça Mal. Deodoro, s/n), a partir das 19h. A gaúcha divide a cena com a paulista Claudia Palma, diretora do espetáculo, e o capixaba Armando Aurich. Os ingressos, ainda disponíveis, podem ser adquiridos através do site do Theatro São Pedro a partir de R$ 10,00 no valor inteiro e R$ 5,00 para quem tem direito a meia-entrada.
O trio, composto por artistas entre 60 e 70 anos, foi premiado com o APCA de Dança 2023 logo após as primeiras apresentações em São Paulo, que também simbolizaram o reencontro dos três intérpretes após muitos anos separados geograficamente. Miêdka é uma metáfora criada por Nastassja Martín, que relata em seu livro, Escute as Feras (2021), seu encontro com um urso - e a sua saída vitoriosa dele. Tal encontro, de acordo com a autora, não trata apenas dos limites físicos entre um humano e um bicho, mas é também o momento em que o mito encontra a realidade, a mentira se torna verdadeira e o corpo transcende em algo maior. Assim, Miêdka são as pessoas que foram marcadas por um urso e mesmo assim sobreviveram.
A peça de dança resgata memórias de experiências artísticas que atravessaram a década de 1980 e metade da de 1990 dos três artistas através de sensações, lembranças e afetos, e não pelo resgate das coreografias encenadas naquela época. Além do espetáculo, a passagem pela Capital conta com o bate-papo Dança e Etarismo - A Potência das Idades no sábado, logo após a apresentação, com o trio recebendo as artistas locais convidadas Eva Schul e Mônica Dantas.
Ana Mondini se sente em uma máquina do tempo ao retornar à cidade natal para dançar, principalmente com amigos tão queridos como Claudia e Armando. "São pessoas que eu admiro imensamente como artista, sempre admirei muito. Então é uma honra para mim que eles tenham me trazido pra cá para fazer parte desse trabalho".
A nostalgia do encontro ainda irá perdurar por alguns dias, pois a bailarina fará uma residência artística gratuita chamada Eu danço, Eu sou, realizada na segunda, terça e quarta, das 15h às 18h, em parceria com Claudia no Centro Cultural da Ufrgs (rua Eng. Luiz Englert, 333), para todos os interessados em movimento. A artista explica que a dança é muito mais do que movimentos e música, e pode servir como uma forma de medicina e cura, tanto para a alma quanto para a mente. "Eu só quero que as pessoas possam ser sinceras consigo mesmas (durante a residência) e entendam onde estão, quem são e para onde querem ir".
Alguns imaginam que, aos 70 anos, estarão velhos demais para praticar um esporte ou ter uma vida ativa. Que seus corpos não responderão mais aos estímulos criados pelo cérebro, e que as pernas e braços não terão mais a força de antes. Outros, como Ana, se sentirão leves, felizes e abençoados por ainda praticarem o que amam: a dança. Ela menciona que "quando a gente tem 20, a gente acha que pode conquistar tudo; com 30 você pensa que é preciso plantar uma semente que dê frutos; com 40 a semente já se tornou uma arvorezinha; com 50 você as frutas já deram flores e as raízes aprofundaram. E agora é só uma questão de fazer o caminho de volta". Porém, sua vontade não tem sido essa. "Meu corpo já não faz aquilo que fazia aos 20, aos 30, aos 40 e nem aos 50, mas a minha alma faz. E eu danço com a alma".
Em uma sociedade que só tende a envelhecer nos próximos anos, personagens como Ana Mondini são um pontinho de esperança em meio ao medo. A luta pelo etarismo, seja na dança ou em qualquer outro lugar, perdura. Mas a bailarina expressa seus sentimentos e joga a realidade na cara de quem pratica o preconceito, dizendo que "só tem (preconceito) quem não se conhece direito". Para os planos futuros, o combate ao etarismo se mantém presente nas entrelinhas da vida. "Eu estou muito mais interessada em que as pessoas, através do movimento, possam entrar em contato consigo mesmas e evoluírem, de modo a entender o seu lugar no mundo antes que seja tarde. E me sinto ansiosa para os 80".