Conhecido como o rapper favorito do seu rapper favorito, Don L carrega a bagagem de mais de 16 anos de carreira, além do peso de ter conseguido se impor no cenário musical centrado no eixo Rio-São Paulo. O artista cearense volta à Capital para mais um show no Opinião (rua José do Patrocínio, 834), nesta quinta-feira (14). O encontro com o público serve para revisar os trabalhos do cantor, com a inclusão de seus últimos dois singles, Lili e Tudo é pra sempre agora, além dos seus três álbuns e outros sucessos. A apresentação começa às 23h, e os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla, a partir de R$ 60,00.
O artista começou sua trajetória musical em 2004, com o grupo Costa a Costa, fundado em Fortaleza. Mas ele diz que começa a contar mesmo em 2006, quando começou a levar a sério e preparar a sua carreira solo. “Na época que eu comecei no rap era muito improvável que alguém de Fortaleza se tornasse um dos maiores do Brasil”, diz Don L, em entrevista ao Jornal do Comércio. Nos últimos anos, artistas de estados mais ao Norte ou Sul do país têm conseguido, aos poucos, relevância nacional. Como Matuê, também de Fortaleza e Zudizilla, de Pelotas.
“Eu não tive nenhum apoio, foi tudo muito lento. Por isso que demorou tanto e eu só fui lançar meu disco solo em 2013”, ressalta Gabriel Linhares da Rocha, o Don L. A energia do álbum de estreia, Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L, era depositar tudo que tinha a oferecer em 17 faixas. Foi o primeiro, mas poderia ser o último. O artista conta que conviveu com a insegurança na carreira por muitos anos, mas após o lançamento e repercussão do seu último álbum, Roteiro para Aïnouz (Vol. 2), acredita ter alcançado alguma consolidação. “A música ajuda a fazer sentido do mundo à tua volta, na experiência individual e particular de cada um”.
Com mais de 400.000 ouvintes mensais, Don diz que não faz seus sons para a atualidade, e a prova disso é que seu primeiro álbum é mais ouvido agora, uma década depois, do que no ano de lançamento. “Eu quero que minhas músicas sejam o espírito do tempo - e isso reflete o momento, mas também faz ter uma longevidade”. Ele ainda reflete que no seu último álbum, fez uma movimentação arriscada. Além de ser o primeiro disco que teve parceria com outro produtor, Nave, foi também onde mais investiu. “O tema também foi arriscado, falar de revolução, de assunto político. Precisei de coragem pra fazer”, enfatiza Don. Destemor que se encaixa com aquele que, segundo ele, sempre foi o lema para a produção de sua arte: “Tem uma coisa que eu queria que alguém estivesse fazendo, e não estão, então vai ter que ser eu mesmo”.
Ele tem como ídolos os integrantes da maior referência de rap do Brasil, Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock, que formam o Racionais MCs. Inclusive, para Don L, eles não são apenas o maior do país, mas do mundo, sem fazer nenhum tipo de recorte. Também escutou muito hip hop 'gringo', e quando começou a entender o inglês das letras, se decepcionou com várias. Mas de volta aos inúmeros artistas do país tropical, Don L gosta muito de Jorge Ben, Bezerra da Silva, Cartola, e outros. Além das suas referências, ele também tem seus colegas contemporâneos, com quem gostaria de colaborar, como João Gomes, Rico Dalasam, BK e Criolo.
“Associam meu rosto ao rap de mensagem, mas não é isso que eu faço, eu faço arte”, defende Don L. “O som te leva para outro lugar, rega a tua imaginação. Pode ser música de amor, ou para dançar, desde que tenha a vontade genuína de provocar algo novo.”
Para 2024, o principal plano é lançar o segundo volume do disco Caro Vapor, onze anos depois do primeiro. O trabalho deve ser disponibilizado nas plataformas até o final do primeiro semestre, e também ser promovido com novos shows. “Eu sempre acho que meu próximo trabalho vai ser meu melhor, então eu estou bem empolgado”, anima-se.