Morre aos 68 anos o cantor e compositor Bebeto Alves

O cantor e compositor Bebeto Alves morreu na madrugada desta segunda-feira (7) aos 68 anos de idade. Bebeto enfrentava um câncer de pulmão, agravado por uma embolia, e estava internado no hospital Dom Vicente Scherer, em Porto Alegre. As despedidas serão quarta-feira, a partir das 14h, no Crematório Metropolitano de Porto Alegre. Será esperada a chegada de uma das filhas dele, que mora na Coreia. 

Nascido na cidade de Uruguaiana, em 1954, deixa a esposa Simone Schlindwein, as filhas Mel Lisboa e Luna Lisboa Alves, o filho Kim Bins e os netos Clarice e Bernardo. Em agosto, ele sofreu um AVC e precisou ser hospitalizado na UTI da Santa Casa de Porto Alegre. Na época, ele se recuperou bem. “O Bebeto está melhor. Já conseguiu se alimentar, falar algumas palavras. Está tudo indo muito bem”, disse, na ocasião, a esposa.

A saúde do cantor, que morava em São Leopoldo, vinha apresentando problemas desde o ano passado, quando, em junho, o multiartista teve uma trombose pulmonar que o manteve internado. 

Considerado um dos nomes expoentes da Música Popular Gaúcha nos anos 1980, ele sempre buscou explorar canções típicas do Rio Grande do Sul, como ranchos, toadas e milongas. Surgiu como cantor e compositor na metade dos anos 1970, como integrante do Utopia, e participou da coletânea de artistas gaúchos Paralelo 30, lançado no ano de 1978. Seu primeiro disco solo, Bebeto Alves, é de 1981, seguido por Notícia Urgente. Entre seus maiores sucessos estão as músicas Quando Eu Chegar, Pegadas e Mais uma Canção.

Artista marcado pela inquietude criativa, Bebeto Alves lançou dezenas de discos, tanto em carreira solo quanto em projetos como OhBlackbagual e Los 3 Plantados - esse último, desenvolvido ao lado dos músicos King Jim e Jimi Joe, todos (como ele) receptores de doação de órgãos. Recentemente, Bebeto vinha se dedicando com maior afinco a seu trabalho como fotógrafo e artista visual - em projetos como, por exemplo, Linha de voo, ao lado de Antônio Augusto Bueno, e a exposição Nu, atualmente em cartaz no Sesc São Leopoldo.

Depois de décadas lançando álbuns sem parar, Bebeto Alves decidiu aposentar-se do formato disco, com dois lançamentos em 2020: Pela última vez, como OhBlackBagual, e Salvo, com gravações feitas na virada dos anos 1980. Dizia-se cansado do formato e querendo dar um ponto final à sua busca por uma música popular gaúcha, unindo regionalismo e contemporaneidade. Não resistiu muito tempo: no final de 2021, lançaria Contraluz, álbum que gravou sozinho em casa, em meio às restrições da pandemia de Covid-19. Marcando um recomeço, livre das amarras de uma busca musical que não mais o interessava, acabou sendo também o último lançamento da carreira do compositor.

Uma reportagem especial do Jornal do Comércio abordou sua trajetória musical. "Bebeto Alves surge da fronteira. Mais precisamente de Uruguaiana, cidade que é, em si mesma, uma janela entre mundos. Lá ele descobre sua potência de artista; em Porto Alegre, onde veio morar na adolescência, o possível se torna certeza. O criador define a si e a uma cidade que, na segunda metade dos anos 1970, ansiava por entender e cantar a si mesma. Curiosamente - mas, ao mesmo tempo, de forma profundamente coerente - aquele que talvez seja o grande marco deste período surge quando ele está em outro lugar, no Rio de Janeiro, buscando outros horizontes para a própria inquietude", dizia trecho do texto escrito por Igor Natusch.