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Teatro
Antônio Hohlfeldt

Antônio Hohlfeldt

Publicada em 23 de Janeiro de 2025 às 19:33

Balanço das artes no Rio Grande do Sul em 2024 - II

Paulo Cesar Peréio foi uma das perdas mais significativas para a cultura gaúcha em 2024

Paulo Cesar Peréio foi uma das perdas mais significativas para a cultura gaúcha em 2024

/JOBA MIGLIORIN/PRANA FILMES/DIVULGA??O/JC
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Antonio Hohlfeldt
O ano de 2024, para além de suas temporadas, de que vamos falar na semana vindoura, trouxe perdas de alguns grandes artistas, comemorações de carreiras importantes e anúncios que certamente vão interferir no panorama das artes cênicas da cidade nos próximos anos.
O ano de 2024, para além de suas temporadas, de que vamos falar na semana vindoura, trouxe perdas de alguns grandes artistas, comemorações de carreiras importantes e anúncios que certamente vão interferir no panorama das artes cênicas da cidade nos próximos anos.
Janeiro começou com a tristeza da perda do diretor de teatro Jairo Andrade, idealizador do Teatro de Arena de Porto Alegre, que, durante os anos mais difíceis da ditadura, soube se transformar num ponto de referência e de resistência. O Arena tanto realizou montagens importantes de autores brasileiros, como Álbum de família, de Nelson Rodrigues, quanto de dramaturgos estrangeiros, como Mockimpott, de Peter Weiss.
No mês de fevereiro também perdemos outro pioneiro do teatro, o bonequeiro Antonio Carlos Sena, criador, com sua mãe, do TIM - Teatro Infantil de Marionetes, mas cuja maior referência é o fato de ter sido o diretor que, pela primeira vez, montou um espetáculo do controvertido dramaturgo sul-rio-grandense do século XIX, Qorpo Santo, resultando numa revelação do que o crítico carioca Yan Michalski considerou como o criador do absurdo no teatro internacional. O TIM, por seu lado, completou seus 70 anos de existência e teve uma bela homenagem, com direito a exposição e espetáculos, nos espaços do Multipalco do Theatro São Pedro.
Em fevereiro também se comemorou a passagem dos dez anos da morte do Nico Nicolaievski que, junto a Hique Gomes, ocuparia, ao longo de décadas, o palco do Theatro São Pedro, sempre no período de verão, para as aventuras de seus personagens na Sbórnia. Aliás, nação que completou 40 anos de montagens, tendo gerado um filme de longa-metragem de animação, pelo menos dois documentários e uma série de outros espetáculos, a partir do momento em que, a Hique Gomes, juntaram-se Alvaro Rosacosta e Simone Rasslan.
Em maio, foi a vez de perdermos Paulo César Peréio, ator porto-alegrense, que desenvolveu carreira no centro do País, sobretudo no cinema e na televisão, mas que encarnou diversos personagens de Nelson Rodrigues. Em compensação, em julho, o Grupo Stravaganza - criado por Luiz Henrique Palese e Adriane Mottola, que toca, ainda hoje, a companhia - completou seus 36 anos de existência, o que, convenhamos, é uma façanha em Porto Alegre. Aliás, em agosto seria o momento de comemorar os 40 anos de carreira do ator André Damasceno, talvez um dos pioneiros do que hoje chamamos de stand up comedy na cidade.
Neste ano de 2024 também perdemos Iara Deodoro, talvez das primeiras artistas a valorizar e fazer respeitar a dança afro-brasileira, o que motivou uma homenagem especial quando da entrega dos prêmios Eva Sopher deste ano, no Theatro São Pedro. Em fevereiro deste ano, a coreógrafa Vera Bublitz completou 80 anos de vida e foi homenageada com um espetáculo, que ocorreu no Theatro São Pedro, reunindo uma variedade imensa de suas criações.
Na relação das perdes sofridas pelas artes cênicas ainda precisam ser registradas as mortes de Emiliano de Queiroz, ator de cinema e televisão, mas que se celebrizou dando vida e alma a personagens do dramaturgo Plínio Marcos, em especial o clássico Navalha na carne. No finalzinho do ano, também faleceu Ney Latorraca: embora talvez mais conhecido como ator de televisão, ou mesmo no cinema, a verdade é que seu maior sucesso aconteceu no teatro, com a primeira montagem de O mistério de Irma Vap, do inglês Charles Ludlam, em que contracenava com Marco Nanini, num espetáculo simplesmente alucinante.
Por fim, encerrando a lista dos que nos deixaram, deve-se registrar o produtor Orlando Miranda, diretor do Serviço Nacional de Teatro durante os anos mais pesados da ditadura, e em cuja administração ocorreu o episódio de premiação do texto Patética, obra de João Ribeiro Chaves Neto, cunhado de Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura. A peça, metaforicamente, se refere a este assassinato, tendo-se tornado referência mundial. Nestes dias em que o livro de Marcelo Paiva, Ainda estou aqui, transformado em filme, pode dar o Oscar pela primeira vez a uma atriz ou filme brasileiros, é importante lembrarmo-nos deste texto que teve a coragem de denunciar o crime logo depois dele ter sido perpetrado.
Por fim, tivemos os anúncios de reabertura do Teatro do Sesi, a reconstrução, em 2025, do simpático Teatro do Ipe e a entrega do complexo do Multipalco do Theatro São Pedro, com a inauguração, em março vindouro, do Teatro Simões Lopes Neto.
 

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