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Teatro
Antônio Hohlfeldt

Antônio Hohlfeldt

Publicada em 16 de Janeiro de 2025 às 19:58

Balanço das artes no Rio Grande do Sul em 2024 - Parte I

Casa de Cultura Mario Quintana foi uma das instituições do Estado que acabou tomada pelas águas que cobriram o Centro Histórico, após a enchente da primeira semana de maio

Casa de Cultura Mario Quintana foi uma das instituições do Estado que acabou tomada pelas águas que cobriram o Centro Histórico, após a enchente da primeira semana de maio

/Anselmo Cunha/AFP/JC
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Antonio Hohlfeldt
Um balanço do ano pode ser feito sob muitas perspectivas. Em geral, esta coluna faz um levantamento dos espetáculos apresentados na cidade, durante a temporada. Neste ano, contudo, prefiro trazer ao leitor uma primeira coluna que relembre acontecimentos importantes, bons ou maus, a começar, claro, pela enchente de maio e junho. O episódio, de certo modo, desestruturou toda a programação artística, aqui compreendida a das artes cênicas.
Um balanço do ano pode ser feito sob muitas perspectivas. Em geral, esta coluna faz um levantamento dos espetáculos apresentados na cidade, durante a temporada. Neste ano, contudo, prefiro trazer ao leitor uma primeira coluna que relembre acontecimentos importantes, bons ou maus, a começar, claro, pela enchente de maio e junho. O episódio, de certo modo, desestruturou toda a programação artística, aqui compreendida a das artes cênicas.
Tivemos uma série de espaços culturais invadidos pelas águas. Dentro da responsabilidade municipal, o Centro Municipal de Cultura, abandonado na gestão anterior de Nelson Marchezan, acabou definitivamente prejudicado com as águas que invadiram inclusive casas de máquinas daqueles dois teatros, o Renascença e o pequeno espaço de câmara ali existente.
Também a Usina do Gasômetro, que vive uma novela mexicana para a conclusão de suas obras, teve de ser refeita em muitos aspectos. E quando recebeu seu primeiro grande evento, a posse do próprio prefeito municipal, teve a energia cortada, por força de um temporal, em mais um episódio que envolve a incompetente e pouco responsável empresa que assumiu o fornecimento de energia elétrica em nossa Capital.
No âmbito dos espaços atinentes ao governo do Estado, a Casa de Cultura Mário Quintana foi fortemente danificada em toda a sua estrutura e, por consequência, em seus dois teatros, o Carlos Carvalho e o Bruno Kiefer. Uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura e do Banrisul, contudo, garantiu alguns milhões de reais que permitiram a recuperação de boa parte dos monumentos danificados pelas cheias, aí incluídos os teatros. Com isso, a CCMQ retomou com certa rapidez a sua programação.
O Theatro São Pedro, por estar localizado no alto de uma colina em que se concentram os prédios dos poderes públicos, foi poupado pela enchente, ainda que, para variar, a falta de energia elétrica tenha feito com que o terceiro subpiso do estacionamento tenho sido invadido por águas de esgotos que eram jogados a partir das redes pluviais. Felizmente, logo que a energia elétrica retornou - e isso foi relativamente rápido, porque envolvia o Palácio do Governo - o teatro acionou suas bombas e logo o espaço estava recuperado.
O velho Teatro do Ipê, situado próximo à Borges de Medeiros, ainda que sem estar funcionando há quase uma década, tinha a retomada de suas obras programada pela Sedac, o que acabou atrasando, mas não sendo abandonado. Assim, pretende-se que, ao longo de 2025, aquela simpática sala possa retornar às atividades.
O Teatro de Arena, pelo mesmo motivo de se situar na parte alta de cidade, foi poupado pelas chuvas e, neste caso, também pelos esgotos, o mesmo ocorrendo com o Teatro do CHC Santa Casa. Deste modo, a cidade ficou, num primeiro momento, apenas com dois espaços disponíveis, já que o Teatro de Arena já estava fechado para obras de recuperação. Sobrou-nos o espaço do Theatro São Pedro - e seu espaço mais jovem, o Teatro Olga Reverbel - e o da Santa Casa. Já no segundo semestre, as duas salas da CCMQ foram reabertas.
Evidentemente que o fechamento dos teatros não foi o único problema. Boa parte dos grupos artísticos da cidade foram afetados pela enchente, pois possuíam sedes em regiões cujas locações são mais baratas, e estas sofreram a invasão das águas. Seja como for, iniciativas da Assembleia Legislativa e do governo do Estado (este numa ação decisiva e efetivamente bastante influente), além de algumas ações do governo federal, através do Minc, buscaram dar apoio para que tais agrupamentos retomassem suas atividades. O resultado foi uma série de festivais promovidos sobretudo no Theatro São Pedro, garantindo, ao público, espetáculos gratuitos e, aos grupos, cachês de valores bastante superiores aos comumente praticados no mercado.
Por fim, o fluxo de espetáculos do centro do País sofreu um prejuízo significativo, sobretudo com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho. Só nos últimos meses do ano, algumas companhias ousaram viajar para o Sul, assim mesmo enfrentando dificuldades de patrocínio e apenas quando o aeroporto começou a funcionar com maior regularidade, pois os custos de locomoção e transporte de cenários se mostraram extremamente onerados.
Em resumo, foi uma temporada muito difícil, mas onde um sentimento de cooperativismo e de vontade de voltar a fazer comandou os esforços de todos, resultando, ao final de contas, numa agenda que, sobretudo no segundo semestre, foi bastante dinâmica.
 

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