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Bruna Suptitz

Bruna Suptitz

Publicada em 19 de Março de 2024 às 17:30

O que significa dizer que Porto Alegre recicla 2,1% de lixo seco

Lixo seco que é depositado nos contêineres não irá para a reciclagem

Lixo seco que é depositado nos contêineres não irá para a reciclagem

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Dizer que o índice de reciclagem em Porto Alegre é de apenas 3,2% - sendo 2,1% de resíduo (lixo) seco e 1,1% das podas de árvores feitas pela prefeitura - não é equivalente a dizer que apenas isso se recicla na cidade. Muito do material descartado na Capital gaúcha não entra na conta dos resíduos sólidos urbanos (RSU) recolhidos pela prefeitura.
Por exemplo, o que é recolhido por catadores de rua e o que é destinado por empresas ou grandes condomínios diretamente para recicladoras, sejam resíduos secos ou orgânicos, não depende do gerenciamento do poder público para acontecer. Portanto não entra no cálculo e não se sabe exatamente o quanto se recicla por meio deste tipo de coleta.
Então, o que significa dizer que Porto Alegre recicla 2,1% do lixo seco e 3,2% no total?
"Quando se fala de indicadores é importante sempre se fazer essa pergunta: o que está por trás? O indicador é uma fórmula matemática de cálculo. Tem que ser calculável e comparável", pondera o engenheiro civil Geraldo Antônio Reichert, do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) de Porto Alegre.
Os dados mais recentes sobre reciclagem na Capital correspondem ao ano de 2021 e constam no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), documento de 2013 que projeta essa política pública para as duas décadas seguintes (até 2033) e foi atualizado em 2023.
Reichert integra a equipe técnica do plano e explica que o cálculo considera o total do que é recolhido pelo poder público municipal, diretamente ou por meio de terceirizadas, dos resíduos sólidos urbanos.
Entram na conta os resíduos da coleta seletiva de recicláveis secos, da coleta seletiva de orgânicos (resíduos das podas de árvores), e a coleta de mistos (orgânico rejeito), seja convencional (porta a porta), nos contêineres, na limpeza urbana ou nos focos de lixo (descarte irregular). A soma destes materiais resulta no total recolhido. Descontado o que vai para o aterro sanitário (mistos), se chega ao índice de reciclagem da cidade.
Na coleta seletiva, o lixo seco é recolhido pelos garis da Cootravipa, entregue às cooperativas de catadores e separado por tipo de material. Uma parte do que chega aos galpões não pode ser aproveitado, e volta para o cálculo como rejeito. No final, esta etapa atinge o índice de reciclagem de 2,1%.
Já a coleta seletiva de orgânicos inclui somente os resíduos arbóreos das podas de árvores feitas pela própria prefeitura. Esse índice é de 1,1% e a reciclagem se dá por meio da compostagem, que é a transformação da matéria orgânica em adubo.
A soma do percentual de resíduo seco que é recuperado pelas cooperativas e do resíduo que vira adubo resulta no índice de reciclagem de 3,2% em Porto Alegre.
Em peso, a massa total de resíduos sólidos urbanos coletados na cidade em 2021 foi, em média, 1.619 toneladas por dia (t/d). Disso, 47,4 t/d eram da coleta seletiva de recicláveis secos, sendo que 34,2 t/d foram de fato encaminhadas à reciclagem - a diferença era rejeito misturado com o lixo seco. Resíduos arbóreos somaram 17,4 t/d.
A soma da coleta mista e do rejeito misturado com o lixo seco é de 1.567,5 toneladas por dia e foi para o aterro sanitário. Ou seja, 96,8% do que foi recolhido pela prefeitura de Porto Alegre em 2021 não teve qualquer aproveitamento por reciclagem ou compostagem, mas gerou custo com a coleta, o transporte e o aterro.

O que pode ser feito para melhorar os dados

Índices da reciclagem em Porto Alegre

Índices da reciclagem em Porto Alegre

Reprodução/JC
Em 2022 o DMLU realizou uma estimativa sobre a composição dos resíduos sólidos urbanos de Porto Alegre que são enviados para o aterro. A conclusão é que 31,2% do que é descartado na coleta de mistos corresponde a materiais recicláveis. Isso acontece quando não há separação na origem, onde o lixo é gerado.
É comum ver lixo seco dentro de contêineres onde deveria ser depositado somente orgânico e rejeito. O mesmo acontece nos dias da coleta de mistos, que não inclui os recicláveis. Nestes casos, o material que poderia ser reciclado não é triado e acaba no aterro.
Mudar este cenário depende principalmente de educação ambiental que tenha como foco a separação correta dos resíduos na origem (nas casas e nos locais de trabalho, por exemplo). A isso se soma o papel do poder público de aprimorar o sistema de coleta e destinar para a reciclagem também as sobras de alimentos – a estimativa é que, em Porto Alegre, resíduos orgânicos representam 39,7% do que vai para o aterro.
Constam no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos metas relacionadas à melhoria dos índices de reciclagem, como ampliar a rede de entrega voluntária de resíduos, também conhecidas como unidades de destino certo, e implantar programas de compostagem caseira e comunitária dos orgânicos.
Estas, combinadas a outras medidas, são necessárias e urgentes para ampliar a reciclagem em Porto Alegre.
 

Cooperativas buscam revisão do contrato

No Brasil, a gestão dos resíduos sólidos (lixo) é responsabilidade do ente público municipal. E a lei federal que trata do tema prevê que os materiais tenham a melhor destinação ambiental possível. Uma forma de garantir isso é por meio da reciclagem.
O trabalho delegado aos catadores de separar os materiais que podem ser reciclados e encaminhá-los para a indústria da transformação é o modelo adotado pelo município de Porto Alegre para atender o que é exigido pela lei.
Esse é o pano de fundo da reivindicação da categoria de revisão do contrato firmado com o poder público, que hoje prevê somente o pagamento de um valor para a manutenção dos galpões, mas não remunera os catadores, como acontece em outros contratos. Com a renda atrelada à venda do material, em muitos casos não se chega a um salário mínimo.
A remuneração pelo serviço prestado foi tema de uma reunião de mediação entre catadores de cooperativas de Porto Alegre e a prefeitura da Capital no dia 12 de março no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região.
A proposta de um novo contrato foi apresentada pela categoria e aguarda retorno do poder público. O tema voltará a ser tratado em reunião no dia 9 de abril.

Reciclagem inclusiva

Esta série de reportagens é realizada com apoio da Bolsa de Produção Jornalística sobre Reciclagem Inclusiva 2023, concedida pela Fundação Gabo em parceria com a plataforma Latitud R.
Conteúdos - Série Caminhos da Reciclagem
14/02 - Cooperativas de catadores garantem reciclagem de resíduos
06/03 - Catadores só recebem pela venda do resíduo
20/03 - Os índices de reciclagem e os desafios em Porto Alegre
Próxima reportagem, dia 03/04 - O que é a "coleta solidária" proposta por catadores

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