Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora
Opinião Econômica

Publicada em 15 de Janeiro de 2025 às 19:24

Quão altos estão os juros reais?

Compartilhe:
Folhapress
Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães
As taxas de juros estão muito altas e aumentaram muito recentemente. Um título de dez anos do Tesouro Nacional atrelado ao IPCA paga juros de cerca de 7,5% além da inflação do período. Quão altas são essas taxas na comparação histórica?
O gráfico acima mostra as taxas de juros reais por dez anos dadas pelos títulos atrelados ao IPCA desde 2005. Em geral, não há títulos vencendo exatamente em dez anos, então é preciso calcular, a partir dos preços dos títulos existentes, a taxa anual nos anos futuros dada por esses títulos. Assim, obtemos os juros que seriam pagos por um título de dez anos.
O quadro mostra que as taxas de juros reais dos títulos públicos são as maiores dos últimos 15 anos. Nesse período, só tivemos juros reais acima de 7% ao ano no segundo governo de Dilma Rousseff. Naquela época, porém, vivíamos uma profunda recessão, e o BC havia perdido credibilidade.
O que precisamos fazer para conseguir juros baixos?
O cenário externo afeta nossos juros. Juros internacionais caíram muito em 2011, de modo que em 2012 títulos americanos indexados à inflação pagavam taxas de juros reais negativas. Hoje, títulos de dez anos pagam quase 2% ao ano.
Essa é, porém, uma parte pequena da explicação pelos nossos juros altos. No último ano, não houve mudança significativa nos juros reais nos EUA.
No gráfico, dois episódios de juro real baixo se destacam.
Em 2011, tivemos uma mudança na condução de política monetária que levou a juros baixos a curto prazo. Isso explica parte da queda dos juros em 2011 e 2012 (o cenário externo também colaborou). Contudo, os juros baixos geraram inflação alta, e o BC perdeu credibilidade. Não foi um caso de sucesso.
Em 2018, tivemos outra queda grande na taxa real de juros, mas o caminho foi diferente. Ao assumir a Presidência, ao final de 2016, Michel Temer mudou o comando do BC e do BNDES. O BC adotou uma política austera, de juros altos, e o BNDES cortou o crédito subsidiado. Em 2018, os juros reais começaram a cair -mesmo com os juros americanos no nível mais alto desde 2011. A trajetória de queda continuaria em 2019, aí sim com ajuda da redução dos juros nos EUA. Chegamos a ter juros reais de 3% ao ano.
A recente disparada nos juros se deu pela percepção de que o acerto das contas públicas não virá. A preocupação com os rumos da dívida eleva o risco de financiamento inflacionário e afasta investimentos.
A inflação passou da meta, e o novo presidente do BC não pode pôr em risco sua credibilidade, então, prepare o seu coração, mais aumentos na Selic virão.
Mudança nas expectativas e nos juros longos agora depende de surpresas na área fiscal. Política macroeconômica responsável teria evitado esses juros altos. Recuperar a fé na economia vai dar trabalho.
Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

Notícias relacionadas